Não tenho estrutura psicológica para me separar. O que faço?

por Anette Lewin

“Quero me separar, mas na hora de tomar a decisão, não tenho coragem. Sinto-me sem estrutura psicológica. Vivo triste, tenho dois filhos e trabalho. Preciso de ajuda!”

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Resposta: Talvez você esteja se sentindo triste mas … sem estrutura psicológica? Uma mulher que trabalha, tem rendimentos próprios, mãe de dois filhos questionando sua estrutura psicológica?  Bem, vamos refletir um pouco sobre esse sentimento.

Terminar um casamento nunca é fácil. Ainda vivemos os restos de uma época em que os casamentos, em teoria, eram para sempre; ainda existe o famoso "até que a morte os separe" nos rituais religiosos; e ainda existe o romantismo de bengala e cabelos brancos pairando no ar. Largar sonhos não é fácil, mas viver presa a eles não é saudável quando a realidade decepciona.

Talvez o que você está querendo dizer com "me sinto sem estrutura psicológica", possa ser traduzido por "ainda tenho dúvidas". E ter dúvidas não é algo estrutural. Faz parte da dinâmica dos nossos sentimentos e permeia todas as nossas decisões. Talvez a justificativa da falta de estrutura psicológica seja apenas uma tentativa de encontrar um motivo racional para manter o casamento. Afinal, se você não tem estrutura psicológica, justifica-se ficar ligada a alguém que lhe dê o apoio que necessita, não é?

E o outro lado? O lado que não está mais feliz com o relacionamento, que anseia por novas escolhas, novas companhias, talvez mais liberdade? Parece que ele está tentando se libertar, mas o medo do novo o sufoca.

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Conflito sempre existe

Sim, sempre haverá um conflito na hora de decidir trocar o certo pelo incerto. Mas conflito não significa fraqueza. Significa apenas que duas vontades opostas e incompatíveis coexistem. E que você tem que escolher uma delas.

Difícil? Sim, principalmente se esse marido que você quer largar não é um monstro, tem lá suas qualidades e ainda desperta em você algum sentimento de afeto.

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Você diz que vive triste. Será que essa tristeza brota do conflito? Do cotidiano? Dos sonhos não realizados através do casamento? Pense nisso. Avalie de onde vem essa tristeza, o que falta na sua vida, o que você conquistou, mas não a preenche. E a partir daí, tente entender o que imagina que poderá ganhar com a separação: alívio, liberdade, novos desafios, um melhor parceiro para os próximos tempos?

Sim, é preciso entender o que você pretende depois da separação, pois sem planos, separar-se sem traçar objetivos significa abrir as portas para um imenso vazio e ninguém vai ter coragem de se arriscar por nada, não é? Assim, tente organizar em sua cabeça o que a separação pode lhe proporcionar de bom. Caso contrário, sua dúvida será eterna.

Por outro lado, avalie se seu casamento está mesmo esgotado. Se não tem jeito de mudar comportamentos para vivenciá-lo de outros ângulos. Se você já tentou redefini-lo para o presente. Afinal, começo de relacionamento é uma coisa, manutenção é outra. Não se pode esperar a mesma coisa de fases diferentes de uma relação.

Enfim, lembre-se que depois de uma decisão tomada, qualquer que seja, provavelmente o alívio virá. Desde que, é claro, você olhe para frente e não para trás. A hora de avaliar prós e contras é agora; a hora de levantar projetos futuros é agora. Por mais que dúvidas incomodem, melhor vivê-las intensamente e conscientemente antes da tomada de decisão. Porque depois da decisão tomada, se você quiser que sua iniciativa dê certo, vai ter que trabalhar muito e canalizar sua energia para a construção da nova vida que planejou. Com seu marido ou sem ele.

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.