Empatia pode se transformar em aprisionamento

Empatia pode se transformar em aprisionamento

Em uma relação psicoterapêutica empatia e autoconhecimento são fundamentais  

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por Aurea Caetano

Empatia pode ser vista como a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa; sentir como o outro, estar na pele do outro ou, no inglês, estar nos sapatos do outro. Habilidade fundamental para a sobrevivência e essencial para o relacionamento humano parece estar em falta entre nós.  Mas, para poder ser empático, de verdade, é preciso, antes de mais nada, saber quem sou. Caso contrário, posso me misturar e ficar perdido na relação. Empatia deixa, então, de ser uma possibilidade e se transforma em aprisionamento.

Em uma relação analítica empatia é também fundamental, assim como autoconhecimento. Segundo Jung: “todo psicoterapeuta não só tem o seu método: ele próprio é esse método”.

Tripé da prática terapêutica

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Costumamos dizer que há um tripé que sustenta a prática terapêutica de abordagem junguiana – formação, análise pessoal e prática.

A análise pessoal é imprescindível para que o psicoterapeuta possa se conhecer cada vez mais, lançando luz, entrando em contato e trabalhando com seu próprio inconsciente.

Esse trabalho, segundo Jung, é fundamental para que o paciente não “venha a cair no inconsciente do analista”.

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Diz Jung::

Podemos dizer, sem muito exagero, que mais ou menos metade de cada tratamento em profundidade consiste no autoexame do médico, porque ele só consegue por em ordem no paciente aquilo que está resolvido dentro de si mesmo. Não é um engano quando se sente afetado e atingido pelo paciente: ele só vai curar na medida do seu próprio ferimento. (JUNG, 1951/1985, p. par. 239)

Estudos sobre a neurociência da relação terapêutica acentuam a importância da construção de um ambiente acolhedor no trabalho entre a dupla paciente-terapeuta. O terapeuta deve ser capaz de compreender o paciente, ter em sua mente uma imagem clara dele, podendo provocar o cérebro em direção a uma integração neural, promovendo coerência mental e inspirando empatia nos relacionamentos. Apenas um terapeuta que conhece a si mesmo pode realizar esse trabalho de forma eficaz.

Allan Schore, estudioso da neurobiologia da psicoterapia, fala sobre a importância da empatia no trabalho analítico. Diz ele que os mecanismos de mudança em psicoterapia estão fundamentados na regulação que acontece no contexto da relação na qual um terapeuta empático (palavras dele) facilita o contato com as experiências internas de forma segura.

O caminho do autoconhecimento, o “conhece-te a ti mesmo” é essencial para estar no mundo de forma plena e é mandatório quando se trata de exercer um trabalho como psicoterapeuta.