Práticas de automutilação viraliza entre jovens

por Edson Toledo

Devido à preocupação e aumento da demanda, principalmente de educadores e pais que buscam informações e orientações no nosso ambulatório de saúde mental, no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, continuaremos neste novo post a falar sobre a automutilação, pois se atribui o aumento dessa incidência, principalmente ao acesso fácil às redes sociais entre essa população tão vulnerável: adolescentes e crianças.

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Além das práticas autolesivas tradicionais já mencionadas anteriormente (veja aqui), apresentamos abaixo três práticas que recentemente foram viralizadas na internet que têm tido papel preponderante na disseminação desses atos, ao ponto de profissionais da área da educação e saúde considerá-los como epidêmicos.

Blue Whale – Baleia azul

– Disputado pelas redes sociais esse jogo propõe ao jogador 50 desafios “macabros” que vão desde a automutilação até ao suicídio.

– Funciona como uma espécie de “siga o mestre” – quem dita as regras e propõe os desafios é um mentor, o qual envia aos participantes mensagens com instruções do que fazer e solicita fotos como prova do cumprimento das tarefas.

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– Os jogadores geralmente são crianças e adolescentes, que, além de estarem mais suscetíveis a influências de terceiros, passam mais tempo em redes sociais.

– Começa de maneira “leve” e com o passar dos dias, os adolescentes chegam a ser desafiados a se pendurarem em lugares altos e se automutilarem, ou até tirarem a própria vida.

– Ao que tudo indica o jogo Baleia Azul teve início na Rússia, em 2015, quando uma jovem de 15 anos cumpriu a última tarefa e pulou do alto de um edifício.

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Tokyo Ghoul

Este é o nome de um jogo que surgiu na China em 2011 e tem por objetivo imitar uma personagem de animação japonesa que busca popularidade junto do grupo de amigos.

A personagem mais significativa da animação japonesa chama-se Juuzou Suzuya e mostra-se com os lábios, pescoço e braços costurados, como uma tentativa de mudar o corpo, com a intenção de torná-lo mais belo.

Muitos adolescentes já adotaram essa prática e têm postado as fotos nas redes sociais, fato que as tornou virais de forma muito rápida.

Médicos explicam que costurar a própria pele pode vir a causar infecções graves, inclusive septicemia, caso não haja cuidados rigorosos com as formas e os instrumentos com os quais os jovens se costuram.

Bagel Heard – Cabeça de rosca

É uma forma de modificação corporal que teve origem no Canadá e foi levada para o Japão em 2007, onde hoje é modismo entre os jovens.

Consiste na aplicação de soro fisiológico debaixo da pele.

Depois de aparecer em um documentário no canal a cabo National Geographic, a moda espalhou-se pelo Japão.

Depois de inchada, as pessoas “moldam“ a região com seus próprios dedos na forma de um bagel (tipo de rosquinha salgada).

Além da testa, algumas pessoas aplicam o soro nos braços na tentativa de criarem músculos falsos.

Não é uma modificação permanente ela dura de seis a 24 horas para ser absorvida pelo organismo.

Com isso a solução provoca o inchaço temporário na região.

Algumas das reações alérgicas que podem ocorrer devido à prática incluem: dores de cabeça, infecção, sensação de pressão e tontura.

Por fim, um psicoterapeuta pode ajudar o jovem e a família a lidarem com alguns problemas latentes provenientes dos comportamentos automutilatórios.

Como tratar do problema

Existem vários tipos de psicoterapias que podem ser úteis, tais como:

1. Terapia cognitivo-comportamental

Esse tratamento ajuda a identificar comportamentos e crenças negativas e substituí-los, com estratégias de enfrentamento saudável e positivo. Os pacientes criam planos para melhor identificar e reagir aos gatilhos, tolerar angústias, assim como achar pessoas e locais seguros para ir quando sentir necessidade de se ferir.

2. Psicoterapia psicodinâmica

Usa como foco a identificação de experiências passadas, memórias traumáticas ou problemas interpessoais para chegar à raiz dos problemas emocionais.

3. Terapias da atenção plena

Ajudam a pessoa a aprender a viver no presente e entender os próprios propósitos para reduzir a ansiedade e depressão e melhorar o bem-estar no geral.

4. Terapia familiar

É uma terapia de grupo que pode ser recomendada em alguns casos, principalmente quando a pessoa que se fere é mais jovem.