O corpo humano conhece a melhor forma de evitar seu próprio desgaste

por Renato Miranda

Se observarmos atentamente os detalhes do meio ambiente, seja na natureza ou algo criado pelo ser humano, como as máquinas ou equipamentos, por exemplo, perceberemos que há um sistema específico de funcionamento e complexidade.

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Observe que independentemente do sistema, há um objetivo específico a ser atingido: a eficácia. Ou seja, todo sistema tem como objetivo promover funcionalidade. Considerando todos os sistemas existentes em nosso planeta, aquele que tem na sua estrutura um sistema de organização, sofisticação e funcionalidade (eficácia!) mais complexo é o corpo humano.

Pode-se dizer que o corpo humano possui dois sistemas altamente integrados a ponto de formar um todo organizado e único: um deles é responsável por nossas experiências cognitivas e emocionais o outro por nossas experiências físicas. O primeiro é o sistema psicológico (o que se convencionou chamar de mente) o segundo sistema é o corpo.

Com sua estrutura única esses dois sistemas funcionam em conjunto através de uma simultaneidade psicofisiológica representada pela unicidade do ser humano que se expressa em todos os nossos momentos de vida de forma inseparável. Em outras palavras, para toda experiência física do ser humano há uma simultaneidade psicológica. Para toda experiência psicológica há uma simultaneidade física.

Baseado no que foi dito acima podemos criar exemplos em toda e qualquer experiência de vida. Pois vejamos; quando você faz exercícios físicos apropriados (experiência física) seu humor é regulado (experiência psicológica) simultaneamente, ou ainda quando você se machuca fisicamente ao mesmo tempo sentimentos negativos como tristeza e desânimo são vivenciados. Por outro lado, quando estamos felizes sentimos os músculos mais fortes e vigorosos.

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Como todo sistema, por mais sofisticado que seja o ser humano, seu destino é a decadência e a desorganização. Em síntese, através do “uso” continuado, com o passar do tempo haverá desgaste (transformação de energia constante) e queda das funções físicas e psicológicas. Todos nós ficaremos mais vulneráveis aos impactos do estresse (pressões) físico e psicológico, até o momento em que nosso sistema entrará em colapso.
    
Nem tudo parece ser desanimador. Nosso sistema também tem a melhor forma de retardar seu próprio desgaste. Note que todo sistema (equipamentos inventados pelo homem), tem sua especificidade para tentar diminuir seu mesmo desgaste. São as ditas orientações contidas nos manuais de uso que fazem com que aquele determinado sistema tenha uma vida útil maior e melhor.

O ser humano, como todo sistema, também tem sua tentativa de retardar seu desgaste ou entropia (desgaste de qualquer sistema pelo uso continuado e de suas intercorrências) através do mecanismo constante de providenciar o reequilíbrio do mesmo. Este fenômeno é conhecido como homeostase. No entanto, esse “sistema de controle” entre desgaste e reequilíbrio ou entropia e homeostase é realizado autonomicamente.

Roberto Lent, em seu primoroso livro “Cem Bilhões de Neurônios” (ed. Atheneu), afirma que o controle automático do organismo para adaptar-se e regular-se ante as demandas da ação (entropia) e/ou recuperação (homeostase) recebe o nome de homeostasia.

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Lent afirma que o conceito de homeostasia foi criado por Claude Bernard (1813-1878) e refere-se à permanente tendência dos organismos de manter a constância do meio interno. É uma espécie de “sabedoria do corpo” como denominou o conhecido fisiologista Walter Cannon (1871-1945).

Em poucas palavras, homeostasia significa que em toda situação de ação ou descanso, o organismo humano sempre lutará, autonomicamente, para manter o equilíbrio interno próprio. É por isso que seu coração acelera quando você corre (só assim seu sangue será bombeado eficazmente pelo corpo) ou diminui os batimentos para facilitar seu sono (para relaxar é fundamental que a frequência cardíaca esteja baixa).

Com tudo isso, surgem perguntas: o que nós podemos fazer para que o nosso sistema autonômico (daí o nome Sistema Nervoso Autônomo) diminua ou retarde a entropia (Sistema Nervoso Simpático)? E mais: como facilitar nosso corpo para reequilibrar nossas forças (Sistema Nervoso Parassimpático)?

Observe que todo sistema sofisticado tem como característica a simplicidade de funcionamento. Ora, se o sistema existente mais sofisticado é o ser humano, naturalmente algo muito simples nos reserva a fazer para responder a pergunta acima.

Ou seja, resposta objetiva: comportamento adequado. Essa é uma resposta simples de explicar, mas paradoxalmente muito exigente de ser colocada em prática. Como? Isso eu explico no próximo texto!