Você pode ser uma pessoa muito sábia, mas nem percebe

por Dulce Magalhães

Toda vez que olhamos o mapa-mundi vemos cores diferentes que separam os continentes, vemos linhas que determinam os limites de cada nação, vemos traços que delineam separações, limites, fronteiras…

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Porém, ao vermos a imagem retratada por satélite do Planeta Terra, não há linhas, nem traços, nem limites, nem fronteiras. É uma bela imagem azul, com pinceladas de branco, num balé constante de nuvens ao sabor do vento.

O planeta é uma só nação e cada ser humano é seu cidadão, nos ensina o profeta Baha’ú’lláh. A sabedoria é compreender que qualquer limite é uma criação nossa, que foi estabelecida por um modelo cultural, fruto de um momento e uma de uma perspectiva histórica.

A verdade não é o que pensamos, é o que descobrimos para além do pensamento. Há um processo mundial de integrar o que foi artificialmente separado. É lento e gradual, começamos com a globalização comercial, estamos vivendo movimentos de globalização cultural, econômica, gerencial, processual, tudo ainda num vai e vem, com ajustes necessários e pensamentos que precisam de urgente reforma.

Transformar é a palavra-chave. Globalizar não é pasteurizar é amplificar. Não é perder a qualidade da arte da rendeira do Nordeste ou do artesão de madeira de Minas Gerais, nem os costumes dos pampas, mas fazer com que cada um conheça e saiba apreciar a arte de cada outro.

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Globalizar é reconhecer, é ser apresentado a outro mundo, outra realidade, outras partes do mundo que ignorávamos. Globalizar é se mudar, de vez, para o Planeta Terra. Vivemos numa periferia do globo. Estreitamos nossa vida acreditando que o que pensamos, sabemos, fazemos e vivemos é o conjunto da realidade.

É preciso ampliar horizontes, alargar nossa visão, romper com as fronteiras autoimpostas que nos limitam a uma crença de que a vida é isso que conhecemos, quando nenhuma vida cabe em qualquer definição, por mais abrangente que seja.

A realidade não permite rótulos. Não é possível conceituar, ajustar, definir, comprimir a vida em um conjunto de ideias. Sempre haverá mais, melhor, mais amplo, mais longe, mais além. Está na hora de iniciarmos a globalização da fraternidade, expandirmos a área do bem comum e convidarmos para o banquete da vida todos os seres que desejam viver em harmonia.

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Quem desenha as fronteiras?

Onde está o limite que lhe separa de seu vizinho, do indivíduo que mora em outro estado, da pessoa que fala outra língua, do ser que possui outra crença?

Quem faz as linhas tortuosas que ignora, despreza ou desconsidera aqueles que não habitam do lado de cá de nossa realidade?

Nos diz o poeta: me contradigo porque sou vasto, só os estreitos não se contradizem. Este é um convite à mudança. Mudar de ideia, mudar de lugar, mudar de visão, mudar de mundo. Este é um convite para habitar todo o planeta, não só este minúsculo cantinho onde esprememos nossa realidade.

Há um amplo espaço de crescimento possível para ser explorado. O pensamento pode mudar um milhão de vezes e ainda será capaz de ir além. Não há limites para a criatividade, dessa forma não há desafio grande demais, há sim perspectiva limitada demais, que não nos permite transcender o desafio.

Que sejamos capazes de romper fronteiras limitantes e abrir nosso olhar para o horizonte de oportunidades que, a cada instante, se abre à nossa frente. Não existem problemas, tudo é apenas exercício para ampliar nossa consciência. O que seria de você sem os problemas que você já viveu e superou? Quão limitada seria sua bagagem de mundo sem os desafios já experimentados?

Retire a prática da vida e o que sobra? Viver é experimentar de tudo um pouco, do doce e do amargo, do bom e do ruim, até para saber a diferença entre as coisas. Aliás, a palavra sabedoria vem do latim “sapere”, que quer dizer saborear. Sábio é aquele que saboreia a realidade, experimenta o instante, degusta a vida para aprender a desfrutá-la.

Podemos escolher habitar o mapa-mundi com sua miríade de cores e fronteiras, sua ênfase na diferença e na separação, ou escolher habitar o planeta Terra, com seu manto azul, que recobre a todos e a ninguém exclui.

Afinal, onde você quer morar?