O controle é uma ilusão

Por Bayard Galvão

O paciente senta. Após conversarmos por cinco minutos sobre amenidades, diz: “Não consigo dormir. Estou com dificuldades para comer e sinto meu coração saindo pela boca todos os dias!”.

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Ao que pergunto “E o que está passando pela sua mente que tem provocado essas sensações?”, ele responde: “Vou me casar!”. Então, indago: “O que sobre o casamento tem lhe gerado desconfortos?”. Ele suspira e fala: “Tem que ser a mulher certa, não posso errar na escolha!”.

Buscamos nos segurar em algo para evitar qualquer tipo de dor quando vamos fazer alguma coisa, seja num corrimão ao descermos uma escada; fortalecer algum músculo para evitarmos lesão; conhecermos melhor o mercado ao fazermos um investimento; economizar dinheiro para pagar à vista algum bem; nos dedicarmos muito ao trabalho para evitar uma demissão; conhecermos bem alguém antes de nos casarmos; dar uma excelente educação a um filho para ter uma boa vida; e tomarmos uma vacina para não contrairmos alguma doença.

Temos a necessidade de exercer controle sobre as coisas para nos assegurarmos de que um determinado problema não ocorrerá ou de que atingiremos algum objetivo. O problema é: em que medida temos a capacidade absoluta de nos garantirmos sobre qualquer coisa acerca do futuro?

Precisamos refletir, para qualquer coisa na vida, sobre o nível de controle que temos no que se refere ao que queremos. Por exemplo, para perdermos peso, o nível de controle é maior do que se manter num emprego, que é maior do que fazer um casamento dar certo, que é maior do que ser pouco ou nada afetado pela crise financeira do nosso país.

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A ideia para se segurar na vida é como uma moeda, que sempre tem dois lados. Num extremo, buscar fazer o melhor, noutro, estar preparado para a possibilidade de dar errado. Então, ficam duas perguntas:

O que preciso melhorar em mim e nas minhas escolhas?

Como eu lidaria com a real possibilidade de dar errado o meu “empreendimento”?

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É fácil não termos claro o real nível de controle sobre alguma coisa, ao que o filósofo Sêneca comenta: “Faça o que de ti depende. De resto, seja apenas firme e tranquilo”. Mas gosto de aliar essa frase com a seguinte reflexão: “Determinada coisa está sob o meu controle em que nível? O que depende mais de nós, está mais no nosso controle; e tudo que não se referir a nós, diminui gradualmente o mesmo.”. Uma mãe pode dar a melhor educação para que o filho consiga ter uma vida fértil e agradável, mas ela não pode entrar na cabeça dele e o direcionar como faria com um carro, que estaria muito mais sobre o controle dela.

Essencialmente, sobre dar errado, as ideias para lidar com essa possibilidade se refeririam a ter um “plano B” e um “plano C”: aceitar o fracasso, pois ninguém é perfeito; aprender a lidar com os próprios limites; aprender com os erros, para errar cada vez menos; aprender a perder o que tem; estimarmos-nos, apesar de nossas faltas e falhas; inovar-se mediante as mudanças da vida e mercado; aceitar que existem coisas que nos são importantes, mas que saem do nosso controle conseguirmos atingi-las; entender que é mais fácil as pessoas nos chamarem atenção ou rirem de nós do que nos elogiarem.

Em outras palavras, assimilar que somos humanos e o máximo que podemos fazer é lidar com as nossas limitações e aprender a lidar com elas dentro do possível, buscando nos superarmos, quando assim for possível.

A reflexão que propus para o noivo foi a que considero mais saudável: “Torne-se o melhor marido que puder e esteja preparado para a possibilidade de precisar se separar, dentro do razoável”.

Bayard Galvão é psicólogo clínico formado pela PUC-SP