Beijar pode transmitir doenças

por Gilberto Coutinho

Os beijoqueiros devem ter cautela durante o ano todo, mas principalmente no Carnaval, onde muitos intensificam o ato de beijar. O beijo na boca pode transmitir várias doenças, inclusive as sexualmente transmissíveis.

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Além do carinho, do afeto e das emoções compartilhadas durante o beijo na boca, as pessoas trocam saliva (fluido formado por 99% de água e que contém amilase, enzima digestiva que decompõe o amido contido nos alimentos), sais minerais e uma gama de micro-organismos, muitos deles causadores de doenças.

Por mobilizar cerca de 30 músculos da face, um beijo caloroso pode consumir de três a cinco calorias e faz o coração bater mais rápido, podendo chegar a 150 batimentos por minuto; ativa a circulação sanguínea, aumenta a oxigenação nas células, estimula a produção de hormônios como ocitocina (produzida no hipotálamo e armazenada na glândula hipófise, também responsável pela sensação de confiança, calma e bem-estar) e serotonina (secretado por certas células do tubo digestivo e no tecido cerebral).

É claro que, dado com carinho, afeto e paixão, o beijo acalma, relaxa e combate o estresse. No entanto o hábito de “ficar”, de beijar várias pessoas, geralmente desconhecidas, em uma mesma noite, não é nada salutar, pois, além de bactérias, o beijo também pode transmitir vírus causadores de doenças.

Cuidar da saúde bucal reflete na saúde como um todo. Não se trata apenas de uma mera informação. Acima de tudo, é uma questão de saúde pública (pois todos têm o direito de cuidar de sua saúde). Os cuidados da saúde bucal também devem fazer parte da educação escolar.

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Doenças transmitidas pelo beijo

• Cárie dental – doença infectocontagiosa causada por bactérias como Streptococcus mutans, que provoca a desmineralização do esmalte do dente, ocasionando destruição localizada, progressiva e irreversível.
• Gengivite – inflamação da gengiva, causada por bactérias (placas), que pode se agravar e atingir o osso alveolar, o qual envolve e mantém firmes os dentes. Tem-se observado o aumento do número de casos de gengivite. É de se crer que, além da ausência de cuidados com a higiene bucal, a prática do “ficar”, muito comum entre os jovens e adultos de hoje, esteja contribuindo para isso.
• Faringite – inflamação da faringe, região situada entre as amígdalas e laringe (onde se forma a voz), pode ser causada por vírus e bactérias.
• Laringite – inflamação aguda ou crônica da laringe (onde estão as cordas vocais), causada por vírus e também bactérias.
• Amigdalite – inflamação das amígdalas, geralmente provocada por uma infecção estreptocócica (bacteriana) ou, com menos frequência, por uma infecção viral.
• Herpes labial – afecção cutânea aguda causada pelo Herpes simplex virus.
• Mononucleose – é uma doença de progressão benigna e muito comum; 79% dos casos são causados pelo vírus Epstein-Barr, e 21%, pelo Cytomegalovirus, ambos transmitidos pelo beijo, saliva e troca de outras secreções. Caracteriza-se por febre, aumento do número de monócitos (globulos brancos) no sangue, angina (sensação de angústia, opressão torácica, devido a um fornecimento insuficiente de oxigênio ao coração), aumento do volume do baço, erupções cutâneas, etc.
• Hepatite A e B – infecção inflamatória do fígado. A vacinação pode preveni-la.
• HPV – vírus do papiloma humano, infecta a pele ou mucosas, possui mais de 200 variações diferentes, cuja maioria dos subtipos encontra-se associada a lesões benignas (verrugas); no entanto alguns tipos são encontrados em certas neoplasias (cancro do colo do útero). Sua principal forma de transmissão é por via sexual. Considerada uma das mais frequentes das doenças sexualmente transmissíveis.
• Meningite – inflamação das meninges (conjunto das três membranas que envolvem o eixo cerebroespinhal). Pode ser cerebral, espinhal ou cerebroespinhal, de origem bacteriana, tóxica, parasitária ou secundária a diversas doenças.
• Uretrite – inflamação da mucosa da uretra.
• Candidíase – afecção aguda, subaguda ou crônica causada por leveduras pertencentes ao gênero Candida albicans.
• Gripe – doença infecciosa muito contagiosa, quase sempre epidêmica, devido a vários vírus do grupo Myxovirus influenzae.
• Tuberculose – doença infecciosa e contagiosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis (bacilo de Koch).
• Sífilis – doença sexualmente transmissível causada pelo Treponema pallidum (treponema pálido).
• Gonorreia – ou blenorragia, é causada por gonococo, caracteriza-se por uma inflamação das vias genitourinárias (relativo às funções de reprodução e de eliminação de urina), com corrimento purulento e dores à micção. Sua transmissão ocorre através do contato sexual.

Curiosidades

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• A saliva não transmite o vírus da AIDS, que só é transmitido através do sangue. Se o beijo acontece entre duas pessoas que têm gengivite, ou qualquer outro ferimento na boca, o HIV pode penetrar na corrente sanguínea.
• Após ter comido doce e sem a devida escovação dos dentes, se o beijo acontece, pode haver a transmissão de um coquetel de ácidos de bactérias e açúcares.
• Se a pessoa tem placa bacteriana, as chances de se adquirirem novas cáries são bastante grandes; idem em relação à gengivite.

Receita da Índia: para o bom hálito e gengivas saudáveis

Após a limpeza da boca, da língua, dos dentes e da gengiva, deve-se mascar um pedaço pequeno de gengibre (Zingiber officinale, que apresenta propriedades anti-inflamatórias e digestivas) e um cravo-da-índia (Syzygium aromaticum, poderoso antisséptico, bastante utilizado na Odontologia) durante cinco minutos. Logo após, jogar fora e fazer um bochecho com água fria. O odor do cravo com o gengibre é agradável, o que ajuda a liberar serotonina, neurotransmissor responsável pelo bem-estar e prazer.

• A Echinacea purpurea (equinácea) e a Uncaria tomentosa (Unha-de-gato) têm demonstrado ser muito efetivas no combate do herpes. Num estudo envolvendo 500 pacientes tratados com equinácea, houve 100% de melhora do quadro.

Precauções

• Feridas nos lábios, mau hálito, dentes mal cuidados e sangramento gengival (gengivite) são indicativos de maus cuidados com a higiene bucal; e o beijo deve ser evitado.
• Um beijo mais ardente pode provocar sangramento na região do body-piercing, havendo o risco de infecção do vírus HIV, se o sangue entrar em contato com a lesão bucal.
• É necessário realizar uma boa higiene bucal diariamente e sempre após as refeições. Usar fio dental, escovar os dentes e usar um anti-séptico bucal.
• Também, antes e após o beijo, além dessa escovação, usar um anti-séptico bucal, para que se diminuam as chances de transmissão de algum tipo de doença.