Para seguir positivamente em frente, é preciso se libertar do passado

Por Regina Wielenska

Imagine você que alguém muito querido morreu. No processo de administrar a dor, algo provavelmente sem tamanho, você passa a evitar as situações que te façam lembrar a pessoa. Mas, para evitá-las, por meio da busca de outra alternativa, você necessariamente atravessa ao menos um segundo em que seu cérebro terá de lembrar de que aquilo precisa ser esquecido. Paradoxal, não? Para conseguir esquecer, precisa lembrar! Então não se esquece de verdade.

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Quer entender melhor? Suponha que eu lhe dissesse para me citar um número de zero a dez. "Oito", você responde. Eu lhe respondo que oito é par e que oito, em nosso jogo, é considerado errado, sujeito a uma penalidade grave em caso de reincidência. Peço um novo número, e você diz "cinco!". Aí lhe pergunto a razão da escolha e ouço que você entendeu que números pares são condenados no jogo, e assim você preferiu escolher um número ímpar. Ou seja, foi escolha por exclusão, e a minha informação anterior teve influência sobre o número escolhido.

Assim é a vida, somamos experiências, e somos por ela influenciados mesmo quando não temos clareza do que nos influenciou. Tentar fugir de sentimentos dolorosos ou esquecer das coisas ruins do passado provavelmente não funciona. Vale mais examinar o presente, olhar em direção a um futuro que combina com nossos valores e seguir em frente, sem deixar de lado cada pedaço de nossa história.

Por outro lado… Alguém já percebeu que viajar com bagagem pesada demais costuma ser uma porcaria? No avião pagamos por excesso de peso, fica difícil entrar no vagão de trem, o excesso de malas mal cabe na pequena cabine do navio, não há hotel com espaço grande para bagagem… Ocorre que na vida há quem se agarre tanto ao passado que mal consegue seguir em frente. Um grande amor terminou em profunda decepção. Foi horrível. Ok, faz sentido a dor. Mas e se depois fica fechada a porta do coração, ou ela até se abre, mas tem como porteiros a desconfiança e o medo? Nesse caso a dor do passado barrou novas oportunidades.

O meio-termo, então é não evitar o contato com o passado sem que isso nos barre o acesso a um futuro cheio de propósito e esperança.

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