Namorado com temperamento explosivo e viciado em ataques de raiva; saiba como lidar

Por Anette Lewin   

Depoimento de uma leitora:

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“Gostaria de saber se poderiam me ajudar com uma questão que vem me incomodando muito no relacionamento com meu namorado. Sei que não cabe a mim ou em qualquer tipo de relacionamento alguém tentar mudar o outro. Porém, gostaria de saber o que fazer quando ele possui acessos de raiva, por qualquer motivo: seja por perder em jogos, em não concordar com a chefe no trabalho, por estar em um ônibus lotado, ou qualquer situação em que não saia conforme as expectativas dele. A questão é que cada vez que age dessa forma, eu vejo como fica mal, e se prejudica. Então além de estar vendo como faz mal pra saúde dele, eu fico com muito medo, pois me assusta os gritos, os socos nas paredes (quando não consegue se controlar) e realmente me sinto insegura. Já tentei conversar diversas vezes com ele sobre isso, mas em todas as conversas a situação só piorou, e ele interpreta como se eu estivesse tentando controla-lo. Inclusive já deixou claro que durante esses acessos de raiva é quando se sente mais vivo. E isso me preocupa, pois age como se fosse um vício. Devo simplesmente ignorar e esperar para que a raiva que está sentindo passe? E como fica o respeito a mim? Devo entender que de fato esse é o "momento dele"? Mesmo que isso me faça me sentir desrespeitada e humilhada? Pois é assim que me sinto todas as vezes, e incapaz de conseguir ajudar.”

Resposta: Você me parece uma pessoa realmente interessada em ajudar seu namorado. Muito digno esse sentimento e a forma como descreve o sofrimento dele nas crises. Você tenta manter sua dignidade, e esforça-se por entender o que está acontecendo sem vitimizações. Parabéns!

Acontece que às vezes só a vontade de ajudar e toda boa vontade do mundo não são suficientes. Às vezes, a questão não é apenas psicológica ou emocional, ela pode ser bioquímica. Parece ser o caso de seu namorado. E para desordens bioquímicas, é necessária a ajuda de um profissional, no caso, um psiquiatra. Ele pode ajudar a fazer um diagnóstico preciso e medicar se for o caso.

Certamente é difícil convencer uma pessoa que enxerga esse tipo de crise, como “seu momento”, a procurar ajuda. Mas vale a tentativa. Você já percebeu que durante a crise não dá para conversar. Assim, procure um momento de neutralidade para ir semeando a ideia. Nessa conversa evite colocá-lo como “doente”. Diga que está procurando formas de trazer maior conforto emocional tanto para ele quanto para o relacionamento. Pode ser que em algum momento ele aceite sua sugestão. Vale também a sugestão de uma psicoterapia. Às vezes, conversar com um profissional poderá ajudá-lo a se conhecer melhor e entender que, às vezes, a medicação se faz necessária.

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Mas, e se ele não aceitar?  Bem, aí cabe a você tomar a decisão de continuar o relacionamento ou rompê-lo. Lembrando que desordens bioquímicas, em geral, não melhoram sem tratamento médico. Assim, converse com ele e explique que você sente medo, e insegurança durante as crises e vê o tratamento dele como algo imprescindível para que vocês possam continuar juntos e construir uma relação de qualidade. Se ele fizer isso por você, será um sinal que ele entende que na relação a dois não dá para ficar fazendo o que se quer o tempo todo; que às vezes é importante buscar soluções diferentes daquelas com as quais conviveu até agora; e que o que lhe faz sentir aliviado pode ser sentido como insuportável para quem está ao seu lado.

Por outro lado, se ele se mostrar inflexível e você resolver aceitá-lo assim mesmo, tente encontrar meios de se preservar durante as crises, porque nessa hora a falta de controle pode ser perigosa não só para ele, mas também para você. De preferência, afaste-se até que a crise passe. Lembre-se que quando uma pessoa toma uma atitude de risco, a responsabilidade é dela. Nesse caso, é importante não deixar que esse risco destrua sua integridade moral e psicológica que parece tão bem construída.

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.

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