Produção e descarte de resíduos nocivos: um problema comportamental

Por Regina Wielenska

Brinquei com o editor do Vya Estelar: “se na coluna passada falei sobre tampinhas de garrafa PET (veja aqui), na próxima eu deveria falar das garrafas em si? ”. Ri de minha ideia e agora encarei a empreitada.

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Acontece que vi um tutorial de internet no qual garrafas PET eram reaproveitadas e se transformavam em graciosos arranjos suspensos de flores. Foi assim, confeccionando os mais lindos vasinhos com materiais de segunda mão, que uma pessoa em apuros financeiros conseguiu superar sua má fase. Uma loja carioca, por sua vez, fez seu mobiliário com garrafas PET, que devidamente amarradas em agrupamentos e recobertas de tecido, viraram sofás e poltronas, confortáveis e duradouros.

Por outro lado, existe o cenário oposto, milhões de garrafas PET são consumidas vorazmente e descartadas de qualquer jeito no meio ambiente. Praias, vias públicas depois de eventos como blocos de Carnaval e shows, piscinões abertos ou de subsolo, tudo é obstruído por garrafas PET, que vão para onde só Deus sabe. Isso não terminará bem…

Precisamos pensar em mudar o comportamento das pessoas. Há vários níveis de intervenção, e seus resultados, viabilidade e custos precisariam ser avaliados por especialistas de diversas áreas, incluindo analistas do comportamento.

Lembro de um caso antigo de manejo do comportamento implantado pela equipe do ex-prefeito de Curitiba, o arquiteto Jaime Lerner: numa região periférica da cidade caminhões de coleta de lixo tinham dificuldade de acesso por conta da inundação de córregos entupidos de lixo. Por meio de um programa no qual lixo reciclável, levado pelo cidadão a um posto de coleta nas proximidades, seria trocado por benefícios com passe de transporte a alimentos obteve-se como resultado um rápido e significativo decréscimo do descarte indevido de lixo.

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Na década de oitenta, vi em Boston (USA), que os supermercados remuneravam com vales-compra quem lhes devolvesse garrafas PET. Muita gente fazia uso desse sistema, não sei o que ocorreu depois.

Uma possível intervenção deve também envolver as grandes corporações, que visam o maior lucro possível e seduzem consumidores com bebidas palatáveis, a custo acessível, com embalagens práticas e facilmente transportáveis. Foi aí que as PET substituíram as garrafas de vidro, mais pesadas e com certo risco de quebra. Precisamos é quebrar a cabeça, e não garrafas, para decifrarmos as variáveis dessa complexa equação de forma a rever as práticas da cultura e preservar o meio ambiente.

A ciência do comportamento, em especial a economia comportamental, poderá nos ajudar na tarefa de mudar o comportamento de tanta gente, nos mais variados níveis: indústria e consumidores são os principais alvos de intervenções.

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Enquanto isso, reveja seu comportamento individual, observe seus arredores e se pergunte: há algo que posso fazer para reduzir o dano? Consumir menos as garrafas plásticas e reciclar mais são passos interessantes.