Infelizes no casamento, mas sem intenção de se separar; entenda

Por Anette Lewin

Por que muitos casais mantêm um longo casamento, sem intenção de se separar, mesmo estando infelizes e insatisfeitos? Qual a saída: separar? Psicoterapia? Ambos tentarem juntos sair dessa profunda crise?     

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Resposta: Pessoas casam, idealizam um lindo futuro, os anos passam e as crises aparecem.

Mas o costume, a sensação de estar, de certa forma, vivendo uma vida confortável, cumprindo sua “missão” de crescer e multiplicar-se mantêm a união.

Sim, isso não é exceção, é praticamente a regra. Mas cada casal acha que os outros são mais felizes…  E criam uma “crise” que nem sempre existe na realidade. A não ser para quem se casou pensando viver num conto de fadas, feliz para sempre.

Cabe aqui uma reflexão sobre o que é essa tal felicidade no longo prazo. Muitos confundem felicidade com os arroubos da paixão; confundem-na com a mobilização trazida por uma pessoa desconhecida; confundem ser feliz com estar apaixonado.

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Não, amor e paixão não são a mesma coisa, vale repetir mil vezes. E depois de certo tempo convivendo, o casal não tem mais o mesmo entusiasmo do começo da relação. Se as pessoas entendessem isso, conseguiriam saborear as etapas seguintes do relacionamento sem tanta angústia e decepção.

Quem acredita que relacionamento é feito só de visceralidade está fadado a abandoná-lo rapidinho ou transformá-lo num mar de brigas. Sim, porque quando a paixão acaba, o casal que quer continuar vivendo de forma superlativa coloca as brigas em seu lugar. É uma forma de sentir que a mobilização causada pelo outro ainda não acabou. Funciona? Muitas vezes sim, apesar de não ser confortável. Significa que o casal deixou de se gostar? Muitas vezes não apesar de parecer paradoxal.

Então, como saber se um casal atingiu o grau máximo de infelicidade e deveria se separar ao invés de manter a relação por costume, conveniência ou obrigação?

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Bem, essa é uma tarefa bem difícil. Vivemos numa época em que o grande conselho dado pela grande sociedade de consumo é: enjoou? Troca. Somos pressionados o tempo todo pela ideia de que existem mil ofertas que substituiriam vantajosamente os “produtos” que temos em casa. Assim, é cada vez maior o número de pessoas que, em relacionamento, acabam adotando essa prática. Funciona? As pessoas que trocam de parceria ficam mais felizes em seus novos relacionamentos? Algumas sim. Não porque os novos parceiros são tão melhores do que os anteriores, mas porque aprenderam, no primeiro relacionamento, que casamento é algo diferente do que imaginavam e não entram na segunda relação com as mesmas crenças.

Para os que não aprendem com os tombos, a segunda, terceira, quarta ou quinta relação também tendem a ser breves. Errado? Nem sempre. Tem gente que adora viver flanando pela vida amorosa.

Parece, então, que avaliar se um casal é feliz ou infeliz por brigas, pela ausência delas, ou por qualquer fator externo é superficial. Cada pessoa tem sua necessidade amorosa e só ela e seu parceiro podem saber se a relação é válida ou não. Se não conseguirem decidir, vale procurar ajuda terapêutica que funcionará como um terceiro olhar, evidentemente mais neutro, sobre a relação.

Assim, muitos casais continuarão juntos porque entenderam o que é um casamento em longo prazo e outros continuarão se separando rapidamente em busca de uma parceria ideal,  enquanto tiverem energia para isso.

Quanto aos sentimentos, é preciso revisitar a palavra amor. A maioria dos relacionamentos amorosos acaba sendo um contrato, de curto ou longo prazo, onde todos os sentimentos se fazem presentes: amor, raiva, decepção, admiração e por aí vai. Quem quiser viver só de amor que o semeie por onde passar.

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.