O outro lado do caso Eloá

por Roberto Goldkorn

Um pacto de “amor” selou o destino dos pais de Suzane Richtoffen. No mês passado um sujeito jovem matou, retalhou e ainda foi no enterro de sua namorada uma menina inglesa. Agora a vida de outra menina brasileira de quinze anos foi tirada depois de uma agonia de mais de cem horas pelo seu ex-namorado. Ele estava motivado pelo vulgar coração partido, sentia-se vazio, desamado, talvez traído, fedendo a rancor e ódio, do jeito que o diabo gosta.

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Do alto de sua medíocre desimportância, oco de si mesmo, ele abriu espaço para a energia diabólica, aquilo que os ocultistas chamam de Egrégora de Sangue.

Essa colossal massa energética sedenta de sangue, medo e dor, vive à procura de alimento. Como por aqui as guerras escassearam, ela voraz, vai se alimentando de petiscos individuais, de pequenas chacinas, de jorros de sangue passional. Parece que cada vez mais essa egrégora sanguinolenta está tomando gosto pelo sangue jovem. Desde o início detectei a presença do “monstro” no drama de Santo André.

Quanto mais demorava o desfecho mais certeza eu tinha de que as mesmas forças sinistras arquetípicas estavam em função ali, e menos confiante num final feliz. Rezei muito por um milagre, mas no dia 16 (um dia antes do fim) já pedia que pelo menos ele fosse capturado vivo para que pudesse ser prisioneiro do seu arrependimento, condenado a viver com o sorriso de Eloá assombrando-o dia e noite.

Há algum tempo passei a me ocupar das pessoas naturalmente sedutoras cuja sedução primitiva, e forte energia sexual, atraiam predadores, vampiros dispostos a sorver aquela energia bruta até a sua última gota. Meu grande temor quando vejo meninas tão jovens e tão sensuais, como me parece ser o caso de Eloá, mas desprovidas de uma estatura crítica robusta é justamente esse: que atraiam predadores como o esquartejador da inglesa e o algoz de Santo André.

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Case

Uma das minhas primeiras clientes era assim, naturalmente sedutora, sensual, porém com uma baixa auto-estima: assim atraia todo tipo de tranqueira para a sua vida. Como a qualidade desses parceiros era muito baixa ela vivia “carente” o que mantinha a porta aberta para qualquer um que lhe desse um sorriso e acenasse com um desejo.

Por essa porta entrou um sujeito que em pouco tempo desenvolveu uma relação possessiva e paranóica com ela. Da vigilância e do ciúme perverso, passou a agredi-la e tocar o terror. Nesse momento ela voltou a me procurar pedindo socorro. Consegui conversar com o rapaz algumas vezes e o convenci a não fazer nada das barbaridades que estava ameaçando fazer com ela.

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Mas quando tudo parecia acertado, com cada um para o seu lado, ela se sentiu “carente” e voltou a procurá-lo (sem o meu conhecimento e contra tudo que orientei). Não durou muito e as agressões voltaram mais ferozes. Eu então a aconselhei a sumir por uns tempos, e nunca aceitar encontros com ele a não ser em locais públicos. Ele, porém insistia em encontrar com ela para uma conversa “final”. Como a minha cliente se recusasse a esse encontro, ele telefonou para ela e falando ao telefone deu um tiro no ouvido. Deixou dois filhos pequenos e um rastro de dor para trás.

Até quando esse pretenso sentimento que é tudo menos amor vai continuar apertando o gatilho? Até quando as Eloás vão tombar tão em flor sob o pretexto de um amor frustrado? A nossa sociedade estimula essa cultura do vale tudo por amor, que é turbinada pela cultura da sedução e sensualidade cada vez mais precoce. Só pode dar nisso.

Não procurem culpar a polícia, eles nada podiam fazer diante desse teleguiado sem alma da egrégora de sangue. O sujeito que puxou o gatilho é um robô, um nada, mas por isso mesmo foi cooptado por esse vampiro invisível para realizar seu funesto destino. Quanto aos que ficaram, clamo aos pais que procurem pelo menos não incentivar a sensualidade precoce de suas filhas e, ao contrário, eduquem seus filhos e filhas a terem uma visão de vida mais espiritual.