Celebridades virtuais: por que alguns fazem tanto sucesso na Web?

por Ivelise Fortim – psicóloga do NPPI

A Internet tem se configurado como mais um campo propício para que as pessoas desenvolvam laços sociais e fortes sentimentos de amizade. Em geral, as pessoas na internet se agrupam em torno de determinado programa ou atividade em comum (que pode ser uma sala de chat, um jogo eletrônico, uma lista de discussão ou um fórum). Esses agrupamentos humanos na Internet recebem o nome de comunidades virtuais, por alguns estudiosos do assunto.

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Uma comunidade virtual é um agrupamento formado na Internet, onde seus participantes formam laços de amizade (ou inimizade), criam hierarquias sociais e se relacionam constantemente, na maior parte dentro do ciberespaço, mas também podendo se relacionar fora dele, nos encontros presenciais.

Dentre diversos fenômenos que ocorrem nessas comunidades, destacamos aqui a questão do reconhecimento social que elas propiciam a determinados indivíduos. Muitas vezes já ouvimos falar sobre pessoas que se sentem mais reais, melhor compreendidas, e mais aceitas dentro da Internet.

Como isso ocorre?

Dentro do ciberespaço, muitos dos determinantes socioeconômicos e culturais não estão presentes: aparência, raça, classe social, obesidade, etc. são determinantes perdidos nesse ambiente. Assim, o reconhecimento social de uma pessoa é dado por seu comportamento online, sobre o que a pessoa escreve ou sobre as habilidades que ela domina. Ou seja, aqueles que são inábeis em comunicar-se pessoalmente, mas hábeis em escrever, podem ser extremamente populares no ciberespaço; jovens que aparentam ser socialmente inaptos se mostram portadores de grandes habilidades no ciberespaço e no domínio da informática.

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O reconhecimento social é o que move muitas pessoas a passarem tanto tempo na Internet. O indivíduo pode ser (ou se sentir) gordo, feio, pobre ou tímido na vida real, mas na Internet ela é extremamente popular e reconhecida por aquela comunidade como alguém importante, que tem poderes ou que todos se afeiçoam. Pode se sentir bem, valorizado pelos demais e com importância social, mesmo que seja para uma comunidade extremamente restrita, como, por exemplo, a de hackers.

Comunidades hackers

Nas comunidades hackers, o que conta são os grandes feitos: a descoberta de falhas de segurança, criação de programas que permitem a exploração de outros, *defaces em massa. Isso é de extrema importância para os hackers novatos, que se gabam de seus feitos, mas também pode ser importante para hackers bons e experientes. A cada feito, o reconhecimento social na comunidade hacker aumenta. Os verdadeiros hackers não costumam se gabar de seus feitos, mas a cada um deles, esses jovens são mais e mais reconhecidos na comunidade como pessoas hábeis, importantes e inteligentes.

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Nos jogos eletrônicos, o reconhecimento também se dá por feitos. Por exemplo, no Ragnarok são reverenciados os jogadores mais hábeis em conseguir experiência de jogo, equipamentos raros ou difíceis, e nas habilidades em conseguir definir estratégias para matar os monstros do jogo. São reconhecidos aqueles que são lideres de clãs, ou que têm poder sobre o jogo.

Nas comunidades de blogs, listas de discussão ou Orkut, são reverenciados e reconhecidos os usuários que escrevem melhor, que têm os melhores textos – que podem não ter relação alguma com um bom português! Um bom texto, nesses casos, é aquele que consegue prender a atenção do leitor, transmitir carisma, ou que expressa idéias consideradas pela comunidade como interessantes. Nos Blogs e flogs, a questão visual ainda se faz presente, e são reconhecidos aqueles que têm boas habilidades com imagens e animações gráficas.

Ou seja, mesmo que em comunidades às vezes bem restritas, a Internet permite que muitos se sintam importantes dentro daquele pequeno espaço. E, ser reconhecido como importante é uma das motivações mais fortes para aqueles que não se sentem dessa forma em suas vidas presenciais.

*Defaces: ‘deface’ é um termo emprestado do inglês, e é usado para referir-se ao ato das “desfigurações” produzidos pelos invasores de sites. Por exemplo, eles entram em um determinado site e deixam lá sua ‘marca pessoal’, semelhante ao ato dos pichadores.