Entenda o Complexo de Atlas

por Ângelo Medina

Quem nunca sentiu aquele peso enorme nos ombros, quando parece que estamos carregando todo o mundo nas costas? Nesta entrevista ao Vya Estelar, o médico Alex Botsaris autor do livro 'O Complexo de Atlas', editora Objetiva, ensina como se livrar deste peso, ou melhor, reagir às tensões do estresse. Através de uma associação simbólica com a mitologia grega, ele revela conexões inusitadas, ajudando-nos a compreender como reagimos frente aos desafios diários que a vida nos impõe.

Continua após publicidade

Vya Estelar – O que é o ‘Complexo de Atlas’?

Alex Botsaris – O 'Complexo de Atlas' é a tendência instintiva do cidadão atual em acumular responsabilidades e tensões em cima dos ombros, ou seja, “carregar o (seu) mundo nas costas”, a exemplo do gigante da mitologia grega de onde tiro emprestado o nome desse complexo. Isso envolve desde a tensão mental, que é progressivamente crescente nos nossos dias, até o tônus do trapézio, principal músculo do pescoço, que sustenta a cabeça. As pessoas com o 'Complexo de Atlas' sentem nervosismo, intranqüilidade, tensão e dor no pescoço, dores de cabeça, tensão generalizada, trincam os dentes e dormem mal.

Vya Estelar – O que é o ‘Fantasma do Complexo de Atlas’?

Alex Botsaris – Quando falo do “fantasma” me refiro à sensação persecutória (de perseguição) que as pessoas têm, ao buscarem uma solução para o estresse do dia-a-dia e, mesmo assim, estarem sempre sob novas ameaças e fontes de estresse.

Continua após publicidade

Vya Estelar – Como saber se estou com o 'Complexo de Atlas'?

Alex Botsaris – Os principais sintomas são os citados acima: tensão e dor no pescoço, dores de cabeça, bruxismo (hábito mórbido de ranger os dentes), ansiedade, insônia…

Vya Estelar – Como espantar o fantasma?

Continua após publicidade

Alex Botsaris – O fundamental é fazer exercícios físicos diários, saber colocar limites nas atividades profissionais, fazer massagem para aliviar a musculatura do pescoço, ou meditação para controlar melhor as forças mentais. Atividades artísticas como pintar ou tocar um instrumento, dançar, rir e contar piadas também são poderosos instrumentos de relaxamento. Cada pessoa precisa descobrir quais as atividades que são mais relaxantes para si e guardar no mínimo dois dias sagrados na semana para dedicar uma ou duas horas a elas.

Vya Estelar – Quando o estresse é bom e quando é ruim?

Alex Botsaris – O estresse é bom quando seguido de uma contrapartida física (exercício físico) e depois de um bom descanso. Entretanto, se o estresse é excessivo, sem ser acompanhado de exercício, e sem ser seguido de repouso reparador, ele vai ser cumulativo e nocivo.

Kung Fu e Kempô fortalecem o o corpo mental

Vya Estelar – Como tirar o peso mental do cotidiano que gera tanta tensão?

Alex Botsaris – É preciso desenvolver a capacidade mental de lidar com estresse e situações limite. Isso pode ser obtido em lutas marciais que usam práticas meditativas como o Kung Fu e o Kempô, por exemplo.

Qualidade de vida: a principal dica

Vya Estelar – Quais dicas o senhor daria para se ter qualidade de vida?

Alex Botsaris – A primeira é procurar lidar da forma mais positiva e construtiva possível com todas as dificuldades da vida moderna e do dia-a-dia. Isto exige que a pessoa seja otimista e se esforce para melhorar continuamente seu humor. É preciso saber dizer não e limitar as sobrecargas vindas do trabalho ou da família. E por fim temos as atividades para controlar o estresse.

Vya Estelar – O que é a ‘Síndrome de Plutão’ e o que temos a ver com ela?

Alex Botsaris – Plutão é o Deus do inferno. É nesse local que se sentem as pessoas deprimidas. O estresse acaba com os estoques de neurotransmissores cerebrais, e joga os indivíduos num buraco que parece não ter mais fundo. Esse buraco negro, frio, escuro e solitário é a 'Síndrome de Plutão'

Vya Estelar – Como se livrar desta ‘Síndrome’?

Alex Botsaris – É preciso buscar auxílio médico, pois a pessoa que chega nesse grau de comprometimento está seriamente doente e vai precisar de usar medicamentos.

Górgonas e 'Síndrome do Pânico'

Vya Estelar – O que temos a ver com os ataques das*Górgonas?

Alex Botsaris – O ataque das Górgonas tem a ver com o medo e é mais comum em mulheres. As Górgonas eram tão feias e davam tanto medo, que as pessoas não conseguiam olhá-las e continuarem vivas. Quando o estresse afeta o cérebro consumindo os neurotrasmissores, as pessoas começam a ter ataques de pânico como se fossem morrer sem razão aparente. É o que a medicina chama de síndrome do pânico.

Vya Estelar – O que fazer para se defender destes ataques?

Alex Botsaris – É outra situação que merece atendimento médico.

Vya Estelar – Existe uma receita fácil para acabar com o estresse?

Alex Botsaris – Você acha que pode existir um receita simples para um problema que afeta profundamente 30% da pessoas no mundo ocidental? Mas algumas dicas, como as que dei acima (exercícios, meditação, massagem, acupuntura, atividades artísticas) podem ajudar.

*Górgona: Mulher horrenda, perversa, repulsiva, por alusão às três fúrias mitológicas Esteno, Euríale e Medusa, mulheres que tinham serpentes por cabelos e que transformavam em pedra aqueles que as encaravam. (Fonte Michaelis)