Competições esportivas devem se adequar ao jovem

por Renato Miranda

Sobre vários acontecimentos envolvendo atletas profissionais com comportamentos negativos (indesejáveis) no esporte e que refletem um exemplo desfavorável para a vida de crianças e jovens em geral, vários pais, alunos universitários e profissionais me perguntam qual o caminho a seguir desde a infância a fim de evitar tais comportamentos. Eu considero como uma boa fonte preventiva para atitudes indesejáveis o ajustamento de experiências pessoais antecedentes às competições profissionais e amadoras avançadas. Em outras palavras, promover estratégias de ações que auxiliem na formação de uma boa personalidade.

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Dentre dessas ações está o esforço coletivo de se formar profissionais de alta qualidade profissional e pessoal. Em minhas aulas, consultorias e palestras eu sempre insisto dizer a respeito dos benefícios físicos, psicológicos e sociais advindos de uma liderança capaz e influenciadora ou seja, os profissionais do esporte.

O líder (treinador, professor, preparador físico etc.) de alta qualidade forja um ambiente esportivo de alto nível recheado de experiências técnicas e sociais que repercutem em possibilidades concretas de oferecer aos jovens condições para que os mesmos consigam atingir níveis desejáveis de autoestima, confiança, motivação, controle emocional, disciplina, ajustamento social além de desempenho físico e técnico propriamente dito.

Noutro sentido deve-se investir cuidadosamente no desenvolvimento emocional dos jovens no processo competitivo. Não devemos esquecer que as questões polêmicas envolvendo competições não residem propriamente nela (a competição), mas sobretudo no locus onde a mesma acontece por meio das influências dos adultos (professores, técnicos, pais e mídia). Além disso, vale a pena refletir sobre a atração que o elemento competitivo nos proporciona, pois aí está a magia do esporte.

Portanto, desenvolver emocionalmente o jovem em relação à competição é fundamentalmente buscar constantemente o equilíbrio de sentimentos nos treinamentos, competições e pós-competições, para se conviver com alegrias, frustrações, fracassos, sucessos como forma de preparo e formação pessoal, para que no futuro tenha-se uma sólida e positiva estrutura emocional.

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Para que isso seja incorporado de maneira didática e promissora na vida dos jovens atletas, é necessário que desde as primeiras experiências esportivas pais e treinadores adequem às competições aos jovens.

Isto é, devemos (pais e profissionais) avaliar quais competições são adequadas às exigências do desenvolvimento físico e psicológico do jovem atleta. Lançar jovens diretamente às competições sem prepará-los adequadamente e sem observar seu nível de desenvolvimento geral é desperdiçar uma boa chance de educar.

Assim sendo, é aconselhável observar o ambiente competitivo para saber se há harmonia ou hostilidade, as condições gerais para a prática do esporte, desde a segurança aos objetivos da mesma. Quanto mais nova a criança menos importa o resultado da competição. Aqui vencer ou perder devem ser constantemente relativizados; avaliar o nível de desempenho, a fim de se evitar a discrepância de características (idade, altura, força física etc.) e qualidades (desempenho, nível de competitividade, experiência, etc.) entre as crianças e harmonizar o ambiente competitivo com os objetivos dos jovens para se estabelecer possibilidades reais de desempenho e satisfação.

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Outra estratégia para que a experiência esportiva no futuro sirva como um modelo positivo para uma das mais variadas formas de auxiliar o bem viver depende prioritariamente dos valores familiares transmitidos aos jovens desde a infância. É de significativa importância psicossocial os valores que a família tem e transmite ao jovem atleta. Os comportamentos socialmente desejáveis ou indesejáveis pela sociedade moderna repetidos por atletas adultos em grande parte são reflexos naturais e duradouros dos valores transmitidos pela família principalmente pelos pais.

Muito embora esses valores, com o tempo possam vir a ser transformados através da maturidade do atleta provocada por suas diversas experiências no meio esportivo e social, devemos considerar que mesmo com a maturidade os valores transmitidos pela família podem também ser solidificados ainda mais. Notadamente se são valores positivos, há uma forte tendência da ocorrência de comportamentos desejável, é aquilo que chamamos de bom exemplo.

Em texto escrito anteriormente (clique aqui e leia) ressaltamos a tendência da consequência dos comportamentos esportivos conforme os valores transmitidos pela família. Como exemplos nós podemos relacionar: como o valor da honestidade se transforma no comportamento do atleta correto (fair play), a confiança em coragem, a esperança em persistência, e a liberdade (disciplinada!) em criatividade. E por outro lado, como o valor da desonestidade reflete no futuro um comportamento atlético de insegurança, a vaidade em egocentrismo, o desrespeito em indisciplina, o individualismo em insolência e a opressão em precariedade.

Se algumas dessas estratégias estiverem ausentes, por um motivo ou por outro, nada de desespero, resta ainda um grande aliado: no ambiente esportivo sempre se terá a oportunidade de estabelecer contato com pessoa(s) com pré-requisitos pessoais e profissionais que pode(m) ajudar a redirecionar um novo caminho. E um caminho que sempre estará aberto é o do esporte!