Quero ser amiga (o) dos meus filhos

por Regina Wielenska

Posso parecer arrogante, mas se os pais virarem “amigos”, os filhos correm o risco de se tornarem órfãos de pais vivos. Antes que o apedrejamento comece (risos), vou me explicar.

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Para uma criança, é importante ter uma figura parental estável, alguém capaz de protegê-la com amor (vamos atravessar a rua de mãos dadas), lhe dar limites para impulsos excessivos (agora é hora de desligar a TV, por pijama e escovar os dentes, você quer que eu te leia a história depois?), guiar seus primeiros passos (o fogão pode queimar, é perigoso, está muito quente), incentivar a autonomia possível (vamos ver se você já consegue fazer sozinho), entre outras tantas funções. Na verdade, é uma tarefa cansativa, 24 horas, sete dias por semana, por uns bons anos.

Certas práticas educacionais possuem um caráter “administrativo”, outras são mais filosóficas, abstratas, imateriais, referentes a questões do universo psíquico e dos valores vitais. Como educadores, os pais estão imbuídos do dever de cuidar daquela vida, construir individualidades e formar cidadãos.

Como admitir que uma mãe, para parecer legal pra filha, considere mentir ao pai sobre o paradeiro da garota? Dá para considerar pai um homem que faz vista grossa ao fato de que seu filho de doze anos vai voltar da festa de carona, tarde da noite, sem saber bem com quem e como, tudo para evitar ter que sair de casa para pegá-lo por aí? Quem já não viu uma mãe peregrinar por horas de loja em loja num shopping center, berrando com a criança que “não quer colaborar” e “fica chata”, enquanto ela prova sapatos freneticamente e só pensa em suas necessidades adultas? O problema é da mãe ou da criança? Se o filho morrer num acidente de carro, com um adolescente bêbado de 16 anos ao volante, o que dizer?

Dizer não a um filho pode ser demasiado trabalhoso, tarefa que talvez esteja entre as mais importantes para um pai ou mãe. Aprender que dinheiro acaba ou pode vir a acabar, que tarefa doméstica é para todos (na exata medida das necessidades, habilidades e condições de cada membro da família).

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Se os pais jamais se alimentam bem, frequentemente fazem escolhas insensatas e desconhecem os rudimentos dos bons modos à mesa, o que esperar do comportamento alimentar de uma criança ou adolescente?

Recomenda-se não confundir a amorosa e responsável parentalidade com a frouxidão da amizade irresponsável, aquela que isenta os pais de uma série de funções essenciais, ainda que frustrantes, difíceis e que demandam um ânimo que nem sempre temos ao nosso bel dispor.

Fazer uso com discernimento da autoridade não é ser arbitrário, nem autoritário. Ser um pai amigável não equivale a funcionar apenas como um amigo do filho, um igual com o qual não precisa se preocupar. Ao contrário, faz bem a uma criança ou jovem sentir que seus pais investem no seu desenvolvimento, conhecem sua vida, o respeitam e o amam por inteiro, sempre responsavelmente. Por tudo isso, ser pai deve superar qualquer omissão ou ato parental de perniciosa cumplicidade.

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