Por que as pessoas conspiram?

por Roberto Goldkorn

A percepção que algumas pessoas têm de estar havendo uma grande conspiração para modelar os seus destinos, é tão antiga quanto universal. Podemos dizer que, com licença do grande Jung, se trata de um arquétipo. Porém, apesar de todo arquétipo virtual, tem uma base real.

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César não acreditou nos sussurros sobre conspirações, principalmente envolvendo o nome do seu querido Brutus, e deu no que deu. Os Templários eram acusados de conspiradores natos, porém foram assassinados em massa por uma conspiração, ou poderíamos dizer uma anticonspiração.

Há um livro muito interessante, O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, que tenta provar que os descendentes de Jesus formam uma sociedade altamente secreta que conspira para colocar um legítimo herdeiro do Mestre Maior no trono do mundo, seja lá o que isso signifique.

Existem grupos organizados que têm certeza absoluta que a ONU é na verdade uma "fachada" e que ali se trama uma conspiração para remodelar o mundo sem a participação democrática dos seus habitantes, e obedecendo aos interesses das mega corporações.

Conspirações são primas das paranóias, algumas poucas são reais, outras tantas ficcionais, frutos da imaginação rebelde. Ouvi falar de uma meta teoria da conspiração, ou seja, uma conspiração que "fabrica" conspirações ridículas para desprestigiar as teorias das conspirações (VERDADEIRAS), e colocar os seus defensores no limbo dos pirados e sem credibilidade.

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Os filmes, livros, e reportagens sensacionalistas teriam essa função de oferecer ao público em forma de boi de piranha, teorias furadas, farsescas, e sem chance de passar no vestibular das mentes mais críticas. Assim as conspirações reais jogam fumaça nos olhos do público e desestimulam a quem poderia colocar seu sigilo em risco.

Roswell, assassinato do Kennedy, da Marylin Monroe, crises mundiais, quedas de governos, homens de preto, sumiços e abduções, formam um mundo nebuloso onde o ar ácido é irrespirável, para o homem comum, que acorda passa margarina no pão e vai ao trabalho. Acredito nas conspirações como apêndice do medo atávico do ser humano, medo de não controlar nada, nem os próprios intestinos.

Os "poderosos", aqueles que estão por trás das verdadeiras conspirações são pessoas que reagiram ao medo primitivo, de forma psicótica buscando armar mecanismos de controle daquilo que é incontrolável, buscando o poder, hipotecando a vida pelo sonho de ser Deus, sem um diabo para atazanar.

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Acredito nas conspirações grandes e pequenas, as tramadas em escritórios em NY e as tramadas no botequim do Mané em algum subúrbio brasileiro. Mas não acredito na sua eficácia absoluta, nem permanente. Conspirações têm a mesma volatilidade e diversidade que os indivíduos que as criam e, portanto, sofrem dos defeitos dos seus criadores.

No momento há uma conspiração para fazer um presidente num país qualquer por um grupo muito forte. Há outro grupo que conspira em cima de um segundo nome, outro ainda aguarda na tocaia para cooptar o homem do grupo que vencer, mas tem um plano B, se esse homem não for cooptável, e há um grupo que tem a pretensão de controlar todos os grupos iludidos achando que detêm algum poder. Fora desse país há um grupo de conspiradores que já estão se reunindo secretamente, por videoconferência, para exercer um discreto controle sobre a bagunça dos conspiradores nativos. E que sabe em algum planeta ou em outra dimensão há grupos que por razões ocultérrimas, conspiram para inocular os genes deles no neto desse futuro presidente.

Lá do Alto, Deus e o Diabo, num interminável jogo de gamão, de vez em quando dão uma espiadinha na casa do Big Brother's, e riem tanto que chegam a tossir (aqui na Terra acreditamos tratar-se de trovões).

De minha parte sou um conspirador frustrado, tenho mil teorias, na verdade conspiro o tempo todo, mas não consigo interessar ninguém nas minhas conspirações – as pessoas acham que elas não dão lucro, esse negócio de melhorar o mundo, além de muito trabalhoso, não dá dinheiro ou poder no curto prazo. Por mim tudo bem, continuo querendo, meu cachorro outro dia me fez uma revelação espantosa – sou a reencarnação do cavaleiro da triste figura, ele mesmo, Don Quixote de La Mancha (e ele seria o Sancho "poodle" Pança). Não acreditei logo de cara, é claro, mas pensando bem…