Por que antigos contos de fadas ainda viram filme como ‘A Princesa e o Sapo’

por Leniza Castello Branco

'A Princesa e o Sapo' (Direção: Ron Clements e John Musker), dá uma ótica moderna ao antigo conto de fadas e apresenta a primeira princesa negra. O filme acontece em Nova Orleans, com trilha sonora em ritmo de jazz.

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Os contos de Fadas existem em quase todas as culturas. Encantam crianças e adultos há várias gerações. Os analistas junguianos além de estudar psicologia, comportamentos e sonhos, se dedicam também a estudar mitologia e contos de fadas. Qual seria a necessidade de estudarmos histórias infantis?

Os motivos e enredos são parecidos. Pode ser uma princesa europeia, asiática, africana, um herói pobre, mas corajoso, o mais fraco dos irmãos, um príncipe valente. Apesar de tão antigos, continuam fascinando as crianças de hoje e se adaptando aos mais modernos meios de comunicação. No cinema, na TV nos videogames… Chapeuzinho Vermelho, o Lobo Mau, Gata Borralheira, vão sofrendo adaptações e incorporando valores novos, mas “a base é uma só”.

Como explicar que essa base seja tão parecida em várias culturas, que praticamente não tinham pontos de conexão?

Inconsciente coletivo

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Para C.G.Jung a explicação está no “inconsciente coletivo”.

O inconsciente coletivo ou como chamou mais tarde “psique objetiva”, engloba a totalidade da psique, cria imagens e conceitos e abrange todas as manifestações psíquicas, incluindo a criatividade e a religiosidade.

Para Jung, os conteúdos do inconsciente apareciam como imagens em sonhos e em criações artísticas, nos mitos e nas religiões. Eram conteúdos coletivos, apareciam em todos os seres humanos. Compunham uma base comum a todos. Isso levou-o a estudar mitologia e religiões e compará-las. A base de todas as religiões e dos mitos estariam nesse inconsciente coletivo, e por isso personagens e deuses de países e épocas longínquas e separadas pelo tempo e espaço têm um perfil semelhante.

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Os heróis se comportam do mesmo jeito, as princesas e príncipes também, seja na Europa no sec XIX , ou na antiguidade antes de Cristo, ou no Brasil de hoje.

Por exemplo o tema da “mulher que redime seu amado da forma animal” existe inalterado há mais de 2000 anos. No conto “A Bela e a Fera” a moça é obrigada a se casar com um monstro para que ele não mate seu pai, e aos poucos esquece sua feiura externa e se apaixona por suas qualidades de caráter, e ao beijá-lo ele se transforma num belo príncipe.

No teatro musical se encena até hoje “ A Bela e a Fera’ com enorme sucesso. No século II d.C. Apuleio, escritor romano escreveu, “Amor e Psique” que tem os mesmos elementos desse conto. Sabe-se que existem contos muito mais antigos e que até hoje permanecem com pouquíssimas mudanças.

Até o século XVIII, eram contados para adultos e crianças. No inverno, as famílias se reuniam e quase sempre uma mulher mais velha contava para todos os contos, que tinham uma tradição oral e passavam-se de geração a geração.

Os irmãos Grimm se interessaram e começaram a recolher esses contos, e tiveram um enorme sucesso, as pessoas começaram a perceber como os temas se repetiam. Estudiosos tentavam descobrir de onde tinham vindo e tentaram construir teorias que provassem de onde vieram, da Babilonia, da Ásia.

Outros diziam que os temas vinham de sonhos, que depois eram contados e se transformavam em histórias e lendas.

Adolf Bastian em 1868 disse que os temas tinham uma base que ele chamou de “pensamentos elementares”, que aparecem na India, na Babilonia, no Japão. Os contos e mitos não migravam, mas seriam congênitos na psique (mente) das pessoas.

Jung concordou com essa teoria e desenvolveu o tema dando a esses pensamentos elementares o nome de “arquétipo”, mas acrescentou que não eram pensamentos mas uma fantasia, uma imagem poética elementar, ou um impulso que era transmitido geneticamente. Como um instinto animal, assim como um passarinho que nasce e sabe fazer o ninho, o ser humano criaria mitos, contos e religiões.