Leitura de contos de fadas podem ajudar as crianças a lidar com seus problemas

por Leniza Castello Branco

No texto anterior, expliquei por que antigos contos de fadas ainda viram filme como 'A Princesa e o Sapo' (clique aqui e leia). Agora vou explicar por que *Jung se interessou por esses contos.

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A psicologia de Jung se interessa em interpretar contos de fadas e mitos, porque neles se pode estudar no dizer de Jung a “anatomia da psique”, ou seja, os arquétipos, que representam estruturas básicas da psique humana.

Um conto é mais impessoal que um sonho. Para analisar um sonho devemos conhecer a vida do paciente, mas para interpretar um conto, não há necessidade. Então interpretá-los é um treino excelente para os analistas, que aprendem muito sobre comportamentos básicos.

Os conflitos familiares, o incesto, a disputa entre irmãos, as dificuldades com a madrasta, perdas, luto, a luta do herói para salvar a donzela…, todos esses temas universais estão representados nos contos de fadas. Entendê-los e estudá-los nos ajuda quando encontramos o mesmo tema numa família real.

Quando um analista tem um cliente de outro país, pode entendê-lo melhor se conhecer os contos de fadas, já que a linguagem é cosmopolita e aparece em todas as culturas.

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O psicanalista Bruno Bettelheim “A psicanálise dos Contos de Fadas” e a analista junguiana Marie Louise VonFranz “A Interpretação dos Contos de Fadas “ onde contam e interpretaram vários contos de fadas.

Durante o trabalho analítico podemos usar os contos para ilustrar o que acontece com o paciente. Por exemplo, uma jovem que vivia um conflito porque a mãe não queria envelhecer e disputava roupas e festas com ela. Lendo a história da Branca de Neve pode se perceber a agressividade da mãe e a dificuldade que tinha para aceitar a beleza da filha, esse desabrochar era uma representação de que estaria ficando velha. Por isso fazia de tudo para impedir que a filha crescesse.

Assim a jovem percebeu que esse conflito vivido com a mãe era universal. Sua mãe vivenciava o aspecto terrível da mãe destruidora, que ela teve que enfrentar para crescer e desenvolver seu próprio feminino.

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Geralmente os contos começam com “era uma vez…”, isto é num tempo desconhecido e num lugar imaginário, que pode ser na nossa psique (mente).

No final há sempre palavras rituais que significam que o conto acabou e que devemos sair do mundo da fantasia e voltarmos ao mundo real. Por exemplo, “entrou por uma porta e saiu por outra, quem quiser que conte outra”; ou “casaram-se e foram felizes para sempre; "eu fui convidada para a festa, trouxe um doce para você mas deixei cair no caminho…”

Assim, recomendo as mães e pais que continuem a ler os eternos contos de fadas para seus filhos. Apesar de tão antigos, ainda são atraentes, emocionam e ajudam as crianças a lidarem com seus problemas, com seus medos internos e a se colocar no papel de princesa, príncipe, herói e colaborar com seu crescimento psicológico.

*Carl Gustav Jung: psiquiatra suíço (1875-1961), fundador da psicologia analítica, também conhecida como psicologia junguiana.