Até que ponto podemos controlar a vida?

por Roberto Goldkorn

Uma cliente estava me falando a respeito de um livro escrito por um grande guru de origem indiana. Ele dizia que o universo é perfeito e que nós somos exatamente aquilo que produzimos mentalmente e projetamos no Cosmo. Ela foi vítima de paralisia infantil quando era bem menina e sofre naturalmente até hoje as consequências dessa doença.

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Fiquei pensando nisso e observei que em termos cósmicos não existe essa perfeição alardeada por tantos gurus da autoajuda.

Galáxias colidem entre si gerando destruição e caos, que mais tarde vai se transformar em ordem para depois começar tudo de novo. Alguns sistemas funcionam bem (de qual ponte de vista cara pálida?) outros nem tanto (idem), mas percebemos que tanto lá no macrocosmo quanto no nosso microcosmo acidentes acontecem, ou como diz o meu filho shit happens!

Concordo que grande parte do que somos ou de onde estamos na vida se deve aos modelos mentais adotados. Acredito, porém que uma parte daquilo que nos acomete se deva a acidentes e a forças que nos são superiores e obviamente estão além do nosso poder de controlá-las. Das balas perdidas a acidentes genéticos e tsunamis, a história da humanidade está marcada por essa estranha correlação de forças.

Quando os neandertais e os cro-magnon se defrontaram num passado distante, não se podia dizer que o neandertal por ser menos aquinhoado de massa encefálica fosse o responsável por sua derrocada diante de nossos ancestrais mais bem dotados de cérebro e agressividade. Os atarracados e bem adaptados neandertais foram extintos e os cro-magnons conseguiram perpetuar seu material genético.

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Querer convencer seus leitores de que somos controladores dos processos de nossas vidas pode ser até uma boa estratégia do tipo: “Vá lá e assuma o comando!”, mas não é verdadeiro. Existem fatores de imponderabilidade que podemos atribuir a vários agentes: Deus, o diabo, a natureza, o código genético, ou simplesmente a acidentes.

Isso não quer dizer que esses autores estejam completamente errados. Existe sim uma necessidade de assumirmos o controle daquilo que é possível. Uma pessoa nascida autista, alguém que teve paralisia infantil, ou que foi pego pelo Alzheimer, tem sempre uma margem de manobra autooriginada e, se abdicar-se dela, estará retrocedendo no processo evolutivo, estará dando um passo atrás na direção do macaco que fomos.

Por isso é tão importante para todos aqueles que não foram vítimas das balas perdidas do destino, o esforço máximo para não agir como se fossem deficientes físicos ou mentais. Acidentes acontecem, mas quando estamos dentro da não acidentalidade podemos e devemos assumir as rédeas de nossas vidas.

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