Crianças que trabalham nas ruas de SP têm problemas emocionais

Da Redação

Uma pesquisa do Programa de Atendimento e Pesquisa em Violência (Prove) da UNIFESP (setembro 2010) coordenada pela pós-doutoranda Andrea Feijó de Mello mostra que tanto a saúde mental das crianças que vivem abaixo da linha da miséria – e que, em sua maioria, trabalham nas ruas da cidade de São Paulo –, quanto à de suas mães não andam nada bem.

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O diagnóstico da saúde mental dessa população, bem como a avaliação sóciodemográfica, realizada em parceria com a ONG Rukha, aponta que 67% das 191 crianças avaliadas apresentam algum tipo de problema emocional que prejudica seu desenvolvimento. Dessas, 27% (50 crianças) tiveram diagnóstico fechado para distúrbios mais graves como transtorno de conduta, transtorno de oposição e desafio – dificuldade de seguir regras –, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e depressão. Em cerca de 9% das crianças também foi verificado a presença de enurese noturna (perda de urina durante o sono), problema que pode estar relacionado às questões emocionais.

Mariana Maciel, psiquiatra do Prove que também participa do levantamento, os dados são extremamente elevados quando comparados a outros estudos. De acordo com ela, a prevalência de alterações psiquiátricas em crianças nos países desenvolvidos é entre 10% a 20%. “Era esperado que, em países ainda em desenvolvimento, esse número fosse mais alto, ma não tanto assim”, afirma. “Outro estudo, realizado com uma comunidade de baixa renda de Embu, em São Paulo, essa prevalência foi de 22,4%”.

Mãe doente, filho problemático

Nas mães, a situação encontrada não foi diferente: 50% delas também apresentam problemas de saúde mental. “Existe uma importante associação entre a psicopatologia das mães e das crianças, o que deve ser levado em conta no planejamento de intervenções nessa população”, explica a psiquiatra.

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De acordo com Mariana, entre os fatores relacionados com a ida dessas crianças para as ruas, encontrados no estudo, estão a cor da pele (afrodescendentes), a presença de abuso físico e a saúde mental comprometida. “Conhecer as características das crianças expostas ao trabalho infantil é o primeiro passo para entender melhor esse fenômeno cada vez mais frequente nas grandes cidades do Brasil”.

Tanto as crianças avaliadas, quanto as mães são moradoras do Capão Redondo, zona sul de São Paulo, e trabalham nas ruas de áreas nobres da cidade. A renda média dessas famílias encontra-se abaixo da linha da pobreza e, em quase a totalidade dos casos, a mãe é a responsável pela criança e apenas 30% tem o pai morando no domicílio.