Pais têm dificuldade em reconhecer que seus filhos estão acima do peso

por Ceres Araujo

A palavra trabalho vem do latim tripalium, que significa instrumento de tortura, usado para punir indivíduos que, ao perderem o direito à liberdade, eram submetidos ao trabalho forçado. Mas isso foi em tempos bem distantes da nossa época atual. Com o decorrer dos séculos, trabalho passou a significar necessidade e razão de vida. O trabalho forma a identidade da pessoa e a profissão caracteriza o seu ser. Nos nossos tempos, o trabalho traz sentido para a vida e valor social.

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Na família constituída de anos atrás, o pai era o provedor e, além disso, o legislador, cabendo a mãe os cuidados com o filho e com o lar. Com a inserção da mulher no mercado de trabalho, mudanças consideráveis aconteceram na estrutura da família.

Na família contemporânea, a maioria de pais e mães trabalha para garantir sustento para a família e para manter uma boa autoestima. Possuem, eles, carreiras, ambições profissionais e, ainda, têm que avaliar muito bem o compromisso de se ter um filho, compromisso esse irrevogável por anos e anos. Ter um filho significa um aprendizado de se doar a um outro ser mais frágil e dependente e, sempre, privilegiar o bem-estar dele em relação às próprias necessidades.

Mães e pais cumprem hoje duplas ou mesmo triplas jornadas de trabalho e podem ser eficientes e felizes nelas. Quando as mães entraram no mercado de trabalho, os pais precisaram assumir de verdade o cotidiano da vida da casa e, consequentemente, o cuidar dos filhos. Muitas das funções maternas e paternas se misturaram e os filhos são realmente compartilhados.

Tudo é compartilhado: as alegrias de cada ganho no desenvolvimento, os prazeres do contato íntimo, as dificuldades em estabelecer limites, os medos das doenças, as angústias com os custos financeiros e com o futuro tão incerto dos nossos dias, entre outras alegrias e tristezas.

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Entretanto, na contramão desse processo histórico, em certos meios, tem surgido a ideia de que a opção de não trabalhar pode ser ou deve ser escolhida pelas mulheres, para poderem se dedicar em tempo total aos cuidados da casa e dos filhos. Prega-se a noção de que não é uma vergonha a mulher largar o trabalho para se dedicar aos filhos em tempo integral.

Pergunta-se: é uma opção que representa uma tendência nova? É uma opção genuína?

Bebês precisam muito de suas mães, crianças até pelo menos o fim do primeiro ano, precisam de tempo quase integral da presença materna. Os quatro meses de licença maternidade, atualmente permitidos no nosso País, não são suficientes para os importantes cuidados maternais. Caso a licença maternidade pudesse ser estendida, uma vantagem extraordinária para o desenvolvimento físico e mental das crianças brasileiras seria garantida. Em países mais desenvolvidos, o período da licença maternidade chega até um ano.

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Observa-se que algumas mulheres abandonam o trabalho, optando pelos cuidados da casa e dos filhos ao considerarem que seus ganhos como profissional no mercado de trabalho não compensam os gastos com a necessária contratação de empregados para cuidarem do lar e das crianças. Tais mulheres acreditam que depois poderão voltar ao mercado de trabalho, após o crescimento dos filhos, o que no nosso meio tão competitivo é, com certeza, muito difícil.

Outras mulheres com alguma fonte de renda suficientemente boa, prescindem da situação de trabalho, escolhendo ser donas de casa e mães de família, por acreditarem que estas duas funções são as de maior valor para a vida delas.

Existem opções licitas e ilícitas. Dentre as ilícitas, vale lembrar que não são poucas as mulheres que, fracassando na vida profissional ou antecipando frustrações no trabalho, compensatoriamente investem na função de donas de casa e mães de família.Tal conduta pode gerar grande ônus para seus filhos, pois estes, mais tarde, passam a ser cobrados como os responsáveis pela falta de realização profissional de suas mães, o que é no mínimo, injusto.

Estamos muito longe de conclusões definitivas a respeito do tema: largar ou não o trabalho para cuidar dos filhos. De um lado, sabe-se que as crianças necessitam de maternagem, pois é em função da relação com quem cuida dela, que a criança desenvolve sua mente, sua sensibilidade e sua capacidade amorosa. Sabe-se também que além de qualidade de cuidados, quantidade também é importante. Pais e mães não podem ser virtuais, precisam estar presentes. Do outro lado, a mãe e o pai são os modelos primários de identidade para a criança e precisam ser modelos fortes, íntegros e idealizados. Mães e pais necessitam continuar a evoluir como pessoas de valor e devem buscar o campo de investimento que de fato lhes seja genuíno.

Pais têm dificuldade em reconhecer que seus filhos estão acima do peso

por Ceres Araujo

Em artigo recente na revista “Pesquisa” da FAPESP, Carlos Fioravanti escreve sob o titulo “Coma menos, filho” sobre as mães que nem sempre reconhecem quando suas crianças estão acima do peso.

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O jornalista comenta uma pesquisa da Universidade Federal do Espírito Santo, na qual é revelado que apenas 10% das mães de crianças, com sobrepeso ou obesidade, reconheceram que seus filhos estavam realmente pesando acima do normal para a altura e para a idade.

As crianças com excesso de peso, tendem com alta frequência a apresentar problemas de pressão arterial, o que é um risco importante para doenças cardiovasculares, que é a principal causa de morte na população brasileira.

Calcula-se que 23,3% da população de crianças no Brasil, segundo essa pesquisa, tenha atualmente peso acima da normalidade.

Pode-se perguntar por que as mães não reconhecem quando seus filhos estão com peso acima do desejável. Poucos anos atrás, propagava-se a crença que bebês gordinhos eram bonitos e bem saudáveis. As mães eram congratuladas quando tinham bebês com “dobrinhas” nas articulações, e quando tinham bebês que “enchiam” o berço. Existia a suposição que o bebê e as crianças deveriam ter peso a mais, pois teriam uma reserva caso ficassem doentinhos. Jamais seria proposto o “Coma menos, filho”, mas sim o “Coma, pelo amor de Deus”.

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Por gerações, as crianças se aproveitaram do “Coma pelo amor de Deus” e a recusa a comer tornou-se uma estratégia para manipular o comportamento da casa e testar os limites de pais, desesperados quando não conseguiam alimentar seus filhos.

Atualmente, temos um cenário diferente. Estima-se que um terço da população do mundo faz regime e dois terços passa fome. A distribuição de riqueza demais heterogênea cria uma situação onde sobra alimentos para um grupo e há escassez para outro. Isso repercute na infância. Onde falta alimentos não existe transtornos alimentares, mas onde esses abundam, a tendência aos distúrbios relativos à alimentação aumentam, mesmo em crianças bem jovens.

Observa-se que hábitos inadequados, qualidade ruim na alimentação e lazer mais sedentário é compartilhado pelas crianças e por seus pais. A merenda escolar das escolas, que atendem às populações de renda mais baixa, assim como as cantinas das escolas particulares, oferecem às crianças alimentos com alto valor calórico e baixo valor nutritivo.

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Alimento é reforço primário e está relacionado a afeto. Assim recusar o doce, o salgadinho, o refrigerante, a batatinha ao filho é sempre doloroso. Mais difícil ainda é quando se tem um filho gordinho e um filho magrinho, o que é frequente acontecer. Que fazer?

Uma alimentação de rotina saudável, equilibrada é benéfica sempre para todos da família. Excesso de gorduras, de açúcares deve ser evitado, sabe-se hoje em dia. O comer bem é necessário à saúde e a relação com a comida precisa ser prazerosa, para gordinhos e magrinhos. Cuidado com o comer por ansiedade, com o comer para buscar compensar frustrações! O resultado é sempre catastrófico!

A criança gordinha e a criança obesa tendem a se transformar no adolescente gordinho e no adolescente obeso, alvos certos de gozações, chacotas e bullying. A nossa cultura, a nossa sociedade, os nossos tempos cultuam o magro e discriminam o gordo. Além dos problemas de saúde, acrescem-se os problemas com a autoestima, tornando a sobrevivência muito difícil nos grupos sociais.

Crescer com apelidos como “baleia” , “hipopótamo” não ajuda à valorização de ninguém.

Se a criança come por ansiedade, por fuga ou por mau hábito, ela precisa ser ajudada na raiz de seus problemas e a verbalização “Coma menos, filho” pode ser a expressão de pais conscientes, que desejam o bem para seus filhos, ainda que às custas de não dar um “docinho”.

Pais têm dificuldade em reconhecer que seus filhos estão acima do peso

por Ceres Araujo

Em artigo recente na revista “Pesquisa” da FAPESP, Carlos Fioravanti escreve sob o titulo “Coma menos, filho” sobre as mães que nem sempre reconhecem quando suas crianças estão acima do peso.

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O jornalista comenta uma pesquisa da Universidade Federal do Espírito Santo, na qual é revelado que apenas 10% das mães de crianças, com sobrepeso ou obesidade, reconheceram que seus filhos estavam realmente pesando acima do normal para a altura e para a idade.

As crianças com excesso de peso, tendem com alta frequência a apresentar problemas de pressão arterial, o que é um risco importante para doenças cardiovasculares, que é a principal causa de morte na população brasileira.

Calcula-se que 23,3% da população de crianças no Brasil, segundo essa pesquisa, tenha atualmente peso acima da normalidade.

Pode-se perguntar por que as mães não reconhecem quando seus filhos estão com peso acima do desejável. Poucos anos atrás, propagava-se a crença que bebês gordinhos eram bonitos e bem saudáveis. As mães eram congratuladas quando tinham bebês com “dobrinhas” nas articulações, e quando tinham bebês que “enchiam” o berço. Existia a suposição que o bebê e as crianças deveriam ter peso a mais, pois teriam uma reserva caso ficassem doentinhos. Jamais seria proposto o “Coma menos, filho”, mas sim o “Coma, pelo amor de Deus”.

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Por gerações, as crianças se aproveitaram do “Coma pelo amor de Deus” e a recusa a comer tornou-se uma estratégia para manipular o comportamento da casa e testar os limites de pais, desesperados quando não conseguiam alimentar seus filhos.

Atualmente, temos um cenário diferente. Estima-se que um terço da população do mundo faz regime e dois terços passa fome. A distribuição de riqueza demais heterogênea cria uma situação onde sobra alimentos para um grupo e há escassez para outro. Isso repercute na infância. Onde falta alimentos não existe transtornos alimentares, mas onde esses abundam, a tendência aos distúrbios relativos à alimentação aumentam, mesmo em crianças bem jovens.

Observa-se que hábitos inadequados, qualidade ruim na alimentação e lazer mais sedentário é compartilhado pelas crianças e por seus pais. A merenda escolar das escolas, que atendem às populações de renda mais baixa, assim como as cantinas das escolas particulares, oferecem às crianças alimentos com alto valor calórico e baixo valor nutritivo.

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Alimento é reforço primário e está relacionado a afeto. Assim recusar o doce, o salgadinho, o refrigerante, a batatinha ao filho é sempre doloroso. Mais difícil ainda é quando se tem um filho gordinho e um filho magrinho, o que é frequente acontecer. Que fazer?

Uma alimentação de rotina saudável, equilibrada é benéfica sempre para todos da família. Excesso de gorduras, de açúcares deve ser evitado, sabe-se hoje em dia. O comer bem é necessário à saúde e a relação com a comida precisa ser prazerosa, para gordinhos e magrinhos. Cuidado com o comer por ansiedade, com o comer para buscar compensar frustrações! O resultado é sempre catastrófico!

A criança gordinha e a criança obesa tendem a se transformar no adolescente gordinho e no adolescente obeso, alvos certos de gozações, chacotas e bullying. A nossa cultura, a nossa sociedade, os nossos tempos cultuam o magro e discriminam o gordo. Além dos problemas de saúde, acrescem-se os problemas com a autoestima, tornando a sobrevivência muito difícil nos grupos sociais.

Crescer com apelidos como “baleia” , “hipopótamo” não ajuda à valorização de ninguém.

Se a criança come por ansiedade, por fuga ou por mau hábito, ela precisa ser ajudada na raiz de seus problemas e a verbalização “Coma menos, filho” pode ser a expressão de pais conscientes, que desejam o bem para seus filhos, ainda que às custas de não dar um “docinho”.