Lan houses: orientações aos pais

por Ivelise Fortim de Campos – psicóloga do NPPI

Em nosso ultimo artigo, descrevemos o funcionamento de uma lan house situada em Santo Amaro, São Paulo (SP). Nosso propósito, de fato, não foi dar explicações, mas apenas descrever o que pudemos observar dentro daquela determinada lan house. Muitas pessoas sequer sabem o que é uma casa desse tipo, e acabam por fantasiar a respeito. Assim, a intenção do artigo foi apenas oferecer uma ilustração para o público que desconhece totalmente esse ambiente. Mas, a partir dessa publicação, recebemos muitos e-mails com pedidos de orientações sobre como os pais devem lidar com mais este entretenimento presente na vida dos jovens.

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Na verdade existem diversos tipos de lan houses, com ambientes variados. Aquela descrita em nosso artigo anterior apresenta um ambiente saudável e adequado à freqüência pelos jovens. Agora, é claro que dentre as centenas de lan houses espalhadas pela cidade de São Paulo nem todas se parecem com aquela descrita. Em todos os lugares onde acontecem agrupamentos juvenis a entrada das drogas e do álcool é passível de ocorrer, e se constitui em fator preocupante para muitos pais. Existem todos os tipos de ambientes em lan houses, e o ideal é que os pais possam visitar o local, com seus filhos, para avaliarem sua adequação.

Outro aspecto a ser considerado é a própria natureza dos jogos oferecidos. A principal pergunta dos pais e da comunidade em geral é sobre como os jogos violentos podem vir a afetar as pessoas, e neste caso em especial, o jovem ainda em fase de formação de sua personalidade. A violência, em nossos dias, não está presente apenas no videogame ou nos jogos de computador, mas também no cinema na televisão, e na imprensa de modo geral. No entanto, essas mídias são menos questionadas do que as informatizadas. Estamos vivendo em uma cultura violenta. Existe muita polêmica em torno do tema, com alguns pesquisadores acreditando que os jogos são responsáveis pelo aumento da violência, e outros que acreditam que a violência faz parte de um contexto mais geral. Nossa equipe acredita que os jogos eletrônicos não geram a violência, (caso contrário, outras mídias também a gerariam). Na verdade, os jogos fazem aparecer a violência humana, que em geral deve ser controlada para que possamos viver em sociedade. Podemos nos perguntar se o jogo Counter Strike é tão diferente assim dos jogos de "polícia e bandido", ou dos jogos de soldadinhos de guerra dos meninos de outras gerações – que também eram violentos à sua maneira – mas nunca foram contestados quanto à sua adequação enquanto atividades lúdicas especialmente masculinas.

O caráter lúdico desses jogos também é importante de ser lembrado aqui: As Lans, de hoje, são a brincadeira dos tempos atuais – cada geração teve as suas. Hoje, os brinquedos são de outra natureza, o que causa estranhamento a muitos pais, acostumados com as brincadeiras de seu tempo, realizadas ao ar livre e de modo mais "inocente".

O Counter Strike, jogo principal das lan houses, é praticado por mais de um jogador ao mesmo tempo, o que, de certa forma, implica numa interação com outros participantes; ou seja, de uma certa forma também pode ser considerado como um treino para a interação social. Pode-se jogar em casa, mas estar num ambiente em que todos visam o mesmo objetivo, como o caso das lan houses, torna o jogo bem mais interessante e motivador.

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Outro estranhamento que ocorre por parte dos pais é o longo tempo de permanência dos jovens nesse tipo de atividade, coisa pouco freqüente entre crianças e adolescentes; os jovens são capazes de permanecer horas a fio diante do monitor, jogando em rede. Se tal prática os tira de outros tipos de atividade, em contrapartida não deixa de ser um exercício de concentração e agilidade, que nem de longe pode ser comparado à passividade com que o jovem se detinha, por exemplo, diante de uma televisão.

Por outro lado, toda a atividade na infância e adolescência precisa ser regulamentada pelos pais. Assim como os jovens não podem passar o dia todo em frente à televisão, ou jogando videogame, também não devem passar horas consideradas demasiadas pelos pais nas lan houses. Assim como os pais regulamentam as "baladas" (saídas noturnas), também devem controlar a ida dos jovens às lan houses: se um jovem tem horário para voltar para casa a noite, deve ter também um limite definido para voltar da Lan. O ideal é que a criança ou o jovem possa balancear as atividades que fazem, alternando-as com atividades ao ar livre e atividades de interação social.

Mas, muitos se perguntam: qual o limite do uso normal de uma atividade deste tipo? O uso das lan houses, como qualquer outro lazer, não deve prejudicar os estudos, nem a interação social, ou seja, deve se constituir como um complemento na diversão do jovem, e não sua única e exclusiva forma. Procure, antes de tudo, perceber se o uso dos jogos computadorizados ou da lan house tem prejudicado estas e outras atividades do adolescente, tais como: horas de sono e alimentação, ou ainda os seus contatos com a família, amigos ou o rendimento nos estudos, e ainda, em alguns casos, o trabalho. Se tais prejuízos forem percebidos na vida de seus filhos, poderá ser necessária a ajuda de um profissional da área de Psicologia, que poderá auxiliá-lo a conduzir a situação.

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Se o próprio jovem sentir que tem uma compulsão (ou seja: se ele mesmo expressa a vontade de parar de jogar, sem conseguir pôr em prática essa decisão) a ajuda profissional também é indicada. É importante lembrar que o abuso das Lans nunca se configura como um problema em si mesmo. Isto é, é provável que o jovem em questão tenha problemas de outra ordem (emocional, familiar, etc.) e abuse do uso das Lans como forma de escapar de seus problemas; neste caso trata-se de um sintoma e não de uma causa. Por isso torna-se necessária a avaliação psicológica, visando investigar com maior profundidade o possível problema desse adolescente e fornecer a orientação e apoio necessários para seu encaminhamento.