Envio de mensagens instantâneas mudou percepção sobre prazo e urgência

por Andréa Lagareiro – psicóloga do NPPI

Hoje vivemos uma era de velocidade, de um "boom" de informações e, quanto a isso, não resta dúvida. Esta velocidade é um tanto quanto assustadora, principalmente para quem já viveu períodos nos quais o conhecimento nos chegava mais devagar e por diferentes meios de comunicação.

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Esta velocidade está, pouco a pouco, nos tornando ligeiramente mal-acostumados.

A tecnologia não traz apenas facilidades, proximidade e portabilidade. Traz também um questionamento ao ser humano, principalmente em relação ao tempo. O sentido do tempo passa por modificações, conforme nossas experiências de vida vão mudando. Um exemplo?

Antes, nos comunicávamos por cartas, e era absolutamente normal esperarmos cinco dias pela chegada de uma resposta. Atualmente, as cartas ainda são enviadas, mas utilizamos o correio eletrônico com mais frequência. Se enviarmos um e-mail e não obtivermos resposta imediata, já nos indagamos sobre o porquê desta demora.

Percebemos, nesta situação, que cinco dias eram um tempo ideal para receber o contato de alguém por carta, mas por e-mail, cinco dias tornaram-se uma eternidade. Claro, a possibilidade de redigir uma mensagem, poder enviá-la automaticamente de um computador com conexão à internet e saber que o destinatário a receberá imediatamente mudou a nossa noção de urgência e prazo. De fato, esta geração experimenta um sentido de tempo muito diferente do que se vivenciava há alguns anos.

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Se, no que tange a nossa vida cotidiana e pessoal, estas noções se modificaram, para aqueles que trabalham com prazos curtos e resultados imediatos, as mudanças são ainda mais enfáticas.

Hoje os profissionais de TI (tecnologia da informação), por exemplo, devem estar preparados, entre muitas outras tarefas, para identificar, diagnosticar e solucionar problemas de usuário em um clique!
Todo prazo é urgente, toda solicitação é importante, todo problema é prioritário e toda solução deve ser efetiva e executada com perfeição.

Não parecem ser expectativas bem altas? Pois é, de fato são. A prova disso é que cada vez mais, profissionais de diversas áreas têm tido dificuldades para lidar com a ansiedade provocada por essa dinâmica de trabalho tão superestimada.

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Insônia, desconforto ao tentar descansar, sono conturbado, alterações no apetite, alterações da libido, dificuldades de memória, concentração e atenção são alguns dos sintomas relatados por esses profissionais.

Frequentemente, trabalhadores relatam estar em um ambiente não profissional ainda pensando em soluções e demandas do trabalho.

A necessidade de constante atualização também é um fator ansiolítico para essas pessoas. Pense bem. Se nós, usuários, a cada dia aprendemos uma nova tecnologia, um novo "gadget", um novo "device", uma nova funcionalidade, que dirá quem trabalha com isso ou depende disso para executar suas atividades. Acompanhar o ritmo das descobertas e das novas aplicações é uma obrigação para os profissionais, e a velocidade é alucinante.

O ser humano não é apenas a soma de suas partes. Ninguém é segregado entre "Fulano no trabalho", "Fulano no relacionamento", "Fulano na família". Nós somos um conjunto interdependente de características pensamentos, emoções e sentimentos.

Sendo assim, é natural que a ansiedade gerada pelo aspecto profissional seja também verificada em outras esferas, como nos relacionamentos.

Um relato comum tem sido a dificuldade que se apresenta ao não se conseguir resolver prontamente conflitos, como se fossem programação de computadores. Ter que aguardar um posicionamento ou decisão do outro parece um novo desafio, uma vez que, no dia a dia, temos que responder e solucionar imediatamente as demandas que vão surgindo.

A psicoterapia, ao abrir a possibilidade de discutir abertamente sobre essas interlocuções têm se mostrado positiva. Talvez, dividir um pouco o fardo de todas essas expectativas e observar com um olhar mais sereno e focado sobre elas possa, de fato, promover a reflexão sobre o sentido que o tempo tem em nossas vidas e do quanto administrá-lo de formas distintas de acordo com sua finalidade, pode ser saudável.