Psicoterapia online: o que é permitido

por Katty Zúñiga – psicóloga do NPPI

O NPPI – Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP – realiza, no dia 20 de setembro próximo, a sua terceira Jornada “Psicoinfo”. Este evento, que acontece a cada dois anos, reunirá profissionais de todo o país, que discutirão diferentes aspectos de como a Internet (e a informática, de modo geral) influencia e modifica a Psicologia, mediante as novas demandas trazidas pelos clientes, bem como os desafios que propõe aos profissionais da área.

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Esse tema já ultrapassou os limites dos círculos de pesquisa, restritos aos psicólogos, passando a fazer parte do dia-a-dia do cidadão comum. Assuntos como dependência da Internet e atendimentos psicológicos online interessam a todos nós: não apenas aos grupos que pesquisam esses temas, como o próprio NPPI, mas também aos demais profissionais da área, que, em sua maioria, não sabem como lidar com essas novas questões, trazidas pelos seus pacientes.

Apesar dessa crescente demanda, os terapeutas não podem simplesmente abraçar essa nova vertente da psicologia de maneira leviana. A integração da informática com a Psicologia exige várias habilidades novas e específicas desses profissionais, e abre um leque de questões éticas delicadas.

Atendimento online

Além de uma boa base conceitual específica dessa nova área, o terapeuta interessado deverá adquirir uma razoável vivência pessoal no mundo virtual para que possa desenvolver as habilidades necessárias para oferecer o atendimento online. Realizada dentro de um enquadre completamente diferente do consultório convencional, nessa nova modalidade o elemento central do contato é a escrita, e não mais a fala e o olhar direto do terapeuta sobre seu cliente, que lhe permite, por exemplo, captar as expressões corporais tão importantes num atendimento presencial.

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Além disso, de acordo com a legislação atual, o terapeuta deverá seguir uma série de normas que regulamentam esse tipo de trabalho em Psicologia: desde a pré-predefinição da sua duração, até as formas de preservação do sigilo e privacidade durante o processo, entre outras. Evidentemente, será necessária também uma boa experiência prévia no atendimento presencial para que possa atuar de forma mais eficiente no atendimento online.

Da mesma forma que a tecnologia afeta a psicoterapia, também a demanda da população vem se transformando, e os pedidos de orientação que nos chegam, via e-mail, são os mais variados, muitas vezes relacionados aos usos da internet. Entre os temas mais freqüentes dessas mensagens podemos destacar: pessoas que se dizem dependentes do uso da Internet, ou são alvos de cyberbulling, apresentam problemas no uso dos games, ou ainda dificuldades nos seus relacionamentos afetivos. Essa demanda não provém apenas da nossa população local, mas também de outras cidades ou mesmo de outros países.

Cabe frisar ainda a necessidade da observação da ética envolvida nessas novas formas de intervenção psicológica, agora em suas versões virtuais, pois, ainda que os princípios éticos a serem seguidos sejam essencialmente os mesmos, algumas adaptações dos nossos procedimentos são necessárias nesse novo espaço de atuação. Podemos citar um exemplo: No Brasil, as ‘psicoterapias’ online continuam sendo aceitas pelo Conselho Federal de Psicologia apenas se forem realizadas em caráter de pesquisa. Já em outros países, como EUA e Reino Unido, esta prática pode ser oferecida amplamente pelos profissionais da área.

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Muitos estudos e pesquisas vêm sendo realizados, e são muito relevantes para o desenvolvimento desta nova área da Psicologia, cuja demanda cresce a cada dia. Pesquisas sérias, com embasamento teórico sólido e com experimentos comprovados darão maior consistência e fundamentação para a legalização desses serviços. Somente reunindo a base empírica suficiente poderemos pleitear o reconhecimento e a abertura efetiva desse que é um precioso campo de trabalho.

Essa é uma área de inevitável expansão, oferece um campo imenso, mas os profissionais interessados devem ter cautela, respeitando fronteiras e limitações, para desse modo conquistar novas oportunidades de atuação. Com esse objetivo, a III Jornada do NPPI se propõe a discutir e trocar idéias sobre o que há de mais arrojado nesse campo no Brasil e no mundo. Esse debate é multidisciplinar e todos os profissionais interessados, estão convidados a participar. A mudança está em curso e devemos nos apropriar deste conhecimento.