Diálogo eficiente exige contexto interpessoal

por Luís César Ebraico

Temos falado sobre a QUALIDADE de nossos diálogos, em especial sobre o quanto eles promovem ou não a saúde psicológica. Falemos, hoje, sobre os CONTEXTOS em que esses diálogos ocorrem. Para isso, inventemos uma personagem, o Dr. Procópio, provecto e bem sucedido advogado. Aparelhados dele, inventemos também duas cenas.

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CENA I

Dr. Procópio entra esbaforido no elevador do prédio onde há anos trabalha, elevador já quase repleto e preste a partir, no qual se trava o seguinte diálogo:

ASCENSORISTA: – Bom dia, Dr. Procópio! Tudo bem com o senhor?
PROCÓPIO (no repleto elevador): – Não! Nada bem! Descobri esta manhã que, há muito tempo, minha mulher está me corneando com o vizinho e que meu filho e todo o prédio em que eu moro sabem disso!

Pareceu bem? Imagino que não. E por quê? Devido ao princípio sustentado pelo seguinte dito popular: "Mal educada é a pessoa a quem se pergunta como ela vai … E ELA RESPONDE!"

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Mas não abandonemos Procópio. Passemos à segunda cena.

CENA II

Nela, o nosso protagonista, nesse mesmo dia, se desloca para uma sessão de análise, com jovem e guapa terapeuta, onde se trava o seguinte diálogo:

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TERAPEUTA: – E então, quais são as novidades?
PROCÓPIO (avexado com a possibilidade de que a bela terapeuta, que lhe atrai enquanto mulher, o considere um otário): – Tudo bem! Estou só com um pouco de dor de cabeça… (e mantém-se em silêncio até o fim da sessão).

ANÁLISE

Comparemos as cenas I e II. Tudo errado? Sem dúvida, tudo errado. E por quê? Porque a comunicação eficiente exige, antes de tudo, que saibamos diferençar os CONTEXTOS INTERPESSOAIS em que estamos inseridos. Dr. Procópio não foi capaz de fazer isso: expôs sua vida íntima onde não deveria e encobertou-a onde deveria tê-la exposto. Coisa rara? Nem um pouco! E por quê? Bem, voltaremos sobre isso.

Esta coluna se propõe a relatar experiências sobre o poder da palavra em nossas vidas. Aqui serão relatados dezenas de fragmentos de diálogo – reais ou fictícios – segundo os pontos de vista da Loganálise, mostrando onde e como esses diálogos apresentam elementos favoráveis ou desfavoráveis ao estabelecimento de uma comunicação sadia. *A Loganálise é um filhote da Psicanálise: pretende mostrar como o cidadão comum, em seu dia a dia, pode tirar proveito de conceitos como repressão, fixação, trauma e outros para promover sua própria saúde psicológica e a daqueles com quem se relaciona.