Quem tem Alzheimer pode dirigir?

por Elisandra Vilella G. Sé

Dirigir um veículo é um ato importante para a independência da pessoa e requer segurança e cautela. Na doença de Alzheimer numa fase inicial, ocorrem dificuldades relacionadas não só à memória, mas também a outras funções que são importantes para a realização das atividades do dia a dia. São funções importantes para a mobilização, planejamento de atividades, organização, orientação espacial, flexibilidade mental, resolução de problemas, percepção, operação de objetos elétricos, máquinas e manejo de outras tarefas, tornando cada vez mais necessário os cuidados com a pessoa idosa.

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Com relação à atividade de dirigir, é preciso conscientizar o paciente de que ele precisa de cuidado diário, auxílio e acompanhamento quando sair de casa com o carro. Muitas vezes ocorre por parte da família a interdição da possibilidade do paciente dirigir quando o diagnóstico é feito. Mas é preciso cautela e muita conversa com os familiares e com o paciente para embutir o máximo de segurança e não tirar de forma brusca a possibilidade de dirigir. Essa atitude seria acabar em grande parte com a independência da pessoa.

Existem pesquisas que mostram que não há diferença no risco de acidentes entre pessoas em uma fase inicial da doença de Alzheimer e pessoas sem demência com a mesma idade. Por outro lado, deixar dirigindo alguém cuja capacidade está prejudicada significa expor ao risco não apenas o próprio motorista, como também os que o rodeiam.

Portanto, a decisão sobre dirigir deve ser analisada com cuidado. Dirigir pode tornar-se inseguro na doença de Alzheimer por diversas razões. A orientação espacial está prejudicada, a percepção é mais lentificada, principalmente a percepção e atenção visual, dificultando o tempo de reação, as falhas de memória podem prejudicar a compreensão em situações novas e na realização de trajetos, a agilidade dos reflexos pode estar prejudicada, as alterações na função executiva podem dificultar a realização de manobras em diferentes graus de complexidade.

Existe correlação entre capacidade de dirigir e testes de avaliação do estado mental, mas pode haver falhas, mesmo com avaliações mais detalhadas. A outra alternativa é a observação em situação real, isto é, colocar a pessoa em teste para dirigir por um trajeto sob observação de um motorista e fazer uma análise de como o paciente está dirigindo.

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As dificuldades para dirigir podem ocorrer em dois níveis, uma para manejar o carro e outro para se deslocar.

Avaliação sobre a capacidade do idoso dirigir 

Então uma dica para um familiar observar o idoso dirigindo, é verificar se a pessoa:

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– consegue passar as marchas corretamente;

– sinaliza corretamente a conversão;

– estaciona com ou sem dificuldade e qual o grau dessa dificuldade;

– mantém distância do carro à frente;

– usa o cinto de segurança;

– aguarda o sinal ou avança no sinal vermelho;

– dirige dentro da sua faixa de trânsito;

– ultrapassa com segurança;

– demora para frear;

– estaciona com dificuldade;

– em trajetos conhecidos apresenta hesitações sobre qual direção seguir que podem causar riscos no trânsito.

Caso existam essas dificuldades, existe a possibilidade de não continuar dirigindo. Com todas as observações e relatos sobre o desempenho cognitivo da pessoa no ato de dirigir e mais o relatório médico; deve-se tomar a decisão sobre o que fazer.

Algumas medidas podem ser tomadas quanto ao comprometimento da habilidade de dirigir. Se a pessoa dirige em trajetos próximos, bem conhecidos durante o dia e com acompanhante, pode manter o ato de dirigir e sempre com observações do cuidador. Em estradas ou vias expressas, que pedem uma velocidade mais alta, podendo ser perigoso, é melhor não arriscar e tirar a possibilidade de dirigir.

Alguns fatores devem ser levados em consideração: não precisa dizer que a decisão sobre não dirigir é irreversível; pode-se dizer que as falhas aliadas às dificuldades que o idoso vem apresentando durante o percurso, não tornam possível que ele continue a dirigir. Esse argumento frequentemente não é aceito e, quando aceito, é esquecido e precisa ser reforçado todas as vezes que ele falar em sair com o carro.

Não se preocupe se precisar ser redundante. Se houver insistência em querer dirigir, pode providenciar mudança na chave, estratégias de guardar o carro em outro local, ou até mesmo um problema mecânico. As adaptações não necessariamente precisam ser implantadas dessa maneira, ou em série, mas sim de acordo com as necessidades, à medida que vão sendo percebidas.