Alzheimer: já há pesquisa para se prevenir a doença, mas o tratamento atual é postergar

por Elisandra Vilella G. Sé

Sabe-se que a doença de Alzheimer, enfermidade neuropsiquiátrica neurodegenerativa, que acarreta sérios comprometimentos na memória e linguagem das pessoas em idade avançada, tem aumentado sua incidência nos últimos anos, na mesma proporção em que a população envelhece.

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E a discussão se é ou não possível prever as causas e medidas preventivas da doença de Alzheimer continuam sendo o objetivo por parte dos pesquisadores de todo o mundo, isso no intuito de descobrir a doença antes de seus sintomas.

A doença de Alzheimer quando desenvolvida de maneira precoce, por volta dos 50 anos, é tratada pela literatura científica como relacionada mais a uma característica genética, transmitida por apenas um dos genitores e que é responsável por menos de 1% dos 27 milhões de casos registrados no mundo. Mas as alterações neuropatológicas identificadas no cérebro que causam os sintomas de prejuízos sociocognitivos no paciente são idênticas às identificadas também em grupo de pacientes que desenvolvem a doença em idade mais avançada.

Em Medellín (Colômbia), um grupo de pesquisadores investiga uma nova droga (antiamiloides) em pacientes, cujas famílias são suscetíveis à doença de Alzheimer antes que os primeiros sintomas apareçam. Até o momento, drogas utilizadas para tratar os sintomas moderados da doença de Alzheimer não tiveram sucesso. Sabemos hoje que o tratamento é postergar a progressão da doença e proporcionar melhor qualidade de vida ao paciente para amenizar seu sofrimento e o do cuidador. Então, a tendência dos tratamentos será conter a doença antes dos sintomas se manifestarem. Os pesquisadores estão utilizando abordagens que rastreiam a doença antes dos primeiros sintomas de memória aparecer.

O neurologista Francisco Lopera, que em 1998, identificou um grupo de famílias vulneráveis à doença. Em Medellín, ele fez contato com centenas de membros dessas famílias ainda saudáveis para que se dispusessem a participar de um teste de drogas que eliminaria ou frearia a formação da proteína tóxica (beta amiloide) que destrói os neurônios no estágio tanto precoce – que afeta a memória – quanto na fase tardia da doença.

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A participação dessas famílias será de grande relevância científica para poder identificar um futuro tratamento da doença de Alzheimer em estágio precoce.

Nesse projeto, os membros dessas famílias possuem idade média entre 40 a 50 anos. Esse grupo de pessoas saudáveis, irá receber as terapias antiamiloides (droga ou vacina) já testadas em pacientes com Alzheimer. A pesquisa irá avaliar se um tratamento poderá ou não retardar ou frear a progressão da silenciosa doença de Alzheimer, administrado em torno de sete anos antes do aparecimento dos sintomas em sujeitos cuja herança genética é o gene da doença de Alzheimer. O estudo ainda não tem previsão de conclusão.

Além disso, será feito exames de neuroimagem que poderão revelar se o medicamento pode ou não impedir o surgimento de atrofias cerebrais ao longo do acompanhamento da investigação.

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No entanto, é importante ressaltar que não se pode afirmar se a droga mostrará resultados positivos, mesmo demonstrando-se útil para membros dessas famílias, não significa que será eficaz para outras pessoas que não carreguem a mutação genética que causa a forma precoce da doença. Porém, se a experiência for bem-sucedida, a pesquisa poderá ser um método de prevenção da doença de Alzheimer baseado em *biomarcadores e incentivar empresas a investir em experiências preventivas da doença para esses grupos de pessoas.

A busca por estratégias de prevenção são cada vez mais necessárias à medida que incidência da doença continua a aumentar na mesma proporção em que a população envelhece. Especialistas demonstram que a prevalência global da demência irá quadruplicar nos próximos anos e atingir a estatística alarmante em torno de 107 milhões de pessoas com a doença de Alzheimer.

* Biomarcadores são marcadores biológicos da doença, como por exemplo, a proteína beta-amiloide que causa a morte dos neurônios.