Crime passional: afinal, quem ama mata?

por Tatiana Ades

O crime passional é aquele cometido por amor, porém esse amor não pode ser usado para desculpar o crime, apenas explicá-lo.

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Juridicamente, esse tipo de crime é punido com rigor, entabulado como crime hediondo, não possuindo qualquer atenuante.

Mas a pergunta que nos cerca há tempos continua sendo questionada:

Quem ama mata?

Para respondermos isso, precisamos entender as diferenças entre amor saudável e patológico.

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No amor saudável temos uma visão do outro como complemento e não objeto de posse, no patológico o amor se torna obsessão, ciúme exacerbado, sensação de paranoia de que o outro está nos enganando e traindo, mesmo que não existam provas.

Esse amor pode chegar a um grau de insanidade fora do controle, onde o outro , “objeto de desejo”, se torna alvo de destruição, diferentemente do amor saudável, onde a preocupação com a vida do outra é natural; além da necessidade de ver a pessoa feliz, mesmo que isso signifique uma separação.

Mas quem ama de forma patológica desenvolve essa fixação pelo outro, e isso tudo não passa de uma incapacidade de amar a si mesmo, uma autoestima extremamente baixa e uma tendência paranoica a sentir-se perseguido pelo outro. Esse tipo de amor causa sensação de ódio, frustração e depressão e em alguns casos a pessoa enxerga uma única saída: eliminar o ser “amado”.

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Muitas vezes, após eliminar o outro, ele pode se matar em seguida no intuito de fazer cessar tamanha dor e falta de controle sobre si mesmo.

Em um primeiro plano, o leigo poderia equivocadamente entender que o crime passional, cometido por paixão, faria com que a conduta do homicida fosse nobre, mas não é, pois a paixão nesse caso, mola propulsora da conduta criminosa, tem no agente, a pessoa, seja homem ou mulher, o ente que comete o fato por perder o controle sobre seus sentidos e sobre sua emoção.

O homicida passional pratica o crime motivado pelo ciúme, egocentrismo, ódio possessividade, prepotência e até vaidade, o que leva a um incontrolável desejo de vingança e é esse inconformismo que o faz matar para impedir que seu companheiro se liberte e siga sua vida de forma independente.

O ato de cometer o crime passional é gerado pela impulsividade, diferentemente do psicopata que planeja o crime friamente, sem sentir absolutamente nada pela vitima, apenas necessidade de eliminá-la por dinheiro ou por estar atrapalhando a sua vida de alguma forma. Não há ciúme, culpa, sensação de desordem.

De outra forma, o assassino passional, sentirá um maremoto de sensações, perturbações, obsessão e perda total do “self’ (eu). O outro passa a ser referência para tudo em sua vida, a sensação dele mesmo é perdida e incompreendida.

Mas nem todos deixam marcas físicas ou chegam a cometer o crime, mas existem as ofensas verbais e morais, que causam dores, que ás vezes superam a dor física. Humilhações e torturas são consideradas como pequenos assassinatos diários, difíceis de superar e praticamente impossíveis de prevenir, fazendo com que as mulheres percam a referência de cidadania.