Ele mudou seu jeito de ser e agora brigamos sempre

por Marisa Micheloti

É muito comum encontrarmos relacionamentos em que um dos parceiros percebe-se em um processo de evolução e traz como queixa a posição estagnada em que se encontra o outro. Percebe o companheiro em uma posição passiva, como se não pertencesse ao movimento de seu desenvolvimento. Esse parceiro nem se dá conta de que realmente excluiu o outro.

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Normalmente, quando algum dos parceiros para para refletir sobre o momento que encontra-se sua relação, começa um longo período de muitas brigas desrespeitosas; potencializam-se as incompatibilidades de ideias e grandes confrontos tornam-se frequentes. Tenho recebido muitas mensagens desse cunho, questionando qual é o melhor caminho quando se percebe que o outro não investe no relacionamento, não privilegia a conversa, não se propõe a mudar.

O parceiro que traz essa queixa encontra-se em um processo de enorme solidão e frustração. Há a sensação de um descompasso na vida que aparentemente era harmônica. Harmonia que muitas vezes parece tão prazerosa, que não permite que ocorram nem as tão importantes brigas corriqueiras.

Nessas situações, quando se consegue sentir amor, digo isso pois nesses momentos os sentimentos são muito confusos e o que se privilegia é a raiva. É importante avaliar que tem três vertentes em jogo: o eu, o outro e a relação construída pelos dois. Esses aspectos não podem ser vistos unilateralmente e muito menos em uma visão exclusiva do eu.

É preciso parar e questionar juntos quais foram os projetos que encabeçaram essa união, se esses projetos foram alcançados ou abortados, se houve uma criação de novas ideias, se aquilo que os uniu hoje se perdeu no tempo e no espaço. Verificar se amadurecer perdeu o sentido ou se é só um recomeço para um casal amuado. Todos esses pensamentos só têm sentido se não estiverem em um campo de acusações. Em posição de acusação não acontecem mudanças, ao contrário, se torna crônica a situação.

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Mudança requer investimento, e dos grandes!

Se um parceiro mudou e o outro não, é necessário que o primeiro perceba que qualquer busca de mudança precisa ter por detrás a segurança de que é realmente isso que falta na relação, senão o outro não muda, não vê ou não acredita que valha a pena.

Percebo que as mulheres têm muito mais facilidade de estabelecer mudanças, e várias ao mesmo tempo, sem ter a sensação de desintegração. Os homens funcionam diferente e estão muito mais respaldados em um crescimento mais focal. Mudar para eles têm muita importância quando vinda paulatinamente.

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Essas diferenças fazem a grande diferença! As mulheres ainda apresentam um contato maior com aquilo que sentem e não apresentam nenhuma dificuldade em expressar suas emoções. Porém, os homens vão se retraindo cada vez que as mulheres exigem deles expressão de sentimentos de forma semelhante, chegando a se sentirem abusados. Os homens expressam muito bem o poder e as mulheres os sentimentos. Temos muito o que aprender um com o outro.

Como ainda estamos vivendo as colheitas que foram semeadas pelas mudanças de papéis masculino e feminino, a confusão pode estar no desejo do outro ter o mesmo ritmo que o seu, subjulgando o jeito dele ser.

Precisamos pensar que homens e mulheres têm suas diferenças e se isso puder ser visto com bons olhos, muitas vezes percebe-se que o parceiro não está estagnado, mas que funciona diferente. Se um dos parceiros depositou todas as fichas nas mãos do outro, vai realmente sentir muita raiva pelo outro não realizar suas satisfações.

Relações em parceria são muito mais evolutivas e criativas do que as solitárias, mas só podem continuar se não forem parcerias de solidão.

Marisa Micheloti é psicóloga