Mirian Goldenberg diz o que eles e elas pensam sobre sexo, corpo, sedução e desejo

por Angelo Medina

Sexo, corpo, sedução e desejo…

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Para responder como homens e mulheres no Brasil lidam e enxergam esses quatro pilares das diferenças de gênero,

Vya Estelar procurou uma especialista no assunto: a Dra. em antropologia social Mirian Goldengerg (UFRJ).

Ela já pesquisou à exaustão o tema e o transformou em livros: A Outra, Nu & Vestido, Os novos desejos, De perto ninguém é normal, etc…

Mirian tem orientado dezenas de pesquisas nas áreas de gênero, desvio, corpo, sexualidade e novas conjugalidades na cultura brasileira.

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Vya Estelar – O que mais atrai as mulheres num homem e vice-versa?

Mirian Goldenberg – Para elas, a inteligência. Para eles, a beleza. O corpo do parceiro também atrai homens e mulheres.

Vya Estelar – Quando se fala em culto ao corpo ligado à sedução, qual é a maior preocupação do homem e da mulher?

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Mirian Goldenberg – A mulher quer ser magra, sexy, delicada, loura. Características, como disse o sociólogo francês Pierre Bourdieu, que enfatizam sua posição de submissão e invisibilidade na sociedade. O homem, ao contrário, quer ser alto, forte, potente, provedor, poderoso, rico. O que, segundo Bourdieu, reforça a dominação masculina.

Vya Estelar – A bunda ainda é a preferência nacional por parte dos homens brasileiros?

Mirian Goldenberg – A bunda continua sendo a preferência masculina, como mostrei na minha pesquisa. Já os seios da moda são os grandes, novidade dos anos 90, que acredito, estão começando a sair de moda. Enquanto a bunda foi, é e provavelmente sempre será algo que atrai os homens brasileiros.

Vya Estelar – E as mulheres qual ponto do corpo masculino mais lhes chamam a atenção?

Mirian Goldenberg – É o tórax em primeiro lugar, como símbolo de força e masculinidade. Em seguida, o olhar.

Vya Estelar – Por que esse culto à grandeza seios grandes, bunda grande, pênis grande…?

Mirian Goldenberg – São coisas diferentes. A preocupação com o tamanho do pênis é algo que sempre existiu, principalmente entre os mais jovens. Já este culto dos seios grandes começou nos anos 90, nos desfiles de carnaval e se disseminaram. Hoje as adolescentes colocam prótese, enquanto na geração anterior as meninas queriam diminuir os seios. A bunda grande também é difundida nos desfiles e com as próteses tudo parece que ficou mais fácil.

Modelar o corpo é hoje uma possibilidade para quase todas as mulheres, já que existem cirurgias em suaves prestações. No livro "Nu e Vestido", organizado por mim, o antropólogo americano Alexander Edmonds revela esta obsessão feminina com o corpo perfeito também entre as mulheres das camadas mais baixas.

Vya Estelar – Como está a visão – comportamento – do homem e da mulher em relação ao prazer e a vida sexual?

Mirian Goldenberg – Há uma enorme propaganda em torno da sexualidade dos brasileiros e o que encontro são casais muito mais preocupados com a amizade, o respeito e a compreensão do que com uma vida sexual performática. É um exagero o que se fala da sexualidade do brasileiro. Os casais estão extremamente preocupados com outras questões que podem até atrapalhar a vida sexual.

Vya Estelar – O barasileiro está satisfeito coma sua vida sexual?

Mirian Goldenberg – Entre os meus pesquisados, a grande maioria está satisfeita com a sua vida sexual.

Vya Estelar – O que ainda é tabu para ambos?

Mirian Goldenberg – A infidelidade! Mesmo com todas as mudanças, ser infiel é algo que ninguém aceita ou mesmo perdoa. Apesar disso, eles e também elas são bastante infieis, como mostro no livro "De perto ninguém é normal"

Vya Estelar – O que representa hoje a infidelidade para ambos?

Mirian Goldenberg – Representa a quebra de confiança e do pacto entre o casal. Quando ele trai, acha que é algo da 'natureza' masculina. Quando ela trai, diz que a culpa é do marido que não lhe dá atenção.

Vya Estelar – Como anda o corpo na cidade do Rio de Janeiro? Esses padrão de algum modo se reflete em outras cidades brasileiras?

Mirian Goldenberg – Aqui o corpo é muito mais exposto e, portanto, trabalhado, cuidado e valorizado. Aqui o corpo é a roupa que se exibe no dia a dia. A roupa é usada para valorizar o corpo e não o contrário. Neste sentido, há um excesso de preocupação que chega a ser uma verdadeira obsessão, com as inúmeras horas de ginástica, massagem, cabelereiro, gastos com cosméticos, cirurgias etc. Acaba sendo um modelo para o Brasil porque aqui estão as atrizes, as modelos, as celebridades divulgadas pela mídia.