Entrevista de emprego: ficar na moita ou derrubar o caminhão de melancia?

por Roberto Santos

Muito já se escreveu, inclusive eu mesmo, sobre entrevistas de emprego que parece que o assunto já se esgotou e cansou, apesar de estar longe de resolvido, tanto da parte de entrevistadores quanto de entrevistados, em todos os níveis, de altos executivos a uma simples candidata a uma vaga de auxiliar administrativo.

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Entre os scripts preparados com base em almanaques de banca de jornal e o princípio do “seja você mesmo” caem pelas tabelas candidatos e candidatas sem saber por que nunca conseguem a vaga sonhada.

Há aqueles que exageram no desempenho do papel de ator, ficando na moita quando o entrevistador reconhece o script e faz uma pergunta que requer o “improviso”. “E agora, esta pergunta não estava no manual… Eu tinha me preparado para dizer quais eram meus três pontos fortes e três fraquezas (claro que uma delas é que sou perfeccionista!!), mas o que é que me tira do sério, eu não tinha estudado pra prova…”

Outros despencam na frente do entrevistador para compartilhar temperamentalmente todas suas agruras com seus empregadores anteriores, como se esperassem um bote salva-vidas ser lançado por aquele. Ser você mesmo é uma coisa, denegrir toda a geração de líderes em seus quatro últimos empregos, no mínimo pode lhe colocar como a vítima do ano, ou, mais provavelmente, levar à conclusão de que os “chefes-mala, que você citou tinham alguma razão de algumas de suas atitudes malignas.

Entrevistadores e despreparo

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Há também entrevistadores que confundem o gostar de alguém com o avaliar sua condição de desempenhar as funções previstas para um determinado cargo. O gostar de alguém pode ser útil para se contratar alguém para convidarmos a um futebolzinho ou pra balada, mas não necessariamente para atender as especificações da empresa para um cargo. Mesmo que estejamos imbuídos do perfil exato para a vaga, ao sumarizar uma entrevista como ter sentido química com a candidata, pode gerar algum composto explosivo no futuro.

Outra falácia em que muitos entrevistadores tropeçam é o discurso dos candidatos. Se o pleiteante a sua vaga for de boa lábia, bem preparado e ainda conseguir aquela “química” com o entrevistador, ele vai falar tudo o que o selecionador quer ouvir. Principalmente, se ele tiver feito sua lição de casa, pesquisando sobre a empresa na Internet e aproveitado todas as dicas da ligação telefônica feita no convite à entrevista.

O que permite predizer comportamentos futuros são os comportamentos do passado e não o que nós dizemos que gostamos de fazer ou que pretendemos fazer no futuro. Por natureza, a maioria de nós tem uma imagem superpositiva do que somos ou pensamos ser, especialmente numa missão crucial de vida – conseguir um emprego melhor que o atual ou o último.

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Num mundo utópico, entrevistadores e entrevistados, juntos e bem preparados, comparariam, despretensiosamente, os requisitos de um cargo com as diversas experiências e comportamentos anteriores do candidato e buscariam avaliar se a probabilidade de sucesso para empresa e candidato é bem maior do que 50%. Caso contrário, jogar um cara ou coroa pode ser uma técnica de seleção igualmente produtiva: você me engana e eu deixo você pensar que você enganou e todos saem perdendo com sua mediocridade preservada.