Espontaneidade, motivação, concentração e desempenho

por Renato Miranda

Os textos intitulados Fluxo: autocontemplação na ação gera bom desempenho (partes I e II), inspirados nos escritos de *Mihaly Csikszentmihalyi destacam como a atenção qualifica as ações de atletas e afinal, de todos nós. Ao mesmo tempo nós aprendemos como o envolvimento da pessoa com a tarefa interfere não só na capacidade de mantermos atentos pelo tempo que for necessário (concentração!), mas também nas implicações em relação ao desempenho pessoal e na amplitude de uma rica memória.

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Portanto, a prática de uma atividade espontânea, e consequentemente com envolvimento, promove uma memória com um repertório de possíveis tomadas de decisões, variadas e sofisticadas, que favorecem os melhores desempenhos em uma grande diversidade de situações.

Com isso, percebe-se que possibilitar escolhas de atividades enriquecedoras em termos gerais, como o esporte, música, artes e até mesmo uma profissão, pode ser um valioso passo no que se define com espontaneidade.

A espontaneidade funciona como o primeiro sinal da disposição de uma pessoa se envolver completamente em uma determinada atividade, seja como lazer ou mesmo trabalho e, desse modo, amplia suas possibilidades de fazer algo de forma concentrada.

Para Csikszentmihalyi (principalmente em escritos a partir de 1990), prestar atenção em determinada atividade ou tarefa faz com que estabeleçamos metas e tenhamos uma determinada intenção. Neste sentido é notório que a energia que nos impulsiona em direção a um objetivo (meta!), conhecida como motivação, tem uma relação fundamental com a atenção, já que o tempo e a intensidade com que nos dedicamos à tarefa estão diretamente ligados e dependem da nossa motivação.

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Em outras palavras motivação, intenções e metas geram energia psicofísica, e nas palavras de Mihaly estabelecem prioridades e assim criam ordem na consciência.

Isso explica, por exemplo, um determinado jovem que se por um lado, em uma aula de matemática, ele é disperso e cheio de emoções negativas (entropia psíquica!), por outro lado ele mesmo em um treino de tênis é altamente concentrado e vivencia momentos de sentimentos positivos (negaentropia psíquica).

Uma atividade com motivação precária, sem ou com pouca intenção e sem metas pessoais é uma atividade em que os processos mentais de organização da aprendizagem e do aperfeiçoamento se tornam aleatórios e os sentimentos tendem a se deteriorar rapidamente (diminuindo ainda mais os níveis de motivação).

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É óbvio que em nossas vidas, fazemos uma série de coisas que somos obrigados a fazer, como acordar cedo para ir ao trabalho ou assistir uma aula de uma matéria que não gostamos. Porém, se há algo que você faz de maneira espontânea e se envolve de forma intensa, possivelmente naqueles momentos em que faz algo essencialmente obrigatório você não se sentirá pior.

Observe que quando conhecemos alguém que investe sua energia espontaneamente em alguma atividade e com metas coerentes em relação às suas habilidades, ela mesma aumenta suas expectativas de sucesso não somente naquilo que lhe é espontâneo, mas naquilo que é obrigatório, pois se organiza melhor psiquicamente é autoeficaz (portanto, confiante) e tem boa autoestima.

Ajudar crianças e jovens a descobrirem alguma atividade para investir a energia psíquica da concentração e com isso possibilitar a realização de algo significante, envolvente e compensador é antes de tudo providenciar um futuro mais digno e por que não dizer, feliz!

* MIHALY CSIKSZENTMIHALYI: psicólogo autor da teoria do flow-feeling.