Consumo de crack pode causar esquizofrenia social?

por Danilo Baltieri

"Sou dependente químico e usuário de crack há 20 anos, preciso de ajuda, pois gasto cem reais todo dia em droga. Acho que estou desenvolvendo esquizofrenia social."

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Resposta: Apesar do crack produzir uma sensação de excitação física e psíquica no usuário logo após o consumo, produz inúmeros problemas físicos e psíquicos. Pessoas que fazem uso da droga estão em alto risco para sofrer acidentes vasculares cerebrais, infarto do miocárdio, problemas respiratórios, náuseas e vômitos e vários transtornos mentais.

À medida que a droga atinge a circulação sanguínea, o usuário pode sentir-se mais alerta, com mais energia, com maior sensibilidade ao som, à luz e ao toque. O usuário pode sentir-se, também, mais ativo, ansioso e irritável. Por vezes, a substância agudamente induz sintomas de agressividade física e ideações paranoides – acredita que existem pessoas por perto observando-a, ou mesmo que existem policiais à espreita, dentre várias ideias irreais.

Quando utilizado concomitantemente com bebidas alcoólicas, o que é extremamente comum entre os usuários, as duas substâncias combinam-se para formar uma outra, conhecida como coca-etileno. Esta terceira substância é ainda mais tóxica do que as duas outras, aumentando as chances de consequências devastadoras, como problemas cardiorrespiratórios e desenlaces fatais.

No que diz respeito ao Sistema Nervoso Central, o crack parece ter uma certa preferência por atuar nas regiões frontal e temporal do cérebro. Isso significa que funções importantes podem ser comprometidas de forma significativa, como por exemplo, a atenção, memória, flexibilidade mental e formação de conceitos. Além disso, usuários crônicos tendem a demonstrar dificuldades para controlar comportamentos socialmente inadequados.

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De fato, o consumo do crack provoca prejuízos no fluxo sanguíneo cerebral, gerando todos esses problemas cognitivos. Uma notícia nada animadora é que, mesmo após a parada do consumo, esse déficit no fluxo sanguíneo cerebral pode perdurar por alguns meses ou anos.

Dadas as alterações cerebrais provocadas pelo consumo do crack, sintomas como depressão, ansiedade, sensação de que está sendo perseguido, alucinações (ver coisas que não existem naquele momento, ouvir coisas que nenhuma outra pessoa está ouvindo, por exemplo), dificuldades de socialização, isolamento social, podem ocorrer. São consequências comumente vistas em pacientes dependentes de crack.

Não existe outro conselho senão procurar auxílio médico imediato. O nosso país, apesar de todas as dificuldades, tem envidado esforços no sentido de ampliar os recursos de atendimento aos dependentes e usuários dessa droga. Seguramente, se procurar com paciência, encontrará serviços médicos e psicológicos destinados a esse atendimento e cuidado.

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A iniciativa, muitas vezes, deve partir do usuário. Os familiares têm papel essencial; no entanto, a motivação do usuário é de enorme importância nesse processo.

Vá em frente e não perca tempo.

Atenção!

Este texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico e não se caracterizam como sendo um atendimento.