Como falar de morte para as crianças

por Ceres Araujo

Não é nada fácil conversar com nossos filhos sobre morte. Se dependesse de nós, pais, as crianças seriam poupadas dos dramas da vida. Nos as isolaríamos em uma redoma de vidro para que nada sofressem, para que jamais tivessem que enfrentar situações que causam tristeza e dor.

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Mas não podemos criar nossos filhos como se estivessem na Terra do Nunca, onde a infância e a inocência são inabaláveis e eternas. No mundo real há doenças, mortes, perdas…

Ninguém pensa em conversar com uma criança sobre morte sem que haja um motivo. Só se toca no assunto quando alguém próximo morreu e é preciso contar para a criança e dar alguma explicação. Portanto, acaba-se falando sobre o assunto apenas quando é inevitável.

O tema morte é difícil para todos. Ainda que morte seja a condição absoluta para o ser humano, todos somos mortais, ela é cercada de mistério. Que acontece depois da morte? Aí estamos exclusivamente no nível das crenças.

Como falar de morte para uma criança, especialmente uma criança bem jovem, que tem poucos recursos de compreensão?

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O fato é que, no momento em que a morte ocorre, não é possível dar todas as informações e não se deve sobrecarregar a criança. O relato deve ser o mais breve e digerível possível, como: “a (nome da pessoa) morreu, não poderá estar mais com a gente”.

É comum falar da morte, para a criança pequena, metaforicamente dizendo que a pessoa que morreu foi para o céu, virou uma estrelinha. Nada contra, porém deve-se estar preparado para ouvir em uma noite muito estrelada o comentário concreto do tipo; “como tem gente morta no céu!”. Ou precisar dissuadir uma criança de tentar subir no telhado, ou fazer dois furinhos na pele para nascer asas para poder alcançar a pessoa morta, querida, no céu.

Medo da morte surge a partir dos cinco anos

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A criança só começa a entender que a morte é irreversível depois dos cinco anos. A partir daí, ela começa a sentir medo da morte. Esse sentimento acompanha o ser humano por toda a vida, já que todos nós tememos a morte. Mais velha, a criança virá com perguntas mais incisivas e não irá se satisfazer com as explicações que eram suficientes em idades anteriores. Vai querer saber o porque as pessoas morrem, o que acontece com as pessoas que morrem, para onde elas vão.

Quanto ao porque, não é tão difícil responder que as pessoas velhinhas morrem, que as pessoas muito doentes também podem morrer. Explicar a morte de alguém mais jovem ou a morte de uma criança é muitas vezes mais difícil, pois muitas vezes, nem existe explicação.

Quanto o que acontece com as pessoas que morrem, para onde vão, a melhor resposta que o adulto pode dar é a que está de acordo com suas crenças e sua religiosidade. Nesse momento ele tem que refletir sobre o que é o mistério da vida e da morte para si mesmo e transmitir sua visão para o filho, seja ela qual for. Se ele acredita ou não em vida após a morte, em juízo final ou em reencarnação, precisa transmitir isso. O importante é que ele explique sua crença, mas pode admitir que não tem certeza de que as coisas sejam daquele jeito. Pode dizer algo assim: “não tenho certeza, mas acho que é isso que acontece quando a gente morre, pois isso é o que eu acredito.”

Nessas horas, muitos adultos explicam sua crença como se fosse a verdade absoluta. É um erro, pois a tendência é que a criança, quando crescer, adquira a própria crença e então poderá sentir que foi enganada. Na vida adulta, a criança poderá seguir a religião dos pais, adotar outra ou optar por não ter religião. A escolha será exclusivamente dela, ainda que tal escolha seja condicionada por todas as influências que ela tenha recebido. Com isso desenvolverá a própria crença do que acontece após a morte.

A ideia de que a vida é um ciclo, com um começo, um meio e um fim, pode ser conversada com a criança desde cedo, o que a ajudará a compreender melhor eventuais situações futuras de perda.

O simples ato de colocar um grão de feijão num algodão com água pode ensinar muito. Dia após dia, a criança acompanha a germinação da plantinha, seu desenvolvimento e seu declínio. Chega o dia em que morre o peixinho colorido do aquário ou o cachorro que ela ajudou a alimentar e a cuidar: ela vê que ele não se mexe mais, como se estivesse dormindo. Isso lhe trará dor e pena, mas mostrará que assim é a vida. Muitas pessoas acreditam que é melhor esconder a morte de animaizinhos de estimação. Talvez não seja o melhor. Não podemos evitar que nossos filhos tenham que enfrentar perda, decepção e dor, mas podemos prepará-los para superar as adversidades da vida da melhor maneira possível.

A criança precisa ser ensinada a enfrentar os momentos difíceis da vida. O mundo está longe de ser eternamente cor-de-rosa e é preciso estar preparado para ele.