Você está fazendo o que gosta?

por Roberto Shinyashiki

Nas minhas férias, tenho a oportunidade de conversar com alguns conhecidos que me confessam estar descontentes com o trabalho. Percebo em cada desabafo a mistura de determinados ingredientes que resulta nessa infelicidade. E há três que realmente detonam o prazer de acordar e pegar no batente.

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Um deles eu próprio senti na pele e está associado a um sentimento de saturação em relação à profissão. Nos cansamos de fazer dia após dia a mesma coisa. Não conseguimos renovar o prazer da atividade, mesmo sendo bem-sucedidos.

Alguns anos atrás, decidi reavaliar a minha carreira de psicoterapeuta. No começo, pensei que fosse só desgaste e desânimo passageiro. Então, saí de férias e passei seis meses longe do consultório. Na volta, estava na maior expectativa sobre como seria a minha reação diante dos primeiros clientes. Para minha decepção, continuava desmotivado. Sabia que eu era competente, tinha uma clientela maravilhosa, mas algo dentro de mim havia cansado de fazer a mesma coisa. Foi nessa época que me descobri palestrante para grandes plateias. Hoje, numa conferência, me sinto um adolescente apaixonado.

Outro fator esmaga-motivação é atuar em uma empresa que não dá apoio aos seus anseios. Há pouco tempo, ao final de uma palestra, a gerente da companhia responsável pelo evento me confidenciou o arrependimento de ter trocado de emprego. Ela havia entrado numa organização maior, de olho na oportunidade de promover congressos grandiosos. Entretanto, encontrou um ambiente mesquinho, no qual a regra era baixar a qualidade para aumentar os lucros. Durante o desabafo, a executiva me perguntou se ela parecia saturada de sua carreira. Respondi que não, pois seus olhos brilhavam quando falava da profissão. Perguntei, então, se tinha a possibilidade de voltar à empresa antiga. E soube que todos os meses a ex-chefe telefona para convidá-la, mas ela fica sem graça de aceitar. Adivinhe o que eu falei: seja humilde e agarre a nova chance. E você? Já tentou de tudo para reverter a situação no trabalho — falou com o chefe, mudou a sua maneira de trabalhar… —, mas as coisas continuam travadas? Ligue para os amigos e se mostre aberto aos outros desafios.

Deixei por último a causa mais difícil de um profissional admitir e que mais o deixa insatisfeito: falta de competência para a função. Você está numa vaga que requer um centímetro além da capacidade que tem. Como uma atleta de vôlei contratada para defender um time grande sem estar preparada. Então, todas as partidas passam a ter uma carga de tensão — afinal, a jogadora não se sente em condições de cumprir o papel esperado.

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Outro exemplo é o da secretária que sempre trabalhou com gerentes e foi escolhida para assistir o presidente. O medo de fazer uma bobagem é tão grande que ela nem sente prazer em ocupar o cargo importante. O que acontece muito nesses casos: a pessoa vive agitada e chega até a pensar em desistir, o que a faz mais infeliz. Mas a melhor atitude a tomar é avançar. Alguém com talento tem de andar para frente. Como? Tornando-se mais competente.

Tenho alguns conselhos para quem se pergunta se está fazendo o que gosta. Desabafe com um amigo (isolar-se só faz aumentar a ansiedade), procure uma pessoa que conheça mais sua atividade para lhe dar orientações, converse com seu chefe sobre suas dificuldades e peça coordenadas. Não se acomode. Se você está infeliz no trabalho, analise as causas desse sentimento e tenha a coragem de buscar uma solução realmente efetiva. O que não pode acontecer é sacrificar a sua vida fazendo algo que não acrescenta nada a você.