Felicidade depende de bem-estar físico, mental e social

Por Leonel Vieira

"Cada um de nós compõe
A sua história
E cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
De ser feliz."

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Trecho da canção "Tocando em Frente"
De Renato Teixeira e Almir Sater

O que é felicidade? Há muitas definições, mas a maioria das pessoas concordaria que a felicidade implica, no mínimo, num "(…) estado de completo bem-estar físico, mental e social". O interessante é que esta frase faz parte da definição de saúde da *OMS – Organização Mundial de Saúde. Parece haver, portanto, uma relação significativa entre felicidade e saúde, quando esta é entendida em termos amplos.

As crenças que temos sobre nós mesmos, sobre os outros e o mundo influenciam nosso bem-estar físico, mental e social. Consequentemente, influenciam na nossa felicidade.

A partir da infância, as pessoas desenvolvem crenças positivas ou negativas sobre si mesmas, sobre os outros e o mundo. Uma crença negativa, como "sou burra, não consigo aprender as coisas direito", pode influenciar no comportamento da pessoa apenas quando ela está deprimida ou até o tempo todo, dependendo da sua intensidade.

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Por exemplo, uma menina que formou a crença de que é "burra", mesmo que seu potencial de aprendizado seja normal, poderá ter dificuldade nas provas escolares, conseqüentemente tirando notas baixas. Estas notas baixas "confirmam" para ela própria sua crença de que é "burra", o que fortalece esta crença, num círculo vicioso.

Crenças como esta revelam-se muitas vezes por "pensamentos automáticos". Estes pensamentos são comuns a todas as pessoas e surgem espontaneamente, sem reflexão. Brotam, surgem inesperadamente, coexistindo com o fluxo de pensamento mais manifesto e consciente.

Neste momento, parte de sua mente está focalizando o que você está lendo aqui, tentando entender o que está escrito. Em outro nível, você pode estar tendo alguns pensamentos rápidos (às vezes com imagens), por exemplo: "O que será que fulano está fazendo agora?", "Preciso pagar aquela conta". No caso de uma pessoa com crença semelhante ao da menina do exemplo acima, os pensamentos poderiam ser: "Não estou entendendo isto", "Sou tão burra".

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Começando um trabalho, a menina do exemplo (que vou chamar de Lúcia), agora moça, mas ainda com a mesma crença, pode começar a ficar ansiosa e pensar automaticamente: "Este trabalho é muito difícil para mim…". Entretanto, sua colega de trabalho também iniciante e com alguma ansiedade na mesma situação, mas sem essa crença negativa, pode começar a pensar do mesmo modo: "Este trabalho é muito difícil para mim…".

Porém, a maneira como cada uma delas termina o pensamento é diferente. Lúcia poderá terminá-lo assim: "… porque sou tão burra", sentindo-se triste, deprimida. Sua colega, porém, poderia concluir o pensamento desta forma: "… seria melhor dividir isso em tarefas menores", ou "… preciso treinar mais para fazer isso", com a ansiedade que está sentindo a impulsionando para agir positivamente na busca de uma solução.

A situação era a mesma para ambas. A diferença, que provavelmente irá se refletir nos resultados do trabalho, é como cada uma delas interpretou a situação. Isto significa que, se Lúcia aprender a interpretar situações semelhantes de uma maneira mais positiva, poderá sentir-se melhor e ser mais bem sucedida nessas ocasiões. A chave para isto está na mudança desta crença sobre si mesma.

Algumas dessas crenças podem se tornar tão centrais e fundamentais para a pessoa que ela nem as questiona, considerando-as, por anos, como verdades absolutas. Mas podem ser mudadas! A psicologia clínica já avançou muito nesse sentido e, a partir da minha vivência como pessoa e da minha prática como terapeuta, acredito que "cada um de nós compõe a sua história e cada ser em si carrega o dom de ser capaz, de ser feliz".

Num próximo artigo, comentarei sobre alguns processos através dos quais essas crenças se formam e alternativas para mudá-las.

*"Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade" (OMS, 1946).