Filhos plugados: como não deixá-los o tempo todo em frente ao computador?

por Luciana Ruffo – psicóloga componente do NPPI

Temos recebido regularmente e-mails de pais preocupados pedindo nossa ajuda, pois veem seus filhos passarem o dia conectados na internet. Em geral o contexto é o mesmo: são pais que se ausentam a maior parte do tempo por trabalharem fora, morando em grandes cidades o que dificulta deixar os filhos soltos na rua, com pouco espaço por morarem em apartamentos cada vez menores e se sentindo sem saber o que fazer para afastar seus filhos do computador.

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A internet e os jogos informatizados chegaram para ficar, e cabe a nós encontrarmos alternativas para fazer com que a moçadinha de hoje não fique tanto tempo conectada.

Se pensarmos que um adolescente vai à escola e isso ocupa metade do seu dia útil, já lhes sobra menos tempo para ocupar com outras atividades. Deixá-los sem computador, mas ociosos na frente da TV também não é boa opção. Ou seja, troco uma atividade interativa por outra, e esta mais passiva. Então, o que podemos fazer?

Escolher uma atividade extracurricular, como uma aula de idiomas ou uma ida a um clube para aulas de esportes de 2 a 3 vezes por semana já constitui uma boa ocupação. Existem opções a preços acessíveis nas grandes cidades em parques municipais por exemplo. Uma ida à casa de um amigo ou receber algum amigo em casa, é alternativa para um outro dia da semana.

E tudo bem se, quando o amigo estiver em casa, eles ficarem no videogame ou no computador, pois nessa situação o uso é diferente e faz parte de uma forma de sociabilização e lazer, diferente dos momentos em que esta atividade é realizada de forma solitária.

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Oferecer uma opção de diversão, como um passeio ao shopping junto com os pais ou uma volta de bicicleta no parque em outro período em que os pais possam ir junto são boas alternativas.

Mas aí entramos em outra questão. Muitos pais, hoje, se sentem cansados do dia de trabalho e preferem deixar de lado tais alternativas para ficarem eles próprios diante da TV e descansarem no seu horário de lazer. E assim, ter filhos, mesmo que viciados em jogos e computador acaba por se tornar a resultante dessa atitude de certa forma comodista, pois apesar da sua consequência ser percebida como um problema, esses pais também não se mostram dispostos a abrir mão do seu descanso.

Ter filhos dá trabalho. E faz parte do papel dos pais responsáveis participarem ativamente do seu dia a dia. Às vezes, abrir mão de uma parte do seu tempo à frente da TV para uma volta com o filho pode ser um momento de descanso para ambos, até mesmo mais relaxante do que assistir a televisão. Há ainda as alternativas conciliatórias como, por exemplo, os pais convidarem os filhos para alugar um filme e assistirem juntos, fazendo desse um momento de recreação familiar.

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Conversar com os filhos, perceber o que os atrai na internet, no videogame, tentar compartilhar um pouco do seu mundo pode aproximar pais e filhos e ser um momento de encontro extremamente prazeroso. Oferecer alternativas de lazer e participar delas também.

Geralmente, quando são oferecidas boas alternativas à internet, as pessoas (em especial os adolescentes) tendem a preferir as atividades mais saudáveis. Mas se, frente a tais opções o adolescente prefere sempre a conexão e/ou os jogos, aí sim podemos dizer que estamos diante de alguém que pode estar viciado em internet.

Não podemos falar que alguém está viciado apenas porque essa pessoa passa muito tempo em atividades que envolvem a conexão. Mas podemos dizer isso caso haja alternativas de lazer e a pessoa prefira claramente o virtual à ‘real’, ou seja, às atividades presenciais realizadas em companhia de outras pessoas.

Geralmente os jovens que se viciam em internet ou em games são pessoas mais tímidas ou com problemas sociais, seja na escola ou em qualquer outro espaço de convívio. Muitas vezes encontram-se deprimidos ou defrontando-se com algum outro problema e a internet assume a função de um refúgio, para não ter de lidar com tais questões. O fato é que, nesses casos o problema só tende a se agravar, pois esses jovens podem chegar a extremos: passam a fazer suas refeições na frente do micro, prejudicam seus horários de sono para ficar jogando ou navegando, tendem a apresentar problemas no seu desempenho escolar e a perda de amigos reais.

Nesse momento os pais devem ser ainda mais participativos, tentar se aproximar, entender o que está acontecendo, oferecer alternativas. E se nada disso resolver, procurar ajuda de um psicólogo, para auxiliá-los na busca de entender a situação e encontrar caminhos de solução.