28% dos atletas brasileiros são viciados em exercícios; indica pesquisa

Uma pesquisa do Centro de Estudo em Psicobiologia do Exercício, da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), apoiada pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), identificou que 28% dos atletas brasileiros profissionais ou recreacionistas são viciados na prática de exercícios.

Assim como pessoas com outros vícios, os dependentes em exercícios, quando privados dessa prática, também apresentam crises de abstinência, aumento da tolerância à atividade para obter o mesmo resultado, ansiedade, problemas psicológicos, de sono, de humor e fadiga crônica.

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Foram analisados os comportamentos de 400 atletas brasileiros, sendo 200 deles de elite, com nível internacional em diversas modalidades, incluindo atletas de futebol, vôlei, judocas e ginastas, comparados a 200 praticantes amadores de atividade física. Por meio de aplicação de questionários psicológicos e observação, foi possível identificar que quase 30% dos voluntários apresentavam um comportamento excessivo que caracteriza o distúrbio. "A pessoa é considerada viciada quando aquela prática interfere no desenvolvimento de outras atividades, sejam elas profissionais, sociais, familiares ou psicológicas", explica o pesquisador Vladimir Modolo.

Entre os que apresentaram a dependência, há uma grande incidência de indivíduos que sofrem de transtornos de imagem corporal, como anorexia ou vigorexia (excesso de preocupação com o crescimento dos músculos), além de outros fatores.

Homens e mulheres têm motivações difererentes para a prática de atividade física

O percentual de homens e mulheres é semelhante, mas as motivações femininas estão mais comumente associadas à depressão e à preocupação com a imagem corporal, enquanto os homens também apresentam fatores como afirmação social, excesso de competitividade e outros. Também houve proporcionalidade entre os atletas profissionais e os amadores, o que elimina a hipótese da variável financeira eliminar a característica de vício.

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Síndrome de overtraining

Embora a prática de exercícios físicos seja recomendada, a dependência e o excesso são prejudiciais à saúde e à qualidade de vida. "Quanto mais exercício a pessoa faz, mais ela precisa fazer e pode chegar a um estágio de overtraining, que é uma síndrome neuroendócrina que resulta em modificações fisiológicas e/ou psicológicas. Às vezes, o atleta treina mesmo impedido clinicamente por estar com uma lesão ou fratura grave. O dependente também tem níveis altos de ansiedade ou crises de depressão", detalha Modolo. Segundo o pesquisador, a busca pela qualidade de vida que é proporcionada pelo exercício praticado de forma adequada se transforma em um transtorno compulsivo. "O que deveria ser positivo, se torna negativo, caso executado de forma exagerada", afirma.

Outro elemento que impacta negativamente o viciado é a substituição de atividades do cotidiano pelo treinamento físico. "Há casos de pessoas que perdem compromissos profissionais para ir treinar. Temos o exemplo de um pai que deixou de ir à formatura de pré-escola da filha porque era no mesmo horário de seus treinamentos. "Uma pessoa viciada é incapaz de modificar ou deixar de fazer um treino, por motivo algum", conta a coordenadora da pesquisa, Hanna Karen Antunes.

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A primeira descrição de dependência de exercício físico na literatura médica data da década de 70 e o estudo da UNIFESP é o primeiro realizado com atletas brasileiros profissionais. O tratamento recomendado é o mesmo indicado para pessoas com vícios variados, de forma a retomar o equilíbrio e o controle sobre a atividade.

Principais indícios de que o exercício se tornou um vício

– Estreitamento de repertório, preocupação excessiva com o corpo ou alimentação.

– Perda de interesse social por causa do treino.

– Opção de treinar mesmo com ambiente desfavorável.

– Comportamento compulsivo.

Características:

Sintomas psicológicos: aumento da ansiedade, crises de depressão, irritabilidade, diminuição do tempo de sono, diminuição do vigor.

Sintomas fisiológicos: aumento da fadiga, baixa do sistema imunológico, alterações hormonais, aumento da tolerância (necessidade de mais sessões de treino para obter o mesmo resultado) e crises de abstinência.