Preciso dar uma guinada radical na minha vida?

por Cristina Balieiro

Como disse no artigo anterior (veja aqui), Joseph Campbell, um grande estudioso de mitologia comparada, ao estudar mitos de heróis de diferentes épocas, culturas e povos, descreveu uma sequência de acontecimentos comuns em quase todos eles e chamou essa sequência de Jornada do Herói.

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Campbell e esse modelo se tornaram muito conhecidos no mundo todo, principalmente a partir de entrevistas que ele deu ao jornalista Bill Moyers que virou série de televisão e também um livro chamado de O Poder do Mito.

Essa sequência de eventos – a jornada do herói – além de ser comum a histórias de heróis lendários, serve também com perfeição como modelo para contar a história de vida de alguém que vive ou viveu com plenitude e inteireza, buscando sua mais profunda individualidade. E, talvez ainda mais importante, pode servir de guia para que façamos nosso próprio caminho!

Vamos então conhecê-la um pouco melhor.

Ela é composta de três grandes fases (cada fase é composta de várias etapas): a RUPTURA, a INICIAÇÃO e o RETORNO.

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Na RUPTURA, o herói se lança ou é lançado do mundo conhecido para um mundo desconhecido e começa sua aventura. Na INICIAÇÃO passa por uma série de peripécias, provas, se transforma e encontra um tesouro, que Campbell chama de BLISS. E na terceira fase, o RETORNO, volta para o mundo de onde partiu trazendo o tesouro encontrado para ser compartilhado com o mundo.

Mas, por que esse modelo mítico serve de boa metáfora para as histórias de vida de quem vive de fato, com integridade, seguindo seu próprio caminho, mesmo pagando o preço dessa ousadia?

Porque “bancar”, descobrir e ser nós mesmos, e seguir o que pede nossa alma e nosso coração, é uma jornada de fato, e heróica, porque “remamos” contra uma cultura de massa com modelos definidos rigidamente sobre o que é ser uma pessoa de sucesso e que, apesar de estimular o individualismo, não estimula a individualidade.

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O caminho de quem faz isso reflete essas três etapas: a pessoa rompe com as expectativas que a família e a sociedade tem dela, passa por um longo período de busca e transformação, acha algo que dá a ela um significado para a vida e traz esse algo para ser compartilhado pelos outros.

A descrição que fiz da jornada foi extremamente resumida. Como disse, cada fase é composta de várias etapas e ao conhecer cada uma delas, podemos usar esse modelo como guia, se de fato queremos, precisamos e topamos bancar o preço de seguir nosso caminho de autoconhecimento e autoexpressão no mundo.

Hoje vou falar da primeira etapa da primeira fase da jornada, a RUPTURA: o CHAMADO À AVENTURA.

No artigo anterior (veja aqui), escrevi sobre uma heroína fictícia que se olha no espelho um dia e não se reconhece e disse que esse era o Chamado à Aventura dela.

– Como assim, você pode se perguntar?
– Afinal, não é um Chamado à Aventura?
– A Aventura pode vir de uma sensação de desconforto, de perplexidade, até de desprazer e vazio?

O Chamado à Aventura, o canto de sereias que pede para descobrirmos que indivíduo realmente somos ou temos que nos tornar, nossa originalidade e o que viemos fazer nesse e para esse mundo, pode vir das mais variadas formas possíveis! Tão variadas formas como somos seres variados!

Mas podemos classificá-los em três grandes formas de surgir.

A primeira é no estilo da mulher do espelho (veja aqui): desconforto conosco mesmo, insatisfação com a vida, sensação de vazio e falta de sentido, não reconhecermos mais nós mesmos, até mesmo uma depressão.

Em segundo lugar pode nos acontecer algo que tira nosso chão e faz com que tenhamos que nos reavaliar e reavaliar a vida totalmente, como uma doença, a perda de um emprego, uma separação, a morte de um ente querido, etc.

A terceira, talvez mais fácil de ser reconhecida como um Chamado à Aventura, é quando sentimos de forma quase irrecusável a vontade de “chutar o pau da barraca”, mudar tudo em nossa vida de forma radical, nos jogarmos no desconhecido.

Essas três formas não são estanques, podem inclusive surgir juntas e misturadas ou então sucessivamente – recebemos muitos Chamados na vida! Mas seja de que forma venha, um Chamado à Aventura está nos pedindo para sair da nossa zona de conforto (ou de desconforto) e partir em busca de uma vida de maior plenitude, vitalidade e sentido.

E você, já recebeu seu Chamado? Disse sim a ele?