Tratamento naturopático para conjuntivite

por Gilberto Coutinho

Considerada uma das doenças oculares mais frequentes, a conjuntivite consiste numa inflamação, aguda ou crônica, da conjuntiva palpebral ou mucosa transparente que reveste a face interna das pálpebras e a esclerótica (do grego sklerotes, membrana fibrosa branca, opaca e externa do globo ocular, constitui o envoltório resistente do olho; área branca) até a córnea (do lat. corneus, região anterior do globo ocular, transparente cuja forma de calota esférica um pouco saliente desempenha a função de lente convergente). Tal mucosa tem a função de proteger, lubrificar e unir o fundo das pálpebras ao globo ocular, permitindo o seu deslizamento.

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As causas (etiologias) mais comuns da conjuntivite são: infecções virais (95% dos casos, cujo principal vetor é o vírus Coxsackie A 24, mais resistente ao sistema imunológico e muito contagioso); infecções bacterianas, micóticas (causadas por fungos) e alérgicas (5%); toxicidade por medicações tópicas (colírios); irritações causadas por poluentes do ar; agentes químicos (produtos de limpeza ou qualquer outra substância química que tenha contato com a mucosa dos olhos, pomadas e cremes antirrugas aplicados muito próximos dos olhos) e físicos (lentes de contato; poeira; fumaça, inclusive a do cigarro; gases; etc.); infecções das vias aéreas (gripe, sinusite e rinite); agravamento de doenças sistêmicas (que comprometem outros órgãos e partes do corpo); e medicações sistêmicas.

Sinais e sintomas

Os sinais e sintomas, do quadro agudo ou crônico, incluem: congestão ou hiperemia (acúmulo excessivo de sangue nos vasos sanguíneos da pálpebra e esclerótica); vermelhidão da conjuntiva que reveste as pálpebras e a esclerótica; irritação, sensação de queimação ou corpo estranho nos olhos; edema (inchaço) das pálpebras; sensação de coceira (prurido); lacrimejamento; secreção de muco líquido transparente (nos quadros virais); e quemose (infiltração edematosa e avermelhada da conjuntiva ao redor da córnea, podendo também ser encontrada na afecção aguda).

Na conjuntivite, nem sempre estão presentes os seguintes sintomas e sinais: inchaço das pálpebras; sensibilidade à luz; visão levemente borrada; e secreção de pus (presentes nos quadros de conjuntivite bacteriana).

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O contato com a secreção do olho de alguém infectado (cumprimento de aperto de mãos, etc.) ou objeto contaminado pode predispor, em poucos dias, à manifestação da conjuntivite. O período de incubação do vírus é de um a quatro dias. Embora, nessa fase, a afecção (doença) possa não apresentar sintomas e sinais, ainda assim é muito contagiosa e pode ser facilmente transmitida. O processo infeccioso pode durar de 5 a 15 dias.

No verão, temperaturas mais elevadas, aglomerações, piscinas e praias podem facilitar a transmissão da conjuntivite. Já no inverno, a menor resistência imunológica e a aglomeração em locais fechados e poucos ventilados podem também predispor as pessoas a tal infecção. Em geral, festas e aglomerações populares podem favorecer o desenvolvimento de epidemia de conjuntivite.

Conjuntivites agudas

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Nos casos de conjuntivite em que se verifica a presença de vesículas nas pálpebras (pequenas úlceras) ou na face, deve-se suspeitar de uma possível infecção causada por herpes. A presença de secreção que contém muco e pus (mucopurulenta) ou pus (purulenta) aponta para uma infecção bacteriana. A conjuntivite aguda bacteriana não grave tem como agentes mais comuns: S. aureus, S. pneumoniae, Haemophilius sp, e Moraxella sp. No entanto, a conjuntivite bacteriana aguda grave tem como agentes mais frequentes a Neisseria sp e Haemophilus influenzae. Já nas infecções virais, a secreção do olho manifesta-se na forma serosa (transparente).

Conjuntivites crônicas

As causas das conjuntivites crônicas devem ser melhor investigadas e o problema tratado adequadamente, evitando-se assim maiores complicações. Quando se detecta inflamação crônica da conjuntiva, deve-se pensar em ceratoconjuntivite (inflamação mais comum em crianças, afeta ambos os olhos, podendo lesar a superfície da córnea), “floppy eyelid syndrome” (*eversão espontânea da pálpebra superior do olho inflamado), escrerite (processo inflamatório da esclera), episclerite (inflamação da episclera, membrana que cobre a esclera ocular) e canaliculite (infecção rara do canalículo lacrimal).

Terapêutica

Não existe um antivírus. Cuidados com a saúde e hábitos regulares de higiene são imprescindíveis. Num quadro de conjuntivite, recomenda-se lavar os olhos com as mãos limpas, algumas vezes durante o dia (ou sempre que se fizer necessário), com água mineral filtrada e, sobretudo, não fazer o uso de água boricada (que contém ácido bórico e pode causar irritações e alergias nas pálpebras e esclerótica), nem uso de soro fisiológico (como contém sal, pode causar irritação e ressecamento). Para se evitarem irritações e alergias, colírios lubrificantes sem conservantes podem ser utilizados.

Já os colírios antibióticos (indicados nos quadros de conjuntivite bacteriana), vasoconstritores (podem causar diversos efeitos colaterais, inclusive hipertensão arterial, dentre outros) e à base de corticoides (apenas em casos mais graves) só devem ser empregados após uma avaliação clínica e mediante a prescrição terapêutica dos mesmos por um oftalmologista. Nenhuma substância ou produto natural devem ser aplicados aos olhos sem a prévia orientação terapêutica de um especialista. Os mesmos cuidados devem ser aplicados aos bebês e às crianças. Óculos escuros com proteção UVA e UVB podem auxiliar a minimizar a sensibilidade à luz e ajudam a suportar a claridade.

Compressa de água fria: ajuda aliviar os sintomas e sinais. Após lavar os olhos, molhar um pedaço de gaze com água filtrada e gelada (6 a 7°C, temperatura da porta da geladeira) e aplicar sobre o olho fechado (acometido pela conjuntivite), durante três minutos. Repetir o procedimento umas cinco vezes durante o dia.

Suplementação nutricional

A deficiência da vitamina H (biotina) pode predispor à conjuntivite. As fontes alimentares de biotina são: levedura de cerveja (parece ser a fonte mais abundante), geleia real, gema de ovo caipira, fígado e rins bovinos, sardinha, couve-flor, arroz integral, leite e frutas (melancia, morango, banana, etc.). Outra causa da deficiência de biotina no organismo é o uso indiscriminado de antibiótico, que mata a flora bacteriana intestinal (considerada benéfica e que constitui uma boa fonte dessa vitamina), o que contribui para diminuir a sua produção. O uso terapêutico de vitamina C e zinco pode estimular a imunidade e auxiliar o organismo a superar a infecção mais rapidamente.

Profilaxia

Lavar corretamente as mãos com sabonete antibacteriano, várias vezes ao dia ou sempre que se fizer necessário. Evitar coçar ou levar as mãos sujas aos olhos e à boca. Não compartilhar objetos pessoais, tais como toalhas, colírios, óculos e maquiagem. Evitar aglomerações e contato com pessoas contaminadas.

Considerações finais

A automedicação é um hábito muito perigoso. Segundo a “Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)”, estima-se que, no Brasil, essa prática seja responsável por cerca de 30% dos casos de intoxicação. Além desse problema, utilizar medicamentos por conta própria pode causar dependência, efeitos colaterais graves, reações alérgicas e até morte; por isso, é preciso combater a automedicação e somente fazer uso de remédios e medicamentos sob a orientação e a prescrição de um profissional da área de saúde, após uma minuciosa avaliação clínica.

* Quando ocorre uma projeção da mucosa interna da pálpebra superior, próxima do cílios, do olho inflamado, para fora; o que torna essa região da mucosa palpebral visível, distúrbio característico da "síndrome da pálpebra frouxa (floppy eyelid syndrome)".