Eu tenho um perfil empreendedor?

por Roberto A. Santos

Sonho de liberdade! Livre do trânsito, livre dos restaurantes de quilo ou do "bandejão", livre daquele chefe incompetente, daquele bando de fofoqueiras do escritório! Cada um de nós teve ou tem uma fantasia sobre seu vôo solo na carreira. Aquele momento em que damos o grito de independência ou corte (de pessoal) e resolvemos abrir nosso próprio negócio, ou mesmo, ser autorizado ou recomendado a trabalhar em casa, mantido na folha de pagamento da empresa.

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Por que para algumas pessoas esse sonho se realiza e para outras ele se torna um pesadelo que as remetem à coluna de classificados de empregos?

Inicialmente, temos que separar duas decisões muito importantes: abrir um negócio e trabalhar em casa, no que se denomina (copiando o termo americano), "Home-Office", ou seja, escritório caseiro.

A primeira decisão pode ser a mais difícil e, certamente, é a que envolve mais riscos. Qual é o negócio que vou desenvolver? Existe mercado? Qual será a concorrência que terei de enfrentar e quais serão meus diferenciais? Vou montar o negócio sozinho ou com um sócio? Quanto disponho de capital para investir no negócio e pagar as contas da empresa e pessoais, hoje pagas pelo meu salário e várias outras questões atemorizantes?

Entretanto, a pergunta que deve preceder a todas estas, é aquela mais crucial de todas: Eu tenho um perfil empreendedor? Ou seja, minha personalidade se ajustaria às demandas de um vôo solo? Independentemente de conhecimentos e habilidades que posso adquirir através de leituras e cursos, eu tenho as motivações e atitudes requeridas para ser dono de meu próprio nariz?

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Ambição

No transcorrer de minha carreira, você age ou agia proativamente e estava sempre buscando uma oportunidade de assumir o comando das situações? O quanto você se sentia motivado pela competição que havia dentro de seu setor? Esse tipo de motivação para liderar ao invés de ser liderado será fundamental na nova empreitada.

Segurança

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Como você reage ou reagia nos momentos de transição de sua carreira: mudanças de área, de cargos, de empregos, de cidades, etc? Congelava só de imaginar e listar todos os riscos que estaria correndo e acabava por evitar as oportunidades, mesmo que significassem um ganho maior? O empreendimento próprio carrega em seu DNA, uma forte dose de riscos. Se preferirmos a opção da segurança e previsibilidade, talvez não valha a pena se aventurar por esses campos de incertezas.

Tino comercial

Aqueles nossos conhecidos ou parentes que quando encontramos numa festa logo começam a falar de seus investimentos, sua última barganha, seu plano de poupança e coisas do tipo, são aquelas que têm como motivador principal ganhar dinheiro. Elas têm o que se conhece como tino comercial que ajudará bastante em seus empreendimentos pessoais. Essa não é uma condição suficiente, mas é necessária com certeza.

Perseverança

Outro elemento importante que colabora para o sucesso no empreendimento individual é a persistência, mesmo após alguns revezes que estão sempre esperando qualquer empreendedor. Se em nossas vidas profissionais nos abatíamos demais à cada frustração sentida, custando para nos recuperarmos, talvez não tenhamos energia para levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima, quando tivermos a primeira proposta recusada.

A outra decisão, que pode estar ligada à primeira ou não, refere-se a trabalhar em casa ou montar algum escritório fora. Claro que quando isso é uma determinação da empresa pela qual estamos vinculados, não temos muita escolha. Porém, ainda assim, podemos tomar algumas medidas para evitar os problemas que afetam mutuamente as partes: a casa e o trabalho.

Se voltarmos no tempo, encontraremos na História do Trabalho que, antes da Revolução Industrial e da invenção da linha de montagem, as vidas profissional e familiar se misturavam. O período em que as pessoas trabalhavam em propriedades agrícolas ou tinham seus ofícios de artesãos, os dois aspectos da vida estavam totalmente interligados. Nessa fase da história da civilização não se colocava a questão atual. No entanto, no presente, complicados pelos custos de imóveis, dos combustíveis e facilitados por uma tecnologia da informação sem limites, os negócios se descentralizam e a opção de Home-Office passa a ser uma necessidade das corporações.

Centralizando nossa análise na opção de escritório em casa ou fora para nosso negócio próprio, certamente vamos encontrar prós e contras. Infelizmente, não existe uma resposta única para este dilema. Porém, antes de se fazer esta análise, precisamos garantir algumas condições do local escolhido dentro de casa:

· Se o negócio escolhido implica em visitas de clientes ao local de trabalho, você precisa checar se sua residência está em área que permita atividades comerciais e garantir que tenha um ambiente separado daqueles do convívio familiar, para evitar que aquele garotão de oito anos entre a 100 por hora com sua super bicicleta e se jogue sobre seu cliente, bem na hora do fechamento do negócio. Ele poderá até soltar um "Que gracinha de menino!…" mas você corre o risco de perdê-lo como cliente.

· Se seu empreendimento não depender de contatos freqüentes com clientes, ainda assim, você precisa encontrar um espaço em sua casa, onde tenha alguma privacidade, durante o período de "expediente" que definir. Algumas outras condições técnicas serão muito úteis, senão imprescindíveis, como: ter uma linha telefônica independente para evitar a disputa do telefone com o filho adolescente, em fase de grandes paqueras telefônicas, um equipamento que integre uma secretária eletrônica para quando estiver fora da "empresa" e ainda um computador ligado a um serviço de banda larga para ter acesso rápido à Avenida da Informação, que domina todos os segmentos de negócios, dentre outras facilidades.

· Em ambos casos, algumas recomendações para se viabilizar esta junção do ambiente de trabalho com a vida familiar, é a definição de regras claras para todos os habitantes da casa, começando por você. Ter um horário de trabalho definido, em que você não seja interrompido para ir comprar pão para o lanche, ou coisas do tipo, é útil tanto para não misturar estações de maneira improdutiva ou antipática com os familiares, como para que você não perca a noção da fronteira do que é trabalho e o que é vida familiar. Outra coisa que ajuda, principalmente, nas fases iniciais deste processo de transição, é se arrumar para ir trabalhar. Ficar de pijama o dia inteiro na frente do computador pode não fazer bem para seu ego e nem para a disciplina que quer passar para os familiares. Isso não significa, vestir uma roupa formal, mas um mínimo de preparação para ir ao trabalho cria aquele limite positivo entre um momento e outro.

· Atualmente, existem vários serviços de escritórios virtuais que permitem que toda sua correspondência e recados sejam recebidos por profissionais. Além disso, quando você precisa fazer uma reunião ou atender um cliente, você terá uma sala de reunião equipada, sem que precise investir num escritório próprio.

Além dos aspectos acima, que não esgotam a análise a ser feita, outros de natureza mais pessoal, precisam ser considerados, antes de se optar pela vida solitária de um Home-Office.

Ser gregário ou solitário convicto

Se você é uma pessoa extremamente extrovertida, que adora estar cercada de pessoas e tem dificuldade de trabalhar sozinha e passar horas sem ninguém para trocar idéias, prepare-se para algum sofrimento com aquela opção. A alternativa de um "condomínio" de escritórios virtuais pode ser uma boa opção intermediária para você. Por outro lado, se você é do tipo introvertido e que adora trabalhar sozinho, cuidado para não se fechar em sua concha e adiar os contatos vitais com seus clientes potenciais.

Disciplina é a chave

Todos sabemos o quanto nos sujeitamos a regras, normas e procedimentos nas grandes empresas com as quais temos ou tivemos vínculo empregatício. Ainda que a carreira de empreendedor possa visar exatamente ao grito de liberdade preso na garganta, a disciplina vinda de fora no caso de empregadores terá que ser introjetada quando partir para seu negócio próprio, principalmente quando for trabalhar em casa. Portanto, se você sempre se queixou das medidas disciplinares de seus empregadores, cuidado para não descartá-las integralmente para si mesmo. Essa necessidade talvez seja mais crítica para as empreendedoras que terão o desafio de separar seus afazeres domésticos com o trabalho trazido para casa. Colocar os limites com clareza para todos os envolvidos, desde o princípio é crucial para os dois lados.

Autodesenvolvimento contínuo

Quando estamos afiliados a grandes empresas, muitas vezes somos convocados a programas de treinamentos que podem parecer muito úteis ou perda de tempo. Dependendo de nosso perfil pessoal, somos mais do tipo de deixar em última prioridade a atualização e aperfeiçoamento pessoais. Mais do que nunca, o autodesenvolvimento contínuo é crítico para qualquer campo profissional e não cuidar disso pode ser fatal. Portanto, crie um momento no dia, na semana ou no mês, em que você vá cuidar de sua reciclagem profissional. Invista em você mesmo!

O resumo da ópera é que para que a aventura do negócio pessoal e as virtudes de se trabalhar em casa, não se transformem numa tragédia grega ou uma comédia de pastelão, faça uma revisão de seu perfil pessoal. Conhecendo melhor a si mesmo e as condições materiais de que dispõe, você poderá dimensionar o grau de esforço e de artifícios que deverá planejar para encontrar um final feliz em sua história que hoje pode ser apenas de ficção científica.

Eu tenho um perfil empreendedor?

por Roberto Santos

 

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“Minha personalidade se ajustaria às demandas de um voo solo? […] tenho as motivações e atitudes requeridas para ser dono de meu próprio nariz …”

Sonho de liberdade! Livre do trânsito, livre dos restaurantes de quilo ou do “bandejão”, livre daquele chefe incompetente, daquele bando de fofoqueiras do escritório! Cada um de nós teve ou tem uma fantasia sobre seu voo solo na carreira. Aquele momento em que damos o grito de independência ou corte (de pessoal) e resolvemos abrir nosso próprio negócio ou aderir a uma franquia – queremos ser empreendedores!

Por que para algumas pessoas esse sonho se realiza e para outras ele se torna em pesadelo que as remetem à coluna de classificados de empregos?

Inicialmente, temos que separar duas decisões muito importantes: abrir um negócio com 100% de autonomia ou aderir a uma franquia já estabelecida.

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A opção pela primeira alternativa, certamente, é a que envolve mais riscos. Qual é o negócio que vou desenvolver? Existe mercado? Qual será a concorrência que terei de enfrentar e quais serão meus diferenciais? Vou montar o negócio sozinho ou com um sócio? Quanto disponho de capital para investir no negócio e pagar as contas da empresa e pessoais, hoje pagas pelo meu salário e várias outras questões atemorizantes?

A segunda opção não é menos complexa, pois muitas das dúvidas acima já foram ou são respondidas pela empresa franqueadora, mas riscos são inerentes a todos os negócios, pois além de todas as variáveis externas de mercado e concorrência, a interna mais importante é sobre o preparo de quem vai conduzir o negócio.

Por consequência, a pergunta que deve preceder a todas as citadas, e a mais crucial de todas é:

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Eu tenho um perfil empreendedor?

Ou seja, minha personalidade se ajustaria às demandas de um voo solo? Independentemente de conhecimentos e habilidades que posso adquirir através de leituras e cursos, eu tenho as motivações e atitudes requeridas para ser dono de meu próprio nariz, mesmo que aproveitando o modelo do nariz do outro?

O jornal Folha de SP, edição de 20/04/14 trazia uma matéria sobre o Empreendedorismo, comparando os setores de franquias que dão mais certo, apontando seu crescimento relativo, que coloca em primeiro lugar o setor de “beleza, esporte, saúde e lazer” com quase 24% de crescimento em 2013; enquanto “limpeza e conservação” cresceu modestos 1,6%. Porém, mais do que considerar o setor, a chamada da matéria é que a “Personalidade do empresário deve ser avaliada na compra da franquia”.

Conforme especialistas em franquias apontam, além de avaliar os aspectos financeiros e mercadológicos do negócio em estudo, também o apoio ao franqueado quanto a prover os conhecimentos e habilidades necessárias para tocar o negócio é extremamente importante. Porém, esses elementos podem ser condições necessárias, mas não suficientes para o sucesso do novo empreendedor.

Identificação com a marca e se perguntar: “Eu trabalharia dez anos nesse negócio e seria feliz?” Além disso, o perfil de personalidade do empreendedor é elemento crucial para avaliar o potencial de sucesso ou as chances de fracasso em um negócio que envolva, por exemplo, muito contato com o público, para uma pessoa de natureza essencialmente introvertida.

Então, o que é empreendedorismo e o que é ser empreendedor?

Como saber se eu serei um empreendedor de sucesso – com meu negócio ou com uma franquia?

Ainda que a origem da palavra empreendedor venha da França dos séculos 17 e 18, é o economista austríaco Joseph Schumpeter, que no século passado, definiria empreendedor como aquele que “reforma ou revoluciona o processo “criativo-destrutivo” do capitalismo, por meio do desenvolvimento de nova tecnologia ou do aprimoramento de uma antiga – o real papel da inovação. Esses indivíduos são os agentes de mudança na economia.” Ainda no século 20, Peter Drucker agregou o conceito de risco e da mobilização de recursos externos, valorizando a interdisciplinaridade do conhecimento e da experiência, para alcançar seus objetivos. Nesse sentido, o empreendedorismo em sua extensão mais completa, se confunde com a liderança e gestão de pessoas para viabilizar empreendimentos significativos e bem-sucedidos.

Segundo a Wikipedia, “uma das definições mais aceitas hoje em dia, é dada pelo estudioso de empreendedorismo, Robert D. Hisrich, em seu livro “Empreendedorismo”. Segundo ele, empreendedorismo é o processo de criar algo diferente e com valor, dedicando tempo e o esforço necessários, assumindo os riscos financeiros, psicológicos e sociais correspondentes e recebendo as consequentes recompensas da satisfação econômica e pessoal.

Autoconhecimento é essencial para avaliar perfil e potencial

O elemento de riscos psicológicos talvez seja o que mais nos remete ao processo de autoconhecimento sobre nosso perfil de personalidade e motivacional para avaliarmos nosso potencial de sucesso como empreendedores ou como minimizarmos aqueles riscos psicológicos que muitas vezes são a causa do fracasso como empreendedor.

Uma pesquisa recente, com 256 empreendedores, descrita em artigo do Dr. Jeff Foster da Hogan Assessment Systems e Dra. Julie Edge, professora da Universidade de Washington e coach de centenas de empreendedores, trata da personalidade do empreendedor.

Os empreendedores que participaram deste estudo, estavam nos estágios iniciais da construção de suas empresas no setor de tecnologia dos Estados Unidos. Eles eram os fundadores de suas empresas. Um total de 97 companhias fez parte do estudo, 51% delas tinham dois fundadores, 31% tinham três ou mais fundadores e 19% apenas um fundador. Os dados foram coletados entre Fevereiro de 2012 e Agosto de 2013.

Segundo os autores, os empreendedores frequentemente se diferenciam de adultos trabalhadores em geral de várias maneiras. Por exemplo, comparados a gerentes, os empreendedores se caracterizam por energia (“drive”) e ambição. Além disso, “eles tendem a ser mais expansivos, mas também mais dispostos a serem diretos e confrontativos com os outros. Finalmente, eles tendem a resistir a práticas e procedimentos padrão e são mais capazes de lidar com a pressão e o estresse. Em geral, estas características pintam um retrato de indivíduos que são apaixonados, cheios de energia, criativos e persistentes quando se deparam com desafios.”

Assim, dentre as inúmeras descrições do perfil do empreendedor, poderíamos destacar algumas, focalizando algumas questões para sua autorreflexão quanto à sua identificação com cada uma delas em seu momento pré-empreendedorismo, mas essas características do perfil do empreendedor abordarei na segunda e última parte deste artigo.