Inteligência usada de forma particular e hábil é sinônimo de talento

por Renato Miranda

Recentemente, em um jogo da Liga Brasileira de Futsal, o jogador Márcio da equipe do Jaraguá fez um gol incrível: Ao receber a bola de seu goleiro, Márcio naquele momento se encontrava na altura da meia quadra de jogo e, de costas para o gol adversário. A bola veio a poucos centímetros de altura em relação ao solo. Em uma fração de segundos, quando a bola deu um pequeno quique no solo, ele mesmo de costas, e no instante do quique da bola (como se diz na gíria futebolística; "de bate pronto!"), jogou a mesma de calcanhar, por cima do goleiro adversário que já se preparava para antecipar ao lance. Um legítimo gol incrível!

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A mídia de uma forma geral repercutiu bastante esse lance e matérias esportivas vieram a consagrar a capacidade esportiva desse jogador. Fui consultado por um jornalista se certos atletas possuem o que se chama de "sexto sentido" ou algo parecido.

Arrisco entender a que se refere a sabedoria popular que diz ou quer dizer sobre "sexto sentido": Algo extraordinariamente inusitado e criativo que antecipa qualquer tipo de reações prováveis e ao mesmo tempo surpreendentemente eficaz.

Considerando a ideia acima e o fato transcrito no início do texto estamos diante de um acontecimento que traduz uma das múltiplas inteligências que o ser humano possui: a inteligência sinestésica!

Howard Gardner, professor de neurologia da universidade de Boston nos Estados Unidos, especialista nos estudos sobre estruturas da mente e inteligência, ensina que o ser humano possui diversas inteligências: linguistica, musical, espacial, lógico-matemática, pessoais (intra e interpessoal) e corporal-sinestésica, de tempos em tempos outras são descobertas e mapeadas.

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Vou me deter escrever sobre a inteligência corporal-sinestésica (ou simplesmente sinestésica ou corporal, em suas formas reduzidas). Todas as pessoas possuem tais inteligências, no entanto, de modo especial uma ou outra inteligência é expressa de modo particularmente hábil o que chama a atenção das pessoas. Tal inteligência (ou tais) fomentam o que definimos como talento.

Assim, para certas experiências da vida há pessoas que aprendem, aperfeiçoam e desenvolvem habilidades (capacidades especiais!) para execução de determinadas tarefas. É assim que se explica um jovem que aprende matemática facilmente (e gosta da matéria!) e outros não. Da mesma forma, essas mesmas pessoas com dificuldade em matemática podem vir a ser excelentes em português e vice-versa.

E assim sucessivamente, até mesmo o fato de saber se relacionar de forma hábil com as pessoas, entendendo e distinguindo os mais variados estados de humores, motivações, intenções e assim, estabelecer um alto grau de comunicação e relacionamento eficazes é um tipo especial de inteligência.

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Quando então, vemos um atleta profissional (ou mesmo amador) atuando de maneira espetacular que consegue controlar seu corpo (movimentos!) em diversas situações complexas de execução motora (execução hábil) ou de manusear objetos com a mesma sofisticada expressividade com naturalidade e de forma funcional estamos diante de uma inteligência sinestésica.

Como são duas habilidades "irmãs" (controlar o próprio corpo e mover objetos habilmente) é muito comum (principalmente para esportistas dos jogos com bola) atletas com alta inteligência sinestésica desenvolverem especialmente essas duas habilidades. Como é o caso do jogador de futsal citado anteriormente.

Não muito tempo atrás, atletas de um modo geral eram considerados pessoas com baixa capacidade intelectual, o que justificaria a busca pela atividade corporal. Preconceito ultrapassado e diria eliminado elegantemente pela ciência. O que há na realidade, é a manifestação de inteligências múltiplas do ser humano e, portanto, diferentes!

Um caso clássico desse antigo preconceito no futebol brasileiro aconteceu com o jogador Garrincha. Craque nos gramados, mas diziam (?) com um quoeficiente de inteligência muito baixo. Garrincha possivelmente sofreu com esse estigma (de não ser inteligente!). Hoje, pode-se dizer que o mesmo foi tão inteligente quanto um grande poeta ou um músico famoso.

A única diferença está no tipo de inteligência. Façamos um teste: Imagine um poeta famoso jogando na ponta direita (tal como Garrincha!) e decerto será tão inusitado (para ser educado!) quanto Garrincha se vivo estivesse!) escrever um belo poema. Demoraram a descobrir que jogadores como Garrincha, Pelé, Zico e outros "escreveram poemas e fórmulas matemáticas complexas" com o corpo e bola!

Por fim, podemos dizer que o golaço feito pelo jogador Márcio, demonstra que ele é uma pessoa de alta inteligência sinestésica e que ele mesmo pode, dinamizar ainda mais sua inteligência, através da autodisciplina dos treinamentos, competições e prática rotineira para desenvolver corpo e mente (entes unos e simultâneos). Cuidando do corpo e da mente ele poderá criar muitas novas jogadas e maneiras criativas de fazer gols! Ou seja, treinar a mente para usar o corpo de forma eficaz e treinar o corpo para atender à força expressiva da mente.