Vietnam utiliza fitoterápico eficaz para tratar dependência química

por Alex Botsaris

Final de outono e o inverno se aproxima. Nessa época começam a chegar as frentes frias vindas do Sul que causam ventos e chuvas e fazem a temperatura cair mais de 10 graus centígrados em algumas horas.  Nas estatísticas médicas, é a época onde há um aumento de problemas respiratórios. Espirros, coriza, congestão nasal, tosse… Esses sintomas típicos da chegada do inverno também podem ser prevenidos ou tratados com plantas medicinais, evitando que o problema se agrave.

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Para fortalecer as defesas do organismo, as pessoas podem tomar duas vezes ao dia um chá com uma colher de sobremesa de casca de canela picada, três fatias de gengibre, uma colher de sopa de folha de laranjeira picada e outra de capim-limão. Vale destacar que é imprescindível uma consulta médica mesmo para prescrição de plantas medicinais, porque só o médico pode fazer um diagnóstico correto e, baseado nele, escolher as plantas que podem resolver cada caso.

Para a medicina tradicional chinesa (MTC), o inverno é a época da imobilidade, não é favorável grandes movimentos. No núcleo familiar, é indicado evitar muitas saídas e excesso de compromissos sociais.  O ideal é procurar promover pequenas reuniões ou jantares íntimos. Nesse período, aconselha-se meditar sobre os próprios problemas, ou concentrar conversas íntimas com pessoas próximas. Alimentos quentes e picantes como rabanete, gengibre e mostarda; grãos como gergelim, nozes e feijão; raízes como inhame e frutos do mar devem ser privilegiados na dieta.  São exemplos de como o oriental acompanha as estações do ano, adequando seus hábitos para prevenir-se contra as mudanças de clima e os agentes da natureza.

Nessa estação, também é muito comum o agravamento das dores nas articulações. Problemas como a artrose podem ser tratados com um conjunto de plantas com ação antiinflamatória. Uma das mais eficazes é a garra do diabo (Harpagophyton procumbens) por ser também analgésica. A canela (Cinnamomum cássia), neste caso, pode também ser aplicada no local doloroso como um *emplastro ou creme, além de ser tomada em chá.

Plantas ricas em óleos essenciais são benéficas para curar sinusites e gripes, já que promovem a assepsia da mucosa das vias respiratórias. É recomendável o chá de hortelã (Mentha piperita), de guaco (Mikanea glomenata) e alecrim do campo (Lantana microphila). Já o eucalipto (Eucalyptus globulus) deve ser em forma de inalação, porque o gosto é muito desagradável e causa desconforto na garganta.

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Em caso de tosse, indico uma receita caseira expectorante: colocar em um vidro por três dias um copo de vodka com uma colher de sobremesa cheia de cascas secas de tangerina, uma colher de sobremesa cheia de hortelã seca e uma colher de sobremesa cheia de orégano. Coar as ervas. Posteriormente, aquecer meio litro de mel e misturar lentamente à vodka. A indicação para as crianças de 6 a 10 anos é tomar uma colher de sobremesa três vezes ao dia; para aqueles entre 10 e 16 anos uma colher de sopa duas vezes ao dia e para os adultos uma colher de sopa três vezes ao dia. O própolis também é um grande aliado. Ele é feito com resinas e flavonóides por abelhas com o objetivo de defender as larvas delas. Por isso, possui uma excelente atividade antimicrobiana. Ele ajuda a eliminar as bactérias que costumam causar infecção secundária, que ocorrem após gripes e resfriados.

*Emplastro: medicamento de uso externo que, sob a ação de calor suave, amolece levemente, aderindo à pele
Fonte: Dicionário Houaiss

Vietnam utiliza fitoterápico eficaz para tratar dependência química

por Alex Botsaris

A dependência de drogas é um dos problemas médicos mais sérios do nosso tempo. O consumo de drogas tem aumentado em todo mundo, em especial entre jovens de classes sociais baixas.

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Mesmo com toda tecnologia, dependência de drogas é uma das doenças onde a medicina tem os resultados mais pífios. Ainda que combinando vários tratamentos, incluindo medicamentos, assistência psicológica, grupos de apoio como o NA (Narcóticos Anônimos) e medicina complementar como acupuntura, as estatísticas apontam para índices de recaída de 60% ou mais, nos melhores centros do mundo.

É para se comemorar quando surge um tratamento com resultados muito superiores, e ainda a base de fitoterápicos. Esse tratamento surgiu no Vietnam e sua história é tão interessante que vale a pena ser contada. O composto à base de ervas, chamado de Heantos, foi criado por um médico tradicional chamado Tran khuong Dan, e chegou a ser testado pela Organização Mundial da Saúde.

Após o final da Guerra do Vietnam, Tran Khuong Dan reencontrou seu irmão mais velho, após 31 anos de separação, viciado em ópio, já numa fase avançada. Mesmo com os seus esforços, seu irmão veio a falecer um ano após as complicações da doença. Nessa época a dependência de ópio e heroína era um grande problema de saúde pública no Vietnam. Tran Khuong Dan ficou muito revoltado com a morte do irmão, e resolveu descobrir um tratamento para dependência de ópio, dedicando sua vida a isso. Ele se viciou na droga e foi experimentando no seu próprio corpo vários fitoterápicos tradicionalmente conhecidos para aliviar os sintomas do ópio. Para isso visitou vários vilarejos, fazendo contato com os médicos locais. Ao final de três anos de busca, chegou a uma fórmula com 13 componentes que cortava a abstinência do ópio.

Tran Khuong Dan começou a usar sua fórmula no nordeste do Vietnam, curando centenas de pessoas de dependência ópio, e com isso sua fama se espalhou por todo país. Sua fama chegou ao Ministério da Saúde do Vietnam, que se interessou em investigar a possibilidade de investigar seu potencial. Mensalmente o Ministério distribuía centenas de doses de heroína entre mutilados de guerra que ficaram dependentes químicos. As ervas da fórmula do Heantos foram colocadas em cápsulas e dadas a esses mutilados, junto com as doses de heroína. No mês seguinte mais da metade dos mutilados cadastrados para receber as doses de heroína não voltaram aos guichês do Ministério. Com isso, o governo resolveu investir no Heantos e chamou a Organização Mundial da Saúde para uma parceria.

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Um estudo clínico feito pelo Ministério de Saúde do Vietnam e pela OMS com cerca de mil pacientes internados em clinicas naquele país _ e não foi publicado na literatura mundial_ chegou a ser feito mostrando que o fitoterápico possui muitos poucos efeitos colaterais, e resultou em resultados em mais de 80% dos pacientes, atenuando os sintomas da abstinência e facilitando a parada do uso de opiáceo. Ao final de 5 dias de uso do fitoterápico, quase todos sintomas de abstinência tinham sumido. Isso foi considerado excelente pelos médicos que acompanharam o estudo, considerando que com o sistema convencional de tratamento, os pacientes levam cerca de 30 dias para melhorar dos sintomas de abstinência.

Infelizmente, parece que esse projeto não chegou a resultados concretos. Iniciado em 1997, ocorreram muitos imprevistos. Os cientistas que tentaram padronizar os extratos de plantas e isolar os princípios ativos para transformar o Heantos num medicamento convencional não conseguiram resultados nos primeiros anos de pesquisa. Não houve também acordo de Tran Khuong Dan e as autoridades do Vietnam sobre os direitos de propriedade intelectual da fórmula. O descobridor da fórmula manteve segredo sobre alguns componentes, ao menos para estrangeiros e os cientistas americanos que aderiram ao projeto. No fim de algum tempo o desgaste desfez o grupo que pretendia estudar o Heantos.

Ainda existem esforços no sentido de viabilizar o uso do Heantos no tratamento de dependência de opioides ou mesmo testar em outras drogas como crack. Entretanto ele só continua a ser usado em clínicas especializadas no Vietnam. Sabemos que o composto contém canela, gengibre, pathouli (Pogostemom pathouli) mas a maior parte dos componentes ainda não é conhecido. O Heantos não está disponível no Brasil, mas seria muito interessante se nosso governo estabelecesse um acordo como governo vietnamita para oferecer o produto para testar em nossos dependentes químicos.

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