Treinar a concentrar-se é um dos pré-requisitos para a meditação

por Nicole Witek

O desejo de testar, começar, ter interesse pela meditação deve ser interpretado como um desejo do ser profundo, uma vontade de descer abaixo da superfície e de experimentar algo profundo, que modifica totalmente a experiência cotidiana no âmbito dito mundano.

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Pode até ser considerado finalmente como um chamado da alma, no sentindo mais aberto da palavra, um chamado para o caminho do conhecimento de sua natureza profunda.

A questão fundamental do yoga é “quem sou eu”? Quero me conhecer para direcionar meus esforços no rumo certo, o da “ananda” (felicidade suprema), a paz e a felicidade de se sentir no momento certo, no lugar certo.

Cada um de nós é mais preparado do que pensa, somos mais sábios e equipados do que pensamos. Podemos começar já pelo primeiro grau que é a concentração.

Possuímos conhecimentos, capacidades e uma força mental que até agora não foram testados. Não tivemos oportunidade de trazer de um nível inconsciente para um nível onde possam ser acessadas e usadas de forma útil.

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O depoimento de um principiante relativo ao início dessa experiência é surpreendente. A pessoa se descobre, abrindo possibilidades inesperadas e uma compreensão ampliada, que pede para ser usada.

De repente, essa pessoa constata a presença de um intelecto em si mesma e descobre como usá-lo a seu favor, discernindo que o intelecto é uma ferramenta do eu.

Essa experiência é sem dúvida surpreendente: ao começar a praticar exercícios de concentração, chega-se a conclusões arrasadoras e transformadoras. Uma vez que a mente não fica mais perturbada pelas impressões que vem dos sentidos, uma vez que os olhos estão fechados, que os sons passam sem acarretar pensamentos do tipo: “ah! Esse som é a TV, ou o avião que pousa no aeroporto de Congonhas… e por falar nisso… quando é minha próxima viajem… que data que encontro minha filha… “

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Para falar em termos mais elaborados, uma vez que os sentidos não afetam mais a consciência, como de costume, um dos primeiros efeitos que surge é o aumento do valor do meditante no seu dia-a-dia, seja na sua casa, no escritório, ou em qualquer assunto corriqueiro.

E imprescindível perseverar para que cresçam os momentos de silêncio, onde se cala a mente voltada para fora.

Aplicar, investir a mente totalmente nas atividades corriqueiras se torna um treino da concentração e, pode ter certeza, dá resultados imediatos.

Buscando a iluminação ou não… o exercitar da concentração e da meditação enriquece a vida, os seus pensamentos ficam mais impactantes.

Se fosse unicamente a busca de um pensamento direcionado e eficiente, o treino da concentração já seria um lucro inestimável.

Um exemplo simplório, mas que faz toda diferença: você sabe como é uma bolsa de mulher. Geralmente é um supermercado aberto, os objetos que se encontram lá vão da caneta ao batom, passando pelo cartão de crédito. Após uma compra com o cartão de crédito, e com a intenção de não parar a fila do caixa e de não se passar por chata, às vezes a mulher enfia o cartão na bolsa, em qualquer lugar… Chegando ao posto de gasolina, precisa de novo do cartão e febrilmente procura o cartão no fundo da bolsa.

Aqui ela perdeu uma oportunidade para exercitar a concentração; ela devia conscientemente investir toda sua concentração para enfiar seu cartão no lugar certo, para não perder tempo nem deixar a emoção de uma eventual perda ou um eventual roubo perturbar seu astral. Não é necessário focar numa imagem religiosa, basta investir a concentração nos gestos do cotidiano: desligar o ferro de passar, apagar as luzes do carro. Nada de deixar no automático.

Pensando só no dia-a-dia, concentrar a atenção se torna uma prática sensacional.

Um aumento de suas capacidades na vida cotidiana se torna desde já um passo no caminho da grandeza espiritual. O tamanho do passo? Não se pode dizer exatamente, mas que esse passo vai contribuir para a melhoria do nosso mundo, nem que seja no business, vai. Este é o primeiro tijolinho para construir um mundo melhor.

A ciência entrou no assunto “energia” ou “prana”, ou seja, no assunto da pura “metafísica”. O estudo da matéria leva ao transcendental. O que está por detrás das nossas percepções? Um mundo de pura energia!

A energia de nosso intelecto pode ser orientada, segundo nossa vontade, a partir do momento em que o consideramos como um instrumento a ser “domesticado”. Organizar o intelecto para nos servir e servir nossas aspirações profundas virou uma ciência chamada “A Estrada Real da União*” ou a ciência da coordenação.

No caminho da nossa própria evolução, graças aos sistemas de educação diversos, passamos a coordenar nossa natureza emocional, sentimental, a coordenar nossos desejos, nosso corpo físico e aprendemos a ser um ser humano. Essa coordenação de nossas diversas facetas é acelerada pela concentração, que se torna a etapa preliminarpara a meditação.

A meditação permitirá ao nosso ser profundo usar nossa mente para nos ajudar a manifestar quem nós somos.

Pré-requisitos para a meditação:

– Aceitar a hipótese da existência de nosso Ser profundo, Eu verdadeiro, alma, atman*, parte divina em nós, ou qualquer que seja a denominação que você dê. Aceitar a hipótese que essa “alma” pode nos ser revelada quando aprendemos a controlar os discursos automáticos da mente e a controlar o intelecto.

– Começar a coordenar os três níveis de nossa natureza fundamental: unindo o intelecto à emoção e ao corpo físico, num todo organizado. Isso só pode ser realizado graças ao treino da concentração.

– Perseverar para que a concentração se torne meditação, para que a orientação do Ser profundo seja percebida pelo intelecto. O intelecto, na primeira fase, controla o cérebro e a natureza emocional, isso se obtém através da concentração. Mais tarde a alma, o Eu profundo orientará o intelecto, isso é a meditação.

Comece já a organização de sua vida mental. Em qualquer lugar, a qualquer momento, podemos exercitar nossa possibilidade de concentração e ampliá-la para, gradativamente, guiar orientar nossos pensamentos segundo as linhas escolhidas, descartando conscientemente as vagações inúteis dos pensamentos, focando com uma persistência concentrada em direção à meta.

O yoga traçou essa estrada para nós desde os tempos remotos. Fala que a primeira condição para realizar sua própria natureza é controlar as “vagações da mente”… Isso necessita um certo treino… Comece já!

* “Do intelecto à intuição “- cap. X – Alice Bailey

* atman, em sânscrito, Self, Eu transcendental.