A marca do seu valor e o valor da sua marca

por Roberto Santos

A construção de uma marca de valor de uma empresa no mercado não se faz da noite para o dia; pelo menos não aquelas com perenidade que ultrapassa seus proprietários e gestores.

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Esta arquitetura tem seu paralelo no valor que conseguimos imprimir na marca pessoal que formamos como profissionais, e esta, parte dos valores que cultivamos como seres humanos em nossas vidas em todas suas esferas. Achar que se consegue desconectar os valores profissionais dos pessoais é uma ilusão que pode se provar amarga, como experimentou nosso mais recente senador cassado. Torres (senador Demóstenes Torres) acreditou que sua defesa altiva da Ética no Senado Federal lhe garantiria as transações lamacentas com cachoeiras e bando. Então proponho uma reflexão sobre Valor e Marca pessoais.

Valor pode assumir significados distintos, mas interconectados. No sentido econômico, valor é o preço atribuído a uma coisa, no filosófico: o caráter dos seres pelo qual são mais ou menos desejados ou estimados por uma pessoa ou grupo e na psicologia: valor é a apreciação subjetiva, que revela as preferências pessoais de cada pessoa, segundo suas tendências e influências sociais a que está submetida. Quando saímos do valor do mundo das coisas, o verdadeiro valor atribuído a uma pessoa tem muito a ver com seu caráter, suas motivações, interesses e preferências e como estes elementos influenciam seus comportamentos em suas interações sociais.

Neste sentido, costumo brincar que, infelizmente, todo ser humano tem seu preço e o de muita gente está em liquidação — principalmente aqueles políticos que a mídia ("malvada") execra por suas sucessivas corrupções. O valor monetário destas pessoas certamente se faz elevado, pelos bens acumulados às custas de negociatas escusas. Porém, no longo prazo, os valores que alicerçam o caráter delas mal sustentam um pau sujo de galinheiro.

Marca também é outro vocábulo que aponta para diversos significados em nossos dicionários. Pode ser o sinal impresso a fogo no gado para indicar seu proprietário ou a marca de uma tatuagem que muitas pessoas escolhem para se diferenciar, ou ainda, no mundo corporativonome, expressão, desenho ou símbolo, ou uma combinação desses elementos, que serve para identificar as mercadorias ou serviços de uma firma e os distingue dos produtos e serviços dos concorrentes.

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Uma marca, por si mesma, pode ter um valor gigantesco. Por exemplo, a marca da Coca-Cola, que em 2012, pela 13ª vez consecutiva foi avaliada como a mais valiosa, tem um valor calculado em 78 bilhões de dólares. Esta é a estimativa de quanto uma AMBEV teria que pagar só para usar a marca, caso sua proprietária quisesse vender. Ser uma empresa “top of mind” significa ser aquela empresa que lembramos quase que inconscientemente quando pensamos num produto. Exemplos famosos são a Brahma – sinônimo de cerveja e a Gillete, sinônimo de lâmina de barbear.

Profissionais, assim como empresas, buscam se destacar em seus campos como a referência “topo da mente” de seu público – seja um artista como Picasso, uma banda como Beatles, um jogador de futebol como Pelé. Estes profissionais conquistam esta posição de destaque, graças ao valor que é agregado à sua marca ao longo da vida.

Porém, o valor sustentável da nossa marca pessoal não é aquele que nós  mesmos atribuímos a ela, por mais propaganda que nosso dinheiro possa comprar, mas aquele revelado por nossas atitudes, valores, competências e ações cotidianas, cuja aceitação é confirmada por nosso público-alvo. Estas demonstrações consistentes de nossos princípios é que fazem com que as outras pessoas atribuam valor sustentável à nossa marca. É assim que se constrói uma reputação de sucesso… ou de fracasso.

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Segundo a Teoria Socioanalítica, nós humanos somos movidos por três necessidades básicas. Duas delas – de pertencer a grupos sociais e se destacar dentre seus membros, são visíveis em espécies anteriores à nossa, mas a terceira nos distingue. Somos a espécie que questiona sobre sua existência e busca um significado para ela.

Ao longo da vida, pelos valores que expressamos em nossas relações, temos a oportunidade de deixar uma marca na vida de outras pessoas e organizações, podemos deixar um legado que transcenda nossa existência e que dê significado a ela.

Sendo ótimos em habilidades técnicas e sociais, podemos ter muito sucesso na realização de duas daquelas motivações básicas – sermos aceitos pelas pessoas e nos destacarmos no meio delas — mas é quando nos destacamos pela consistência de nossos valores que conseguimos criar uma marca na terceira necessidade básica – aquela que nos torna humanos.

Portanto, quando queremos definir ou reforçar a marca de nossa organização ou nossa marca pessoal como profissionais, precisamos partir dos valores que queremos por detrás desta marca. E esta reflexão deve começar com nossa missão ou propósito de vida e valores pessoais – ou seja, o que almejamos na vida e quais são nossos balizadores. Ou, posto de outra forma, quais os custos que estamos dispostos a pagar para conseguirmos os benefícios sonhados e quais são os valores inegociáveis.

Revendo recentemente as crenças e valores de minha consultoria que completou 10 anos este ano, definimos integridade, confiança, responsabilidade e profissionalismo como os alicerces de nossas relações éticas com associados e clientes. Esta pequena lista poderia ser questionada — até que ponto estes não foram definidos por ser o que se espera que qualquer empresa escreva em sua apresentação? Pode ser verdade…

No entanto, é por meio de “testes ácidos” que vivemos em situações concretas que se define a marca de seu valor. A aplicação do profissionalismo com responsabilidade e integridade, de forma consistente, é que gera a confiança dos clientes. No dia a dia, significa se recusar a fazer um serviço, por mais projeção e retorno financeiro que possa trazer, pelo fato de não se acreditar nos resultados almejados pelo cliente com sua encomenda. No dia a dia, integridade significa não trair a confiança de confidentes e de se manter os combinados, mesmo sob circunstâncias adversas. No dia a dia, é reconhecer de forma transparente o erro assumido e cumprir os compromissos de entrega com qualidade, independentemente de prejuízos por mau planejamento financeiro ou logístico.

Quando queremos construir uma marca de valor, outros ingredientes também compõem a fórmula da credibilidade almejada – flexibilidade, orientação ao cliente, atmosfera positiva, diferencial competitivo e paixão pelo que se faz.

Flexibilidade

A postura flexível e pró-ativa na busca incessante de melhores soluções sob medida é chave para alavancar o sucesso do cliente.

Orientação ao cliente

O interesse autêntico em servir e exceder às expectativas dos clientes, partindo sempre do conhecimento e respeito profundos de suas necessidades e interesses únicos, almejando uma relação duradoura e de ganho mútuo.

Atmosfera positiva

O trabalho deve ser fonte de aprendizagem contínua e diversão, requerendo para tal, um espírito inquisitivo e pesquisador e um senso apurado de humor — fundamental em todas relações e estimulante da criatividade e do crescimento dos envolvidos no processo.

Competência como diferencial competitivo

As empresas são como organismos vivos que foram criados pelos seres humanos à sua imagem e semelhança. Livros foram escritos sobre empresas de sucesso — aquelas feitas para durar e se tornaram grandiosas. Cada uma delas, desenvolveu um diferencial competitivo, ou seja, uma capacidade de difícil cópia por suas concorrentes.

Igualmente, os indivíduos que almejam se tornarem imprescindíveis em seu mercado, precisam encontrar um diferencial competitivo, isto é, algo em que sejam bons demais e que poucos conseguem equiparar ou superar.

Paixão pelo que se faz

Conhecer e até dominar um assunto conta ponto, aplicar este conhecimento na prática, revelando uma habilidade para fazer algo, agrega mais pontos na conta, contudo, aquele brilho no olho de quem tem paixão pelo que faz, aquele espírito incansável de fazer sempre mais e melhor, aquela disposição para superar as altas expectativas do cliente, a “quilometragem extra” que rodamos sem nos ter sido pedida, isso tudo é o que desempata o jogo e dá a vitória. Chame-se brilho no olho, chame-se engajamento, paixão pelo que se faz é um ingrediente, em qualquer moeda.

Finalmente, a credibilidade ou confiança de nosso público se confirma quando somos convidados para um novo serviço, ou quando um profissional contratante em uma empresa, vai para outra, e busca pelos serviços antes conhecidos. Nada mais realizador para um prestador de serviços.

Profissionais de mercado que são chamados para várias oportunidades de emprego também contam com este fato como um indicador de que estão construindo uma marca de valor como talentos disputados em seus campos. Porém, aqui estes profissionais se deparam também com o desafio de preservar sua marca tanto com seus empregadores atuais quanto com seus pretendentes.

Do ponto de vista pessoal, também temos métricas informais, mas igualmente importantes, para avaliar como nossa marca é percebida por aqueles que fizeram e fazem parte de nossas vidas. A preservação de amizades sinceras de passagens por diferentes grupos ao longo da carreira é um destes indicadores – de que mais preservamos do que que queimamos pontes em nossas conexões. A reciprocidade de nossas demonstrações de amizade e a compreensão dos verdadeiros amigos quando ela não é frequente são outros bons indicadores de que nossa marca pessoal tem um valor sustentável.

Ao final do dia, a famosa regra de ouro: fazer ao outro o que gostaria que ele fizesse para você é o que traduz a marca do seu valor e o valor da sua marca na vida pessoal ou profissional. Pense sobre isso.