Ser mãe ou investir na carreira?

por Eliana Bussinger

As mulheres já estudam mais do que os homens, dizem as estatísticas. No Brasil, 56% dos estudantes universitários são mulheres. A meu ver essa tendência de maior formação intelectual da mulher está originando uma série de fenômenos nunca antes observados.

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Quatro deles são bem visíveis sob o ponto de vista financeiro.

1º) O primeiro é a inevitável saída tardia da casa dos pais. Estudantes precisam passar pelo suplício dos estágios, das monografias, das pós-graduações em busca do diferencial competitivo do mercado. A formação dos ativos intelectuais sobrepuja a formação dos ativos financeiros.

2º) O segundo fenômeno é a formação tardia da própria família. As pessoas estão demorando muito para se casar, ao menos em comparação com as gerações anteriores. Para ambos os sexos a formação e a carreira são opções que prevalecem em detrimento dos relacionamentos ou mesmo de um rol de muitas outras escolhas possíveis. As pessoas nunca se casaram tão tarde no Brasil. Em média, as mulheres estão se casando aos 27 anos e os homens com mais de 30.

3º) Isso nos conduz ao terceiro fenômeno. As mulheres acabam encurraladas na maior cilada dos tempos modernos. A sociedade mudou muito, mas a biologia não sabe disso. Então as mulheres são tristemente pressionadas a ter filhos porque o relógio biológico não para seu tique-taque. É uma decisão cada vez mais complicada e difícil. Depois dos 35 anos a necessidade de ser mãe sobrepõe-se ao real desejo de ter um filho. Não é incomum que muitas mulheres acabem engravidando sem ter avaliado conscientemente a sua situação: quem é o homem com quem terão filhos ou em que medida prefeririam manter seu status quo.

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Filhos sempre representam mudanças orçamentárias profundas, no presente e, principalmente, no futuro. Ainda que seja muito pertinente a busca pela independência financeira a verdade é que as mulheres lutam contra o tempo para se formar, fazer carreira e realizar o sonho de ter filhos antes que a biologia as impeça disso.

4º) E a quarta questão é – ou será – uma mudança na forma de se relacionar. As mulheres costumam ser muito exigentes na escolha de seus parceiros, todo mundo sabe disso. Essa escolha, que vulgarmente alguns atribuem a um certo materialismo, ao dizer que as mulheres escolhem seus parceiros pelo volume na carteira, em verdade remonta a épocas tão antigas quanto a das cavernas. O melhor reprodutor era aquele que tinha inteligência, energia e saúde para caçar e voltar vivo, enquanto a mulher ficava nas cavernas, grávida, ou cuidando dos filhos menores. Era o modelo do provedor que, aliás, até na geração passada era utilizado como o ideal nas escolhas dos parceiros.

Bem, para começar o homem não é mais o único provedor. Em um terço das famílias no Brasil ele sequer aparece nas estatísticas, dado que as mulheres estão sozinhas. Além disso, sendo eles apenas 44% dos universitários, em pouco tempo teremos um contingente de mulheres formadas que não encontrarão parceiros ideais para se relacionar. Isto é, sob o ponto de vista do modelo anterior. As mulheres certamente passarão a escolher seus parceiros sob outros ângulos, olhando para os lados e para baixo e não apenas para cima. Ser o melhor provedor da savana não será a principal qualidade a ser apreciada.

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É curioso examinar os tempos modernos e seus preciosos momentos de mudança. Sem dúvida, essas novas formas de agir, pensar e amar acabarão trazendo à tona as mais interessantes maneiras de administrar o dinheiro.