Trash information na saúde. Cuidado!

por Alex Botsaris

Existe uma verdadeira enxurrada de informações sobre saúde, para atender a demanda de curiosidades do cidadão do terceiro milênio, mas infelizmente a maioria é "trash information" (informação-lixo); não vale nada. Em busca de chamar a atenção dos leitores e dos internautas, alguns apelam para todo tipo de recurso, inclusive o de publicar textos sem confirmar a sua qualidade e veracidade. Existe muito interesse comercial, textos com foco mais voltado para produto e vendas do que qualidade de informação.

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Um exemplo disso ocorreu recentemente com um livro chamado "Medicina Alternativa de A a Z" (Editora Natureza). Contando com uma forte propaganda na televisão e na Internet, esse livro já vendeu mais de 500 mil exemplares. Apresentadores como Gugu Liberato e Hebe Camargo e até a dançarina Sheila Mello foram mobilizados para divulgar o livro. Milhares de consumidores desavisados foram estimulados a comprar um texto que não tem qualquer fundamento científico ou ético. Nele os portadores de câncer são estimulados a se tratar simplesmente com a ingestão de frutas, e diabéticos recebem a indicação de trocar insulina por suco de argila misturado com berinjela.

Já se foi o tempo em que as pessoas achavam que a saúde derivava da vontade divina e da sorte. O incrível avanço da ciência ocorrido nos últimos 50 anos, vem mostrando que saúde vem dos hábitos de vida e da atitude das pessoas, e que podemos conseguir bem-estar e aprimoramento com ações relativamente simples. Também aumentou muito a expectativa de vida e todos querem viver mais e melhor. Hoje em dia, com a Internet vivemos a revolução da informação, e o indivíduo tem cada vez mais acesso a ela. Levantamentos simples mostrarão como o tema saúde é central: uma busca com palavras-chave ligadas a esse tema levam a centenas de milhões de sites!

Várias sociedades médicas e científicas enviaram e-mails para os órgãos de imprensa protestando contra a promoção desse livro citado entre os mais vendidos. A revista Veja, por exemplo, publicou uma reportagem chamada "Uma Farsa de A a Z" onde conclui que até o nome do autor é falso.

Em meados da década de 80 uma reportagem do Fantástico abordou o uso do confrei, planta conhecida por seu papel cicatrizante. Um grupo de indivíduos resolveu propor o uso do chá para "ajudar na cicatrização interna" achando que, por analogia, o confrei iria cicatrizar as lesões de aterosclerose e prevenir problemas cardíacos. Como conseqüência muitas pessoas começaram a fazer uso diário desse chá. Na época não parecia nada demais, apenas mais um modismo. A questão é que essa planta é tóxica para o fígado, produzindo uma doença que obstrui os ramos da veia hepática, causa cirrose e depois câncer do fígado. Resultado: na década de 90 aconteceram muitos casos de cirrose e câncer de fígado pelo uso incorreto e continuado do confrei.

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De quem é a responsabilidade por essas pessoas que adoeceram? – eu pergunto. Esses e outros fatos confirmam por que falar de saúde exige muita noção de responsabilidade e ética. Hoje em dia um segundo desafio se impõe, o da atualização. Fatos e informações novas, que muitas vezes modificam os conceitos antigos, são produzidos todos os dias. Acompanhar constantemente o que é publicado, estar sempre estudando, checar as todas as fontes periodicamente é necessário para produzir uma informação atualizada e correta.

Por exemplo, no livro "Medicina Complementar: vantagens e questionamentos sobre as terapias não-convencionais" (Editora Nova Era), que lancei recentemente, em conjunto com a jornalista Telma Mekler, mesmo após uma revisão obsessivamente detalhista, descobrimos que algumas informações não estavam totalmente atualizadas. Ficou de fora o site da Associação Brasileira de Antiginástica Thérèse Bertherat (www.antiginastica.com). Ninguém é perfeito, mas se não podemos evitar de cometer falhas uma vez ou outra, ao menos somos muito rápidos e honestos em reconhecê-los e corrigi-los logo. Com esse espírito e buscando sempre a informação mais completa e honesta possível, é que pretendo preencher essas linhas, para que o meu leitor fique recompensado em deixar seus olhos caminhar por elas.