‘Morrer de desgosto’. Isso tem fundamento biológico?

por Joel Rennó Jr.

'Morrer de desgosto' não é uma expressão sem fundamento biológico. A depressão que surge pelo desaparecimento de um ente querido, quando chega a limites extremos, leva o corpo a se machucar sem avisar a consciência.

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Há estudos mostrando que 75% das pessoas adultas e sadias sofrem de algum tipo de dor ou de mal-estar num prazo (período) de uma semana. Isso quer dizer que em condições normais o ser humano costuma apresentar alguma queixa sobre si mesmo e isso não se constitui em nenhum transtorno psiquiátrico. Entretanto, devemos pensar num diagnóstico de somatização, apenas quando a pessoa que se queixa, acredita sofrer de um problema orgânico e busca diagnóstico e tratamento médico persistentemente.

As "ideias negras" atingem o hipotálamo, que estimula os fatores liberadores de cortisona. Este, por sua vez, pode diminuir nossas dores, porém, pode dilatar os vasos e destruir o sistema imunológico, abrindo as portas para úlcera, pneumonia, etc… Não seria exagero afirmar que um indivíduo pode desenvolver uma gastrite por ter um problema no serviço, mesmo levando-se em conta tantos outros fatores orgânicos, como hábitos alimentares e a presença da bactéria helicobacter pylori.

As doenças psicossomáticas são resultado de má adaptação e podem afetar qualquer órgão ou sistema do corpo humano. Já se sabe que algumas patologias têm altos componentes emocionais envolvidos, tais como: as úlceras de estômago, as crises hemorroidárias, a pressão alta, as inflamações intestinais, as alterações dermatológicas, as artrites, as alergias, os problemas da tireoide e os sexuais.

Tudo isso depende da intensidade do "estresse", da duração e da repetição. Dependerá ainda da bagagem hereditária, biológica, cultural e, finalmente, da sua maneira de lidar com o estresse ou canalizar sua angústia.

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Qualquer reação face a um choque emotivo para muitos, como a perda de um ente querido, uma crise conjugal, pode acarretar em um sistema imunológico falho e representar a porta de entrada para que a doença se instale.

Todas essas emoções são geradoras de doenças qualificadas de funcionais, como por exemplo: obstipação intestinal, enxaquecas e outros.

A baixa qualidade de vida pode trazer problemas com ou sem lesões orgânicas. A cada situação de estresse ou agressão física ou psíquica sofrida pelo meio, o corpo responde com reações químicas: elevação da frequência cardíaca, pressão arterial e alterações hormonais.

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Atualmente, a qualidade de vida das pessoas caiu muito. Todos passam por problemas conjugais, com filhos, com chefes, a vida econômica do país é preocupante, a violência cresce a cada segundo, e a procura por auxílio de psicólogos e psiquiatras aumenta, na medida em que as pessoas se sentem cada vez mais só com seus problemas.

A educação, a moral, a polidez e as convenções sociais acabam por muitas vezes obstruindo a cólera (ira, raiva). Muitas vezes deixamos de falar o que sentimos mantendo a fantasia (irreal) de estar poupando o outro. Tudo isso é muito natural e acontece com todos nós, porém, fica problemático quando esse padrão se trona crônico. Pois o que era tido como um mecanismo de defesa, se volta contra nós, iniciando um processo de autodestruição. É como acelerar um carro com os freios bloqueados.

Toda a carga afetiva acaba sendo colocada para fora, sob forma de somatização. Na busca por alívio, essa é a saída que a mente encontra.

Reprimir e explodir emoções traz consequências orgânicas indesejáveis

Gostaria de deixar claro que tanto o "reprimir" como o "explodir" de emoções são situações que podem trazer consequências orgânicas indesejáveis. A crença popular de que "devemos colocar tudo para fora", também pode trazer muitos prejuízos às pessoas, pois, o que realmente conta para a mente, são os mecanismos de elaboração para vivenciar as dores e as dificuldades que possuímos.

É necessário que tomemos consciência de nossas próprias histórias, da nossa compreensão de mundo, do que nos agrada ou não e descobrirmos quais os recursos estão guardados em nós para lidar com estas situações. É importante desenvolvermos um processo mental capaz de unir o pensamento e o afeto.

Atualmente tenho recebido um grande número de clientes em meu consultório, que precisam de um suporte afetivo e emocional para aliviar suas ansiedades.

Os atendimentos psicoterápicos têm sido de grande auxílio, pois através da informação, do entendimento, da disponibilidade e interpretação, é possível aliviar as ansiedades e angústias geradoras de doenças orgânicas. As medicações, quando bem indicadas e acompanhadas, são recursos complementares importantes.

Atenção!

Esse texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracterizam como sendo um atendimento.