Quando sua vida sexual se torna um problema

por Edson Toledo

Quem assistiu ao drama Shame (2011), do inglês Steve McQueen, que relata a história de Brandon, um homem que convive com a pornografia e masturbação diariamente nos intervalos do trabalho e em casa; até o momento em que sua irmã (interpretada por Carey Mulligan) vai morar em sua casa, fazendo com que ele interrompa esses hábitos.

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Isso leva o personagem interpretado por Michael Fassbender ao desespero e à loucura. Já na vida real, famosos como os atores Michael Douglas e David Duchovny, o cantor Latino e o jogador de golfe Tiger Woods já admitiram sofrer compulsão por sexo.

A manifestação da compulsão sexual geralmente ocorre por meio de comportamentos, como busca excessiva por novos parceiros sexuais, masturbação compulsiva, consumo exagerado de vídeos pronográficos, uso compulsivo da internet (sites ou chats de sexo virtual), imprimindo graves consequências negativas na vida do individuo, pois não só compromete a vida social e familiar, como também acarreta problemas ocupacionais, bem como à saúde, por exemplo, aumentando a chance de exposição a doenças sexualmente transmissíveis como o HIV.

Também são conhecidos como ninfomania (no caso da mulher) e satiríase (para os homens). O transtorno costuma surgir na juventude, atinge o auge na vida adulta e tende a ter os sintomas suavizados quando o indivíduo envelhece. Outro aspecto a considerar, é o de que os compulsivos não têm caráter violento e o transtorno não pode ser relacionado a casos de estupro e nem ao uso de substâncias.

Devido à complexidade do tema os dados acerca da compulsão sexual são muito limitados, incluindo o Brasil. Porém, um estudo desenvolvido na cidade de São Paulo com homens compulsivos sexuais revelou que aproximadamente 26% eram homossexuais, 17,5% eram bissexuais e 56% heterossexuais.

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O instigante estudo da "Vida Sexual do Brasileiro" realizado entre 2002 e 2003 pesquisou a variedade de práticas sexuais e respectivas frequências: bissexuais (4,2%), experiência homossexual ao menos uma vez (23,5%), sexo a três (38,7%), sexo grupal (29,3%), sexo com profissionais (61,2%), sexo sob a influencia de drogas (18,4%), comportamento sadomasoquista (24%), comportamento exibicionista (28,0%), penetração anal e vaginal desprotegidas (32,7%).

Na 10ª edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), o comportamento referente à compulsão é denominado impulso sexual excessivo. Nessa definição, consta que esse comportamento ocorre com homens e mulheres, podendo se manifestar como um problema por si só. Recentemente, foram considerados para inclusão no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) os critérios para transtorno hiperssexual, caracterizado por:

Fantasias, impulsos e comportamentos intensos e repetitivos presentes a pelo menos seis meses, bem como quatro dos seguintes subcritérios:

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1. O tempo despendido com esses comportamentos interfere nos objetivos não sexuais;
2. Engajamento em tais comportamentos em resposta à ansiedade, depressão, irritabilidade e tédio;
3. Engajamento repetido em tais comportamentos em resposta a fatores estressantes;
4. Fracasso ao tentar controlar tais comportamentos;
5. Engajamento nesses comportamentos, apesar do risco de prejuízo físico ou emocional para si e para o outro.

Tais fantasias, impulsos ou comportamentos sexuais não são decorrentes de efeito direto de uma substância.

Embora o transtorno hiperssexual não tenha sido incluído na versão final do DSM-5, os critérios diagnósticos acima mencionados têm sido utilizados nas pesquisas mais recentes.

A compulsão sexual é vista como um "distúrbio no metabolismo e neurotransmissores, segundo Carmita Abdo, psiquiatra e fundadora do Projeto Sexualidade (PROSEX) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, que provoca a desregulação da atividade sexual". Ela comparou as características da doença à dependência por drogas e álcool. "A estimativa é que de 2% a 6% da população mundial sofra compulsão sexual. A maioria ainda é homem, mas aparecem cada vez mais casos de mulheres", disse a psiquiatra.

A compulsão por sexo não tem cura, mas sim, controle. Os medicamentos preconizados são os antidepressivos inibidores seletivos da receptação da serotonina (ISRS) como a fluoxetina, sertralina e paroxetina e os estabilizadores do humor, como o topiramato, lamotriginam, ácido valproico e oxcarbazepina. Entre as práticas psicoterápicas, encontramos a psicodinâmica e a terapia cognitivo-comportamental.

Observa-se uma importante conscientização da população sobre quadros de compulsão sexual. Assim, muito mais pacientes buscam ajuda e tratamento adequado.

Por fim, enquanto escrevia este artigo e lendo as notícias do dia, vi que o ator Terry Crews gravou um vídeo em sua conta no Facebook, no qual desabafou sobre um vício que tornou sua vida em um verdadeiro inferno: a pornografia. Ele conta no vídeo que guardar isso para ele mesmo só permitiu que o problema aumentasse e que a internet foi uma das grandes culpadas. "Quando o dia vira noite e você continua assistindo, você provavelmente tem um problema. E o fácil acesso fez com que eu não tivesse limites. Isso afetou praticamente tudo em minha vida", explicou o ator.

Para saber mais consulte:

Psiquiatria, Saúde Mental e a Clínica da Impulsividade / ed. Hermano Tavares… [et al.], – Barueri, SP: Manole, 2015.
O Projeto Sexualidade possui dois sites:
Portal da Sexualidade – www.portaldasexualidade.com.br
Museu do Sexo – www.museudosexo.com.br